segunda-feira, 18 de junho de 2012

Prólogo e Capitulo 1 e Capitulo 2


Todos já ouviram falar dele ao menos uma vez. Poucos são os que o enfrentaram e sobreviveram pra contar história. Alguns dizem que ele é lindo como um anjo, outros que montado em seu cavalo negro parece o diabo em pessoa, sempre com o rosto coberto pelo capuz, sempre escondido nas sombras, perdido na escuridão. Porém todos concordam em uma coisa, ele é cruel e impiedoso com seus inimigos... Ele não sente pena, ele não tem misericórdia, é o soldado perfeito.
Quando ele fala todos se calam pra ouvir. Quando ele passa todos se escondem.
Ele é o cavaleiro das sombras.
                                                                
                                                              Fim do Crólogo

A Invasão.

Reino de Severac - Palácio da família Lovato

A jovem princesa olhava angustiada pela janela de seu quarto. Daquele ponto ela podia ver todo o palácio, e tinha uma visão privilegiada da batalha que ocorria lá em baixo. Havia fogo, confusão, pessoas gritando e homens pulando muros, chegando cada vez mais perto. Não era a primeira batalha ao qual ela assistia, Severac, o Reino de seu pai já havia sido atacado muitas outras vezes, mais aquela era de longe a mais sangrenta de todas as batalhas e estava claro que não acabaria bem. Ela gostaria de poder ajudar, fazer algo pra impedir aquele massacre, mais sua única opção era assistir e esperar que terminasse logo.
Ela estava perdida em pensamentos quando ouviu passos se aproximando e então alguém tentando abrir a porta. Assustada ela pegou o primeiro objeto que viu sobre a mesa e o segurou com força, pronta pra atacar quem quer que fosse se tentasse lhe fazer mal. Mais quando a porta se abriu o alivio foi imediato, era apenas Henrie, um criado do palácio, soldado de confiança de seu pai.
__Graças a Deus__ ela suspirou aliviada largando o objeto e indo até ele__ Henrie, onde esta o meu pai?
__Temos que ir princesa__ o rapaz disse sem se dar ao trabalho de responder.
__Ir a onde Henrie? O que esta havendo? Onde esta meu pai?__ ela insistiu preocupada.
__Ele esta lutando princesa, defendendo seu Reino junto com os outros__ o jovem explicou__ ele me mandou aqui pra que a levasse pra um lugar seguro, temos que ir depressa, já invadiram o palácio, não demorarão a chegar aqui. Precisa vir comigo.
Henrie lhe estendeu a mão e sem pensar duas vezes Demetria a segurou, então ele começou a guiá-la pra fora dali. O Rei de Severac só tinha lhe dado uma ordem, proteger a princesa com sua vida e era o que Henrie faria, ele sabia que não havia muitas chances de vencerem aquela batalha, mais o Rei nunca desistiria, ele lutaria até o fim, como o homem honrado que era.
Os dois correram pelos corredores do palácio, havia uma passagem secreta por onde Henrie levaria Demetria até um lugar seguro, só precisava encontrar o lugar certo. Demetria parou um instante, tirando os sapatos pra poder correr melhor, então continuaram, mas ao virar no corredor eles foram barrados por três homens.
__Henrie__ Demetria sussurrou assustada, enquanto os homens se aproximavam com suas espadas.
__Tudo bem princesa, eu lhe protegerei__ ele prometeu__ fique atrás de mim.
Demetria deu alguns passos pra trás, e Henrie avançou pra cima dos três homens... Ele era um ótimo espadachim, o melhor segundo seu pai, mais os soldados de Murdor também eram e estavam em maior número. Ele derrubou o primeiro homem com um golpe certeiro no peito e o segundo com um corte na garganta que o fez sangrar até a morte. O terceiro homem lhe acertou um soco no rosto e lhe fez um corte na perna antes que Henrie enterrasse a espada em seu coração.
__Henrie, você esta bem?__ Demetria perguntou preocupada.
__Temos que continuar correndo princesa__ ele disse ignorando a pergunta__ não temos tempo pra...
Ele parou de falar de repente, os olhos arregalados e uma expressão de dor preenchendo seu semblante... Demetria o olhou confusa, só entendeu o que havia acontecido quando Henrie despencou no chão sem vida, revelando bem atrás dele mais um cavaleiro, que o acertara por trás enquanto estava distraído... Demetria gritou horrorizada enquanto andava pra trás, se afastando dele.
__Venha cá princesa__ o homem disse sorrindo pra ela, a espada suja de sangue brilhando__ vamos conversar.
__Fique longe de mim__ ela ordenou.
Demetria se virou, dando as costas ao homem e começou a correr da mesma direção de onde viera antes, ela sabia onde ficava a passagem secreta e se conseguisse chegar até lá estaria segura, mais quando virou novamente no corredor esbarrou em outro homem e caiu sentada no chão. Era tarde pra correr, eles haviam invadido o palácio, estavam por todos os lados e eram muitos, ela era só uma mulher e não podia com eles.
__Indo a algum lugar princesa?__ o homem que matara Henrie perguntou sorrindo.
__Se afastem de mim__ ela gritou desesperada, se arrastando no chão, mais não tinha pra onde correr, estava cercada.
__O que fazemos com ela?__ o outro homem perguntou, seus olhos a analisando.
__Vamos levá-la ao nosso senhor, ele vai saber o que fazer__ respondeu com um sorriso que fez Demi ter calafrios.
Ela tentou fugir, mais os dois homens a seguraram cada um por um braço e começaram a arrastá-la. Demetria gritou, chorou desesperada, mais era em vão. Ela reconhecia o caminho por onde os homens a estavam levando, e teve ainda mais certeza quando eles pararam diante das enormes portas douradas que selavam a sala do trono de seu pai.
Havia dois homens de guarda na porta, mais não eram soldados de Severac ela sabia... As roupas escuras e os rostos sombrios eram obviamente de soldados de Murdor, eles tinham tomado até mesmo a sala de seu pai. Ela se perguntou onde ele estaria agora, só esperava que estivesse seguro. Os guardas abriram à porta e os dois homens continuaram a arrastando pra dentro do salão. Quando estavam lá dentro a soltaram de qualquer jeito no chão, fazendo-a cair ajoelhada atrás de um homem que estava em pé de frente pro trono de seu pai.
__Senhor__ um dos guardas chamou.
O homem se virou, mais Demetria não pode ver quem era, ele usava uma enorme capa preta que cobria suas roupas e estava com um capuz cobrindo seu rosto. Mais uma vez aqueles calafrios... Ela não sabia quem ele era, mais se tivesse que chutar diria que vestido daquele jeito parecia à própria morte.
__O que é isso?__ ele perguntou, a voz fria como gelo.
__Demetria__ um dos guardas disse, o tom de deboche que usara quando falara com ela tinha sumido, agora só havia respeito e talvez... Medo__ a princesa de Severac senhor, a encontramos no corredor, estava tentando fugir.
Ele ergueu a mão e abaixou o capuz que cobria seu rosto, mais mesmo assim não era possível saber quem ele era... Tinha um pano amarrado em volta do rosto como uma máscara, cobrindo o nariz e a boca, como bandidos usavam. Só era possível dizer que tinha a pele morena, os cabelos eram negros como a noite e os olhos azuis como o céu... Tão azuis que era possível se perder se olhasse por muito tempo, mais Demetria desviou os olhos incomodada, ela não gostara do que vira ali... Apenas frieza e amargura.
__O que fazemos com ela senhor?__ perguntou.
__Levantem-na__ ele ordenou.
Os dois guardas agarraram Demetria pelos braços e a puseram de pé num único movimento... Ela se encolheu quando o homem do capuz chegou mais perto, a analisando dos pés a cabeça. Desde os cabelos negros, que lhe caiam pelos ombros soltos, com algumas tranças, até o longo vestido azul, as jóias que usava e parou em seus olhos... Lindos olhos castanhos, vermelhos pelas lágrimas e assustados, temendo o futuro.
__Nosso Rei vai gostar de conhecê-la__ ele sussurrou__ vamos levá-la conosco e deixar que ele decida o que deve ser feito dela.
__Sim senhor__ eles concordaram.
__Não__ ela protestou tentando se soltar das mãos deles__ me larguem... O que fizeram com meu pai? Onde ele esta?
__Façam-na calar a boca__ ordenou irritado e lhe deu as costas__ onde ele esta?
Fez-se um silencio desconfortável enquanto os homens se entreolhavam nervosos, todos parecendo assustados.
__Eu fiz uma pergunta__ repetiu lentamente como se falasse com crianças__ onde ele esta?
__Tivemos um pequeno problema senhor__ um dos homens respondeu, claramente desconfortável__ ele conseguiu fugir.
__Como assim conseguiu fugir?__ questionou irritado__ ele estava preso, eu mesmo me certifiquei disso... Deixei você vigiando ele, como aquele velho conseguiu fugir?
__Ele enganou a mim e a meus homens... Não consegui segurá-lo a tempo senhor, sinto muito.
__O Rei Klaus ordenou que não o matássemos, ele disse que queria ver o Rei de Severac, queria que o levássemos até ele... O que devo dizer agora? Que um de meus homens o deixou escapar porque é um incompetente?
__Senhor, eu sinto muito__ ele gaguejou nervoso__ foi um acidente e...
__CALE A BOCA__ gritou exaltado erguendo a espada e apontando pro pescoço do rapaz que estremeceu.
Demetria que assistia a tudo entendeu que eles falavam de seu pai... O tinham capturado, mais ele fugira, será que estava bem?
__O que fizeram ao meu pai?__ ela voltou a perguntar__ e minha mãe... Porque estão fazendo isso?
__Pensei que tivesse mandado você calar a boca dela__ murmurou zangado.
Os dois homens seguraram Demetria com mais força e um deles tapou sua boca pra que ela parasse de falar.
__Você vai sair da minha frente agora e vai procurar aquele velho em todo lugar__ ordenou irritado__ e é bom que você o encontre ou não vai gostar do que vou fazer com você... Só volte aqui quando tiver o encontrado, e você tem até o amanhecer.
O homem concordou com um breve aceno de cabeça, os olhos fixos no chão.
__O que esta esperando? Vá logo__ gritou e só então ele e seus homens saíram do salão.
Ele se virou novamente e viu que seus homens ainda estavam ali segurando Demetria.
__Tirem essa mulher da minha frente__ ele ordenou__ prendam-na em algum lugar até a hora de irmos e é bom que não a deixem fugir também ou vão se arrepender profundamente... Vão, andem logo com isso.
Sem dizer uma palavra os guardas arrastaram Demetria pra fora do salão e a prenderam em um dos quartos pra esperar que seu senhor mandasse buscá-la. Demetria se sentou no chão e começou a chorar, estava com medo do que fariam com ela, com medo de que tivessem ferido seus pais. A imagem de Henrie sendo morto invadiu sua mente e ela teve medo que fosse esse o seu destino e de sua família... Era o fim do Reino de Severac, e ela não podia fazer nada pra impedir.

Aprisionada

As horas pareceram se arrastar enquanto Demetria esperava pelo amanhecer. Trancada naquele quarto ela ainda podia ouvir os sons da batalha lá fora, os gritos e todo o povo de Severac sendo subjugado, seu Reino estava acabado, seu pai desaparecido, só esperava que ele tivesse conseguido mesmo fugir e que não o encontrassem, pelo menos ele estaria seguro.
A princesa já estava se deixando levar pelo sono quando dois guardas entraram no quarto e sem dizer uma palavra a arrastaram pra fora. Ela chegou a pensar que a levariam de volta a sala do trono, mas ao invés disso a carregaram pra fora do castelo, sem muitos cuidados, o povo de Murdor era formado por bárbaros e assassinos, nenhum dele tinha educação ou um pingo de classe. Quando chegaram do lado de fora Demetria pode avaliar mais de perto a extensão dos estragos. Casas estavam destruídas, outras pegavam fogo, havia corpos de soldados e também de inocentes espalhados pelo chão, até mesmo crianças, aqueles porcos matavam qualquer coisa que se opusessem a eles, Demetria teve vontade de vomitar ao avistar tanto sangue mas se recusou a demonstrar sua fraqueza.
__Coloquem ela na carroça__ aquele homem estranho que mantinha o rosto coberto e parecia ser o comandante dos soldados ordenou e observou sem emoção naqueles olhos azuis enquanto arrastavam a princesa até uma carroça, onde haviam montado uma espécie de gaiola e a trancaram lá dentro__ talvez levá-la como brinde ao nosso Rei o impeça de matar todos vocês imprestáveis por terem deixado o velho comandante desse lugar fugir. Torçam pra que ele esteja de bom humor.
Apesar da situação Demetria sorriu ao ouvir que não tinha conseguido capturar seu pai.
__Meu pai vai caçar e matar cada um de vocês bárbaros__ ela murmurou enojada__ se tem amor a suas vidas, deveriam me soltar e fugir, pois ele virá atrás de vocês e não os perdoará se me matarem.
Os soldados riram das palavras da moça.
__Oh princesa, estamos mesmo contando com o fato de que seu pai virá atrás de você__ um dos soldados disse__ e ai quando ele aparecer, nós faremos o mesmo que fizemos com todo o resto desse seu povo esnobe, vamos arrancar a cabeça dele.
__Nunca vão conseguir matá-lo, ele virá me salvar.
__Chega dessa discussão inútil__ o comandante ordenou__ preparem os soldados pra partir e deixe o resto dos homens de guarda na cidade até segundas ordens, se alguém dessa cidade tentar fugir ou lutar, mate__ e então se virou pra Demetria__ e você princesa, fique bem quietinha e obedeça, pois é isso que acontece a quem desobedece ou desafia o Rei de Murdor.
Ela olhou pra onde ele apontava e conteve o pavor ao ver o corpo de um soldado pendurado na forca já sem vida, ela notara que era um dos soldados de Murdor, o mesmo que anunciara o sumiço de seu pai mais cedo. Lembrou-se das palavras daquele homem cruel mais cedo, e de como prometera punir o soldado se ele não trouxesse o Rei de volta. Se eles faziam isso com os próprios homens, o que não fariam com alguém como ela?
__O aviso está dado__ ele murmurou e então lhe deu as costas, montando em seu cavalo negro e assumindo a dianteira do grupo, gritando ordens para seus homens.
Quando a carroça começou a se mover e se afastar da cidade os olhos da princesa se encheram de lágrimas. O que seria feito dela agora? Estaria condenada a morte ou a algo pior? Será que seu pai estava mesmo vivo e apareceria para salvá-la? E seu noivo Alex, o que teria acontecido com ele na confusão? Eram tantas perguntas e ela estava tão assustada, mas não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar e rezar pra que tudo se resolvesse, sua família não a abandonaria, eles apareceriam para socorrê-la e ela ficaria bem, pelo menos era nisso que queria acreditar.
Fim do Capítulo

O Cavaleiro das Sombras.

Floresta Negra – Arredores de Winterfal

Enquanto era levada pelos soldados, aprisionada naquela carroça como um animal, Demetria tentava se manter acordada, tinha medo do que poderiam fazer a ela se fechasse os olhos, não podia se descuidar perto daqueles bárbaros. Estava dolorida por ficar confinada num espaço apertado por várias horas, mas tentava aproveitar o tempo pra pensar, talvez descobrir uma forma de fugir enquanto os homens estivessem distraídos. Com seus olhos atentos ela os observava discretamente, tentando descobrir algo que lhe ajudasse, qualquer coisa que lhe desse uma vantagem, ela não sabia lutar, nem era forte o suficiente pra tentar combater qualquer um daqueles homens, mas era concerteza muito mais inteligente que qualquer um deles, que só entendiam a linguagem da violência.
Concentrada, ela analisava cada um deles com calma. Dois soldados cavalgavam bem atrás da carroça pra vigiá-la de perto, o primeiro deles, devia ter por volta dos quarenta anos, tinha pele morena, uma barba grossa e olhos negros como a noite. Demetria já o percebera olhando pra ela com malícia e desejo várias vezes, podia imaginar as barbaridades que lhe passavam pela cabeça e tinha náuseas só de pensar. O segundo soldado, era um gorducho baixinho, que quando sorria mostrava uma fileira de dentes podres e tinha um olhar psicótico que dava arrepios na espinha. E havia mais uns dez soldados divididos na linha de frente e um pouco mais atrás, sempre atentos a qualquer perigo em volta, não seria uma tarefa fácil fugir de todos eles.
E o principal, o comandante deles, que ia à frente em seu cavalo negro, com o capuz e a máscara escondendo o rosto. Ele não falava muito, só abria a boca ocasionalmente pra dar algumas ordens, e sua voz deixava Demetria nervosa, e ela percebera que os outros soldados compartilhavam da mesma aflição, todos eles pareciam ter medo do comandante e um respeito muito grande, mas até do que era normal, a princesa se perguntava o porquê de toda aquela tensão, duvidava que fosse apenas pelo olhar frio.
__O que está olhando?__ o soldado moreno perguntou__ gostou de alguma coisa?
Demetria viu sua oportunidade de conhecer melhor o inimigo.
__Só estava me perguntando por que um soldado tão forte e corajoso como você aparenta ser, teria medo de alguém.
__Quem disse que tenho medo de alguém?__ ele questionou com seu ego ferido__ não tenho medo de nada.
__Bem, não é o que parece__ ela se fez de inocente__ então estou enganada e vocês soldados não tem medo de seu comandante?
Os dois homens se entreolharam e riram entendendo o que ela estava querendo insinuar.
__Desculpe se os ofendo, só não entendo como um homem jovem como ele poderia intimidar alguém experiente como vocês.
Mesmo sem ver o rosto do comandante da tropa, apenas os olhos, era claramente visível que ele era bem mais jovem do que a maioria dos soldados de Murdor, não devia passar dos vinte e poucos anos. Como um soldado tão jovem poderia impor tanto medo e respeito em homens bárbaros como àqueles, ela não conseguia entender, não parecia ser fingimento.
__Você não conhece o comandante garota__ o gorducho murmurou.
__Diga-me__ perguntou o moreno__ já ouviu falar do cavaleiro das sombras?
__Já ouvi muitas histórias__ ela respondeu sem entender o porquê da pergunta. Sua acompanhante costumava lhe falar sobre ele enquanto caminhavam pelos jardins do palácio Lovato, os pais contavam histórias sobre ele aos filhos pra assustar, Demetria sempre quis vê-lo, na verdade não acreditava que ele fosse real, mas as histórias eram instigantes.
__E o que as histórias lhe diziam princesa?
__Dizem que ele é o melhor soldado que já existiu, rápido e feroz, os inimigos morrem e nem sabem quem os atacou, dizem que ele não tem pena e nem misericórdia de ninguém, ele mata sem pensar duas vezes__ ela sussurrou sentindo estranhos arrepios na espinha__ ouvi dizer que ele é bonito como um anjo.
__Bem, é o consenso geral das mulheres__ o moreno forte resmungou.
__Ninguém que o enfrenta sobrevive pra contar história__ finalizou o gorducho__ todos tem medo dele.
__E o que essas histórias tem haver com o assunto?
__Não são apenas histórias garota, o cavaleiro das sombras realmente existe e é um soldado de Murdor, o braço direito do Rei Klaus. Concerteza já ouviu falar sobre as muitas vitórias de nosso reino, os lugares que conquistamos, como acha que chegamos tão longe? Temos ao nosso lado o melhor soldado que já existiu__ murmurou com profundo respeito__ ele é o nosso comandante.
Demi já tinha ouvido falar que o cavaleiro das sombras era um soldado de Murdor, mas tinha uma filosofia de vida que dizia que não acreditava em uma coisa se não pudesse ver com seus próprios olhos. Naquele momento ela olhou pra frente e fitou com atenção a figura no cavalo negro, coberto pela capa e pela máscara, os olhos frios como gelo e a postura superior que não parecia ter medo de nada, tinha uma aura obscura a sua volta, não precisava dizer nada pra que todos se calassem em sua presença.
Então era verdade. Ela tremeu involuntariamente percebendo que sua situação era pior do que imaginava.
__Está com medo princesa?__ o homem riu__ devia mesmo, se não se comportar ele cortará sua garganta sem pensar duas vezes.
__Eu não acho que ele seja o melhor soldado que já existiu__ o gorducho resmungou com despeito__ poderia acabar com ele se quisesse, mas o idiota tem a proteção do Rei e todos ficam com medo.
__É bom calar essa boca se não estiver a fim de perder a cabeça__ o outro o repreendeu__ você é um gorducho imprestável e não poderia com o nosso mestre mesmo que ele tivesse apenas uma das mãos. Devia ter mais respeito.
Era óbvio que com uma fama como a do cavaleiro das sombras muitos o invejavam e também tinham raiva. Incontáveis eram os soldados que já o tentaram derrubar e falharam, morrendo miseravelmente no processo. Muitos o recriminavam pelas costas com medo de enfrentá-lo cara a cara e se julgavam melhores que ele embora só quisessem chamar atenção, eles apenas falavam.
__Ele não é jovem demais?__ ela murmurou. Achava que alguém com a fama dele seria bem mais velho.
__Dizem por ai que ele matou a primeira pessoa quando tinha apenas dez anos__ o soldado disse com orgulho.
Demetria estava pronta para retrucar quando a caravana parou e ouviu a voz sombria do comandante.
__Vamos parar pra descansar um pouco, seguimos viagem em uma hora__ ele disse__ Gordon, alimente a princesa.
__Sim senhor__ o soldado concordou.
Os soldados desceram de seus cavalos e se espalharam pela pequena clareira pra descansar da viagem. Um deles, o tal gordon, eram um rapaz jovem e parecia assustado enquanto se aproximava da carroça com um pedaço de pão e um pouco de água pra oferecer a princesa. Demetria respirou fundo, aquela era sua oportunidade de liberdade, não queria esperar pra saber o que lhe aconteceria ao chegar ao Reino de Murdor e não queria se arriscar na presença do Cavaleiro das Sombras.
__Eu... Eu trouxe comida pra você__ ele gaguejou nervoso.
__Obrigada__ ela sorriu de lado e se aproximou o máximo que pode da porta da gaiola.
__Saia da garoto__ outro soldado resmungou irritado e o empurrou pra longe pegando a comida das mão dele__ seu moleque medroso. Anda princesa, pega logo pois não temos o dia todo.
Demi esticou o braço e pegou a comida através da grade, foi quando viu a chave da gaiola pendurada no pescoço do homem.
__Obrigada__ ela abriu seu melhor sorriso pra ele__ é um cavalheiro. Como posso agradecê-lo pela gentileza?
O homem sorriu com malícia e se aproximou ainda mais da gaiola. Aproveitando a distração Demetria arrancou o cordão do pescoço dele onde havia a chave e uma cruz penduradas, com rapidez ela enterrou a cruz na mão do homem com toda sua força e depois abriu à gaiola enquanto ele gritava de dor e saiu correndo. Os outros soldados estavam afastados e quando chegaram ela já tinha se embrenhado na mata, sumindo por entre as árvores.
__PEGUEM AQUELA VADIA__ ouviu alguém gritar.
Houve confusão e ela podia ouvir o barulho dos cascos dos cavalos e dos homens a perseguindo. Não sabia pra onde estava indo, só que precisava desaparecer dali, precisava voltar pra casa e encontrar seu pai. A jovem tropeçou no caminho, sujando o vestido de terra e arranhando as mãos ao usá-las pra se apoiar, mas logo se levantou e voltou a correr, visualizou uma ponte mais a frente ligando os abismos e disparou em sua direção, mas que pudesse alcançá-la deu de cara com um cavalo negro bloqueando seu caminho, ele relinchou nervoso e Demetria recuou um passo assustada, não havia cavaleiro montado no animal.
Demetria se virou pra correr em outra direção, mas quando o fez sentiu a ponta de uma espada em sua garganta e congelou.
__Indo a algum lugar princesa?__ seus olhos se arregalaram de pavor quando fitou a figura que segurava a espada. O comandante da tropa, o tal cavaleiro das sombras, ela não conseguia ver seu rosto, somente os olhos azuis brilhando através da escuridão, mas sentiu as pernas fraquejarem e teve vontade de gritar, o que não fez apenas porque qualquer movimento, por menor que fosse faria a espada deslizar e cortar sua garganta__ pensei que tivesse deixado claro o que acontece com quem desobedece ao Rei.
__Você não é o Rei__ ela sussurrou bem devagar, os olhos fixos no metal frio em seu pescoço.
Ele deu uma pequena risada__ você é corajosa princesa, mas isso de nada lhe serve. Só não corto sua garganta agora porque o Rei provavelmente vai querê-la viva, mas vou avisar que se tentar fugir outra vez nada me impede de quebrar alguma parte do seu corpo. Não gosto que me desafiem, muito menos que me atrapalhem.
__Não tenho medo de você cavaleiro das sombras__ ela murmurou, mas era obviamente mentira, o pavor estava estampado em seus olhos castanhos e ao se lembrar das histórias que ouviu sobre ele, imaginou que realmente não seria nenhum sacrifício pra ele matá-la, por isso o mais prudente era se manter calada ao invés de desafiá-lo, mas não pode se conter__ já ouvi histórias sobre você e não me impressiona nem um pouco.
__Você não me conhece princesa__ ele abaixou a espada e a embainhou novamente__ não pense que sabe algo sobre mim só porque ouviu histórias por ai. Elas não contam nem metade do que sou capaz.
Muito calmamente ele abaixou o capuz, revelando os cabelos negros ondulados e depois tirou a máscara, permitindo que Demetria finalmente visse seu rosto por completo. Não era mentira, ele realmente era lindo como um anjo, as histórias não faziam jus a sua beleza, Demetria não achava que já tivesse visto algum homem tão belo quanto ele e ao mesmo tempo tão cruel, seu olhar penetrante era assustador, era como se ele a fitasse e estivesse imaginando diferentes maneiras de lhe tomar a vida.
Ele se aproximou dela lentamente e Demetria foi incapaz de mover um músculo, completamente hipnotizada. Ele lhe agarrou o braço e com a mão livre puxou as rédeas do cavalo a arrastando de volta a sua prisão. Demetria foi por todo caminho calada, tropeçando nos próprios pés sem conseguir acompanhar a velocidade dele e nem tentou lutar, sabia que não teria sucesso e não queria arriscar ver o cavaleiro das sombras cumprir sua ameaça.
O soldado que ela machucara, estava fazendo um curativo na mão e se levantou quando a viu, um ódio fervente nos olhos.
__Eu vou matar essa vadia__ ele avançou em sua direção mas parou quando o comandante se pos em seu caminho.
__Ninguém toca nela__ murmurou.
__Mas essa vadia me...
__O problema não é meu se não é capaz de se defender de uma mulher indefesa__ e empurrou Demetria sem muito cuidado de volta a carroça, trancando a porta e pendurando a chave no pescoço__ estão avisados, ninguém toca nela ou vão se arrepender. Apenas o Rei decidirá o que deve ser feito dela, agora todos a postos, vamos seguir nosso caminho.
O homem lançou a Demetria um olhar assassino e ela sabia que aquele episódio não seria apagado, ela ainda se arrependeria por ter machucado aquele homem e o humilhado na frente dos companheiros. Estremeceu com o pensamento e se encolheu mais em sua gaiola, abraçando as próprias pernas e deixando que lágrimas lhe molhassem a face.

Sussurros da Meia Noite

A floresta negra não era um bom lugar para se estar à noite, mas mesmo avançando rapidamente a caravana foi obrigada a parar e montar acampamento na floresta quando anoiteceu. Os soldados fizeram uma fogueira e se ajeitaram em volta dela, bebendo e conversando, a carroça onde a princesa se encontrava estava um pouco mais afastada e um homem baixinho, porém feroz a vigiava com atenção. O cavaleiro das sombras tinha deixado bem claro o que aconteceria se deixassem à princesa escapar novamente e ninguém estava disposto a correr o risco.
Por volta da meia noite os solados caíram em sono profundo, cansados pela batalha em Severac e pela longa viagem. O vigia baixinho também estava morrendo de sono, mas fazia o possível pra se manter acordado, a troca de guarda seria dali em poucos minutos. Demetria não conseguia dormir, ficava olhando para as sombras assustada, com medo de que algo surgisse para atacá-la, tinha ouvido rumores nada agradáveis sobre aquela floresta. Mas a única figura que enxergava no escuro era o tal cavaleiro das sombras, ele era único totalmente alerta, e mesmo estando bastante distante da carroça, Demetria podia vê-lo observando o horizonte com atenção.
Demetria se encolheu com o frio, não tinham lhe dado mais comida como castigo por sua tentativa de fuga e ela estava fraca e faminta e tremendo de frio, coberta apenas pelo tecido frágil do vestido, agora todo sujo e um pouco rasgado pela queda que sofreu. Embora todos estivessem calados, ela pensava ouvir sussurros vindo do meio das árvores, barulhos perturbadores que lhe arrepiavam os cabelos. Diziam às histórias que eram os sussurros das pessoas que morreram naquela floresta, os espíritos que não seguiram em frente e durante a noite se lamentavam por sua infelicidade.
__Tem medo de fantasmas princesa?__ Demetria deu um pulo quando ouviu a voz tão próxima. Olhou em volta assustada e viu que o guarda baixinho que a vigiava tinha sumido e em seu lugar, assumindo o posto de guarda, se achava o soldado que ela golpeara mais cedo. Sua mão estava enfaixada, e dava pra ver o sangue que manchava a atadura, ela engoliu em seco.
__O que você quer?__ ela perguntou nervosa, se encolhendo o mais longe possível dele.
__Temos um assunto pendente__ ele se aproximou da porta e começou a destrancá-la, Demetria não fazia ideia de onde ele teria arrumado a chave, mas seu coração disparou no peito, ela olhou na direção onde vira o comandante antes, mas ele não estava mais a vista, se o brutamonte fizesse algo com ela ninguém poderia impedir__ graças a você fui humilhado na frente de meus companheiros e minha mão está machucada, minha mão de empunhar a espada... Vai ter que pagar por isso de algum jeito.
__Eu sinto muito, não era minha intenção machucá-lo__ ela tentou melhorar a situação.
__Tarde demais pra se lamentar.
Ele abriu a porta e se inclinou pra dentro pra puxá-la, Demetria tentou se esquivar, mas ele era forte demais e o espaço apertado, não havia pra onde fugir. Ele a agarrou pelos cabelos e a arrastou pra fora da carroça. A princesa abriu a boca pra gritar, mas ele a tampou com a mão livre__ não que gritar fosse ajudar em alguma coisa, duvidava que alguém ali fosse correr em seu socorro.
O homem a largou de qualquer jeito no chão e sentou-se sobre ela com um sorriso diabólico no rosto, amarrou um pano sujo em sua boca pra que ela não gritasse e atou as mãos juntas, depois a segurou com firmeza em baixo de seu corpo, não importava o quanto se debatesse, não podia se soltar.
__O comandante me proibiu de te matar ou machucar, mas não quer dizer que você não possa me compensar pela dor que causou mais cedo__ ele falava em sussurros, provavelmente pra que os outros não acordassem__ vamos ver o que você esconde embaixo desse vestido de seda, princesa.
Ele passou os lábios rudemente pelo pescoço dela, lambendo a pele com desejo, Demetria gemeu enojada e tentou empurrá-lo, mas era em vão, sentiu a mão dele adentrar seu vestido sem nenhum cuidado e acariciá-la entre as pernas. A jovem sem se dar por vencida se debateu com mais força e acertou-lhe um chute na costela, mas não foi de grande efeito, só fez o brutamonte ficar mais zangado e excitado com a situação. Não era a primeira princesa que estuprava e tinha prazer em ver o medo nos olhos delas.
Rasgou-lhe a parte de cima do vestido com um único movimento, deixando a mostra os seios fartos. Obrigou-a a abrir as pernas pra que se acomodasse melhor em cima dela e com a mão boa segurou-lhe um dos seios, acariciando com luxúria. Demetria chorou de desespero enquanto ele lhe beijava o corpo e fez de tudo que podia pra tentar pará-lo, mas o homem era forte demais.
Pelo canto dos olhos percebeu que mais três soldados haviam acordado e agora se juntaram pra assistir aquele ato desprezível, provavelmente esperando para serem os próximos a se divertir. A princesa já começava a perder as esperanças, estava praticamente nua quando de repente o homem gemeu e arregalou os olhos formando no rosto uma expressão de pura agonia. Ele cuspiu um pouco de sangue sobre a pele alva da mulher e um instante depois seu corpo caiu sem vida sobre o dela.
O cavaleiro das sombras puxou novamente sua espada, que usara pra apunhalar o covarde pelas costas e usou um pedaço da capa pra limpar o sangue da lâmina brilhante enquanto chutava o corpo inerte do soldado para o lado, para que saísse de cima da princesa, os outros soldados olhavam tudo assustados enquanto Demetria só conseguia chorar.
__Pensei que tinha deixado bem claro que ninguém deveria tocar na princesa__ ele sussurrou embainhando novamente a espada e se agachou pra desamarrar os punhos e a boca da jovem__ eu disse que o Rei deveria decidir o que seria feito dela. Ela é filha do Rei de Severac, um trunfo, não uma prostituta que serve pra vocês de divertirem. O próximo que tocar nela sem a minha permissão vai ter um destino muito pior do que uma espada enterrada nas costas, ficou claro?
__Sim senhor__ os três concordaram nervosos.
__Ótimo, se livrem do corpo desse covarde e sumam da minha vista antes que eu perca a paciência.
__Sim senhor.
Os três homens arrastaram o corpo do soldado pra longe e sumiram de vista. O comandante agarrou Demetria pelos braços que ainda chorava convulsivamente, e a obrigou a ficar de pé. Ela pos a mão sobre os seios defensivamente, se escondendo, o vestido estava caído, cobrindo apenas da cintura pra baixo.
__Pare de chorar__ ele ordenou__ o homem já está morto.
__Po-Porque estão fa-fazendo isso co-comigo?__ ela gaguejou, sufocando com as lágrimas__ eu não fiz nada pra nenhum de vocês, me deixe ir embora, por favor, eu só quero ir pra casa.
__Isto é uma guerra princesa, sinto muito mas ir pra casa não é uma opção, o Rei Klaus decidirá seu destino.
E sem demonstrar nenhuma emoção ele a trancou novamente dentro da carroça.
Fim do Capítulo


Fofis DESCULPA a demora  ! Bjos 

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