quarta-feira, 4 de abril de 2012

Chapter Nine e Chapter Ten


O caminho até a lanchonete foi... Desconfortável.
Demi queria ir dirigindo seu próprio carro, ela era perfeitamente capaz disso, mas suas tias a obrigaram a aceitar a carona de Walter, que se oferecera pra levar todas elas. Sarah se sentara na frente com Walter e Demi sentara no banco de trás com Olívia, e ela podia ver pelo retrovisor os olhares que Walter lhe lançava, e ela se sentia absolutamente nua sobre aquele olhar profundo e esmagador. Era óbvio que ele não gostava dela, ela já percebera pela forma que ele falava e que a olhava, mas algo estava diferente aquela noite, o olhar dele parecia quase de... Desejo, o que a fez sentir-se ainda pior por estar naquele carro, pelo menos não estava sozinha.
Demi agradeceu mentalmente quando finalmente chegaram à lanchonete e saiu apressada do carro, correndo em direção a Selena que estava esperando na porta com o namorado e um outro rapaz que ela ainda não conhecia.
__Oi Sel__ deu um abraço nela.
__Que bom que chegou__ ela sorriu contente__ acho que lembra do meu namorado Nicholas.
__Oh sim. É bom vê-lo de novo.
__E esse é o irmão dele Eric__ apontou para o outro rapaz. Ele era moreno, cabelos negros espetados, parecia que estava usando gel, e tinha lindos olhos cinzas brilhantes, ele abriu um sorriso encantador pra Demi.
__É um prazer__ deu um beijo na bochecha dela.
__Ele também é... __ sussurrou no ouvido de Selena.
__Bruxo? É sim__ ela concordou rindo__ hoje é a noite dos bruxos querida.
Eles entraram na lanchonete e sentaram-se em uma mesa grande que coubesse todos. Selena sentou-se ao lado do namorado. Walter no meio das duas tias e ela sentou-se ao lado de Eric. Teve a impressão de que estavam tentando fazer daquilo um encontro, e Demi até teria aproveitado, sendo que Eric era incrivelmente lindo e igual a ela, por assim dizer, mas as circunstancias e o momento não eram muito adequados. Ela não estava nem um pouco interessada naquele garoto, ela não conseguia tirar Joseph da cabeça.
__Então Demi, como está indo a nova vida como bruxa?__ Nicholas perguntou__ já está pirando?
__Na verdade ela está indo bem até demais__ Olívia comentou__ estou muito surpresa com ela.
__Eu sei que ta todo mundo esperando eu enlouquecer... Não vai acontecer__ ela tentou brincar dando um gole no refrigerante.
Houve algumas risadas, e depois que o garçom saiu, deixando na mesa um prato de batatas fritas, Nicholas olhou em volta pra ver se não tinha ninguém olhando e murmurou alguma coisa, e então à quantidade de batatas no prato dobrou. Ele sorriu colocando uma na boca e mastigando tranquilamente enquanto todos o encaravam.
__O que foi?__ disse de boca cheia__ as porções daqui são muito pequenas.
__Cuidado Nicholas, alguém pode ver você__ Sarah resmungou.
__Qual é, vocês não sabem se divertir__ Eric revirou os olhos.
Uma das garçonetes da lanchonete se aproximou de uma mesa pra anotar o pedido, a caneta estava presa no cabelo dela, quando foi pegar, Eric simplesmente fez com que ela flutuasse, fazendo a mulher procurar a caneta como maluca e dar um baita grito quando viu ela levitar sobre sua cabeça. Todos começaram a rir da cena, menos o mal encarado do Walter é claro. E Demi também teria aproveitado a brincadeira e a deliciosa pizza se ele não parasse de encará-la daquela forma? Será que ninguém estava vendo aquilo? Será que ela estava louca ou paranóica? Só sabia que estava começando a ficar enjoada de olhar praquele homem.
__Com licença um minuto__ Demi pediu se levantando da mesa.
Demi correu até o pátio que tinha nos fundos da lanchonete e parou ao lado da fonte que havia no meio, com algumas plantas em volta enfeitando, era um lugar bonito e tranquilo, sentiu-se aliviada por estar longe do olhar de Walter. Demi suspirou, querendo voltar logo pra casa, deitar na cama e dormir, ela se sentia cansada, afinal há tempos não tinha uma noite descente de sono.
__Fugiu com medo de nós?__ ela se assustou quando ouviu a voz de Eric atrás de si, mas logo se recompôs.
__Só precisava de um ar.
__Qual o problema?
__Eu não gosto daquele Walter.
Eric riu__ Ninguém gosta.
__Mas ele me olha de um jeito tão estranho__ estremeceu__ acho que não vai muito com a minha cara.
__Faz parte do pacote, ninguém gosta dele, ele não gosta de ninguém. Ele acha que é a policia do mundo dos bruxos, eu particularmente acho ele muito esquisito, mas não liga, não é nada pessoal.
__Bom saber que não é só comigo__ ela riu.
__Mas e ai? Aprontando muito com seus novos poderes?__ ele perguntou.
__Na verdade, eu ando só aprendendo a parte teórica, não fiz nenhum feitiço ainda.
__Fala sério__ ele revirou os olhos__ a prática é a melhor parte, não sabe o que está perdendo.
Ele arrancou uma folha de umas plantas que havia na fonte e a segurou na palma da mão. Havia algumas gotinhas de águas espalhadas pela superfície da folha e de repente elas foram se juntando até formar uma gota só, no formato de um coração. Demi sorriu, não conseguiu evitar, Eric era fofo. Ele abaixou a mão e a folha ficou ali flutuando entre os dois. A magia era mesmo incrível, pequenas coisas já a fascinavam de uma forma que ela não conseguia explicar.
__Isso é incrível__ ela disse sorrindo, erguendo a mão lentamente pra tocar na folha.
__Posso te ensinar como fazer se você quiser, vai ficar impressionada com tudo que podemos fazer Demi.
Ela abriu a boca pra responder, mas seus olhos vagaram até algo que estava atrás dele, bem lá no fundo do pátio... Na verdade, alguém que Demi conhecia. Nicole, ela estava lá parada observando e quando percebeu que a Demi a viu se virou pra ir embora.
__Nicole, espera__ Demi chamou passando por Eric e correndo atrás dela.
Quando virou em um corredor Nicole estava prestes a sumir na escuridão, mas Demi conseguiu pará-la.
__Nicole espera__ ela pediu e sorriu quando ela parou de correr, apenas há alguns passos dela__ porque roubou o diário? Porque o deu pra mim? O que estava querendo com isso?
Silencio, Nicole continuou de costas, só virou ligeiramente o rosto de lado, como se a espiasse por cima do ombro.
__Diga por que me deu aquele diário__ ela insistiu dando um passo a frente.
__Cuidado__ Nicole sussurrou.
Antes que Demi fizesse qualquer coisa, houve um barulho alto e algo despencou de cima do prédio ao lado, caindo bem na sua frente a alguns centímetros de distancia e se espatifando no chão, um pedaço da madeira se soltou e acertou o rosto dela, Demi caiu pra trás. Quando se recuperou da confusão Demi percebeu que Nicole havia desaparecido.
__Demi__ vozes surgiram do nada a chamando__ o que aconteceu?
Eric a ajudou a se levantar.
__Você está bem?__ Selena perguntou olhando espantada pros pedaços de madeira no chão.
__Estou bem, não me acertou, fou por pouco.
__Não acertou?__ Eric segurou o rosto dela delicadamente e o virou__ você está sangrando.
Tinha um pequeno corte na sua bochecha, e agora que Eric mencionara começara a arder e ela pode sentir o sangue escorrendo.
__Não foi nada__ ela tentou se afastar do toque dele.
__Me deixa cuidar disso pra você__ ele insistiu e não a deixou se soltar. Passou gentilmente o polegar por toda a extensão do corte, com toda calma e Demi sentiu uma leve ardência, mas depois, quando ele tirou o dedo parou. Demi ergueu a mão pra tocar o rosto e percebeu que o corte havia sumido__ porque saiu correndo daquele jeito? Quem é Nicole?
__Eu só pensei ter visto alguém, estava errada__ ela disse nervosa__ pode me levar pra casa por favor?
__Vou chamar minha mãe e tia Sarah__ Selena avisou.
__Não, não... Deixe elas, diga apenas que eu passei mal por conta da pizza, eu to bem, só quero descansar.
__Eu levo ela__ Eric se ofereceu.
__Tudo bem então__ Selena concordou, mas estava claramente desconfiada de alguma coisa.
Demi aceitou a carona de Eric, qualquer coisa era melhor do que ir de carro com Walter. O caminho de volta foi silencioso, Eric tentou puxar assunto, mas Demi estava com a cabeça longe, tinha acabado de perceber uma coisa que não pensara antes e sentira totalmente idiota. A mulher que lhe dera o diário se chamava Nicole, a mesma mulher que estava na lembrança de Joseph e por acaso tinha o mesmo nome da irmã dele, como era estúpida... Aquela mulher era Nicole Gilbert, a irmã mais nova de Joseph.
Mas como era possível depois de quatrocentos anos ela ainda parecer tão jovem? Será que bruxos viviam pra sempre? E se ela era da família original porque lhe dera o diário? Tecnicamente ela teria poder pra libertar os irmãos, se fosse essa a real intenção. Demi estava confusa, não conseguia entender o que estava havendo e sentia que a cada minuto se metia numa confusão maior do que tinha imaginado a principio.
__Tem certeza que fica bem sozinha?__ Eric perguntou preocupado.
__Tenho__ ela sorriu__ obrigada pela carona e desculpe... Por tudo.
__Sem problemas, agente se vê por ai Demi.
Ela esperou que ele fosse embora e depois subiu correndo pra seu quarto, trancando a porta, pegou o diário de Joseph e se jogou na cama, abrindo em uma página aleatória e começando a ler, só queria ver o rosto dele pra poder se acalmar.
Hoje foi o dia mais incrível da minha vida. Eu e Esmeralda tivemos a nossa primeira vez e foi tudo perfeito, o jeito como ela sorria pra mim, sua voz musical dizendo meu nome, dizendo que me amava, seu corpo delicado se moldando ao meu como se tivéssemos sido feitos um para o outro. Não consigo imaginar nada melhor do que isso.

18 de Setembro de 1611
Antes que Demi pudesse pensar em qualquer coisa estava de pé em um lindo campo. Joseph e Esmeralda caminhavam de mãos dadas, sorrindo um para o outro de forma apaixonada. Joseph pegou uma pedrinha do chão, fechou as mãos sobre ela e quando as abriu novamente havia uma linda rosa ali, ele a entregou pra Esmeralda que lhe deu um rápido beijo e continuaram caminhando até chegar em uma cabana abandonada, estava caindo aos pedaços.
__Que lugar é esse?__ Esmeralda perguntou se aproximando.
__Uma casinha na propriedade pros empregados, mas ninguém mora aqui há muito tempo__ ele explicou.
__Que pena que a deixaram assim__ ela comentou.
Joseph abriu um largo sorriso e tocou nas plantas mortas que envolviam a varanda da casa, e num passe de mágica elas voltaram a criar vida, uma por uma, foram se iluminando até estarem novamente perfeitas.
__Uau__ Esmeralda sorriu impressionada__ que incrível.
__Venha aqui__ Joseph a puxou pela mão até que estivesse na porta da casa.
Ele estendeu a mão e tocou na porta de madeira e começando daquele ponto, a parte de fora da casa começou a se restaurar bem diante de seus olhos. Primeiro a porta de madeira, desaparecendo as rachaduras e ficando perfeitamente branca, como se tivesse acabado de ser pintada. Depois as paredes, também se reconstruindo e sendo pintadas de um amarelo bem clarinho, então logo em seguida as janelas e o telhado até que a casa estivesse simplesmente perfeita pelo lado de fora. Então Joseph a guiou pra dentro, e Demi foi junto. A casa por dentro continuava destruída, tinha apenas um cômodo, e os móveis ainda estavam lá, destruídos e empoeirados.
__Espere um minuto__ Joseph sussurrou no ouvido dela e então tampou seus olhos com uma das mãos.
__O que vai fazer?__ Esmeralda perguntou rindo anciosa.
__Surpresa__ ele riu também__ só espere e verá.
Ele tocou na parede da casa e assim como do lado de fora tudo começou a se restituir sozinho. Demi acompanhou fascinada enquanto a casa ganhava cor, a poeira desaparecia e tudo parecia ganhar vida, desde a mesa e as cadeiras em um canto, até os armários, um pequeno sofá, a pia e também uma bela cama. Ela sorriu quando acabou, era um lugarzinho simples mas incrivelmente bonito. Joseph tirou a mão dos olhos de Esmeralda e Demi pode ver o brilho em seus olhos quando ela observou tudo aquilo, Demi podia ser uma bruxa, mas entendia como aquilo tudo parecia incrível pra um mortal, afinal ela já pensara que era uma.
__Que lindo Joseph__ ela se afastou dele, observando tudo em volta, parou perto da cama, passando a mão pelo lençol, os dedos passeando com cuidado, sentindo a textura.
Joseph a observou em silencio por um momento, deixando que ela apreciasse tudo do seu jeito, nada daquilo o impressionava mais, Demi sabia disso, tudo aquilo pra ele era normal. Mas depois ele caminhou lentamente até ela, segurou uma de suas mãos e com a outra acariciou seu rosto delicadamente, seu olhar de alguém que fitava a coisa mais importante que tinha no mundo, era agradável de ve,r embora Demi ficasse com um pouco de ciúme, um sentimento irracional é claro, já que ela não o conhecia e não tinha nenhum direito sobre ele.
__Eu já disse que te amo?__ ele perguntou baixinho.
__Não me lembro__ ela fingiu pensar no assunto__ se quiser dizer agora não me importo.
__Eu te amo__ sussurrou antes beijá-la, um beijo calmo e apaixonado.
__Está tentando me seduzir?__ ela brincou se afastando dele.
__Eu não sei, está funcionando?
__Talvez__ deu de ombros__ o que mais você pode fazer?
Joseph ficou um bom tempo apenas fitando o rosto dela, parecia pensar se devia ou não fazer alguma coisa, Demi observou quieta a cena e surpreendeu quando depois de um longo momento um dos botões da parte da frente do vestido de Esmeralda se abriu sozinho. Ela olhou pra baixo e depois pro rosto dele, que sorria de forma tímida, então o próximo botão se abriu, depois o terceiro, antes que ele pudesse abrir o próximo ela segurou o vestido com força, o sorriso dele se desfez.
__Desculpe__ ele ficou envergonhado__ eu não...
__Algumas coisas__ ela o interrompeu sorrindo__ devem ser feitas sem mágica.
Os olhos dele brilharam quando ela mesma abriu os botões restantes e deixou que a parte de cima do vestido caísse até a cintura, deixando seus seios a mostra. Ele se aproximou pra beijá-la, a segurando gentilmente contra seu corpo e a deitando na pequena cama, deixando que seu corpo descansasse sobre o dela. Logo sua camisa estava no chão e as mãos delicadas dela passeavam por seu peito. Demi desviou os olhos, aquela era uma lembrança que Joseph concerteza não queria compartilhar e ela não tinha nenhum direito de assistir, e também não queria é claro, era uma pena que ela não sabia como sair da lembrança sozinha.
Quando olhou pro lado Demi viu uma sombra na janela, ela abriu a porta, saindo de dentro da casinha e percebeu que não era a única observando a cena, tinha mais alguém ali... Era Robert. Ela se encolheu, que tipo de doente assistiria o irmão transar com a mulher que amava? Aquilo era ridículo.
Foi então que uma coisa que ela não esperava aconteceu. Robert desviou os olhos da janela e virou o rosto pra Demi, seus olhos a atravessando como fogo na escuridão, lhe causando arrepios.
__Você não devia estar aqui__ ele murmurou irritado.



Nesse momento Demi sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, tudo ficou escuro e ela sentiu quando seu corpo bateu no chão do quarto. Abriu os olhos completamente sem fôlego, suas costelas doíam com a pancada e também com a rapidez com que seu coração batia. Aquilo não fazia parte da lembrança, ela não podia interagir com uma lembrança, ele estava mesmo lá, ela tinha mesmo visto Robert, ela o tinha encontrado. Demi fechou o diário apressada e o jogou de lado, como se tivesse levado um choque, não esperava que aquilo fosse possível.
__Oh Deus__ ela respirou fundo tentando se recompor.
Esperava que aquele encontro não lhe causasse problemas, ao que parecia Robert não podia fazer nada contra ela, mas por algum motivo ela não queria que ele soubesse de sua existência, mas agora era tarde pra lamentar.
__Está tudo bem Demi, está tudo bem__ ela repetiu pra si mesma.
Não ia acontecer de novo, estava tudo bem, tudo ia dar certo.
Fim do Capítulo
Demi demorou a dormir aquela noite, e quando finalmente dormiu foi assolada por pesadelos.
Porém aquela noite o pesadelo foi diferente, não havia fogo, fumaça, dor, nada disso. Ela estava naquela casa da lembrança de Joseph, deitada na pequena cama enquanto o corpo dele pressionava o seu e seus lábios passeavam sem restrições. Porém quando ela abria os olhos ele estava lá em pé olhando... Robert, com seus olhos azuis frios e sem emoções.
__Você está cometendo um erro__ ele murmurou.
E foi quando ela acordou assustada, o coração batendo forte no peito, estava suada, como se tivesse corrido uma maratona. Não conseguia tirar Robert da cabeça, aquele olhar frio em sua direção, a voz arrepiante, ela tentava se convencer de que ele estava preso e não podia lhe fazer nenhum mal, mas continuava assustada. E se ela estivesse realmente cometendo um erro? Levantou da cama apressada e desceu as escadas em direção a cozinha, precisava de um copo de água, sua garganta estava seca. Quando ascendeu a luz tomou um baita susto, sua tia Olívia estava cozinha com a boca cheia de biscoito e as duas gritaram ao mesmo tempo com a surpresa, depois caíram juntas na gargalhada.
__O que está fazendo aqui?__ Olívia perguntou?
__Vim beber água__ Demi disse abrindo a geladeira e enchendo um copo__ e você?
__Eu estava com fome__ ela deu um meio sorriso limpando a boca suja de biscoito__ você está bem ?
Demi até podia estar sorrindo, mas era visível que ela não estava bem, algumas coisas não se pode simplesmente disfarçar com um sorriso, estão estampadas nos olhos. E naquele momento ela estava com medo e confusa, e também cheia de culpa, e não podia contar isso pra ninguém, não podia dividir com ninguém, e estava sentindo que ia sufocar a qualquer minuto.
__Só cansada__ mentiu com outro sorriso__ um copo de água e um banho e estarei novinha em folha.
__Sei que tem alguma coisa errada com você__ ela insistiu__ você não me engana.
__Acho que só estou me sentindo sozinha__ deu de ombros pousando o copo sobre a pia__, mas vai passar. Boa noite tia.
Antes que a tia pudesse perguntar o que havia de errado Demi voltou ao seu quarto e trancou a porta, depois pegou o diário de Joseph e se jogou na cama, ela precisava tirar algumas dúvidas com ele, só pra se sentir mais segura. Abriu na primeira página, molhou a caneta na tinta, respirou fundo e escreveu.
“Joseph, você por acaso não sabe o que aconteceu com a sua família não é?”


Provavelmente ele não tinha informações sobre o mundo aqui fora, achava que antes dela ninguém nunca tinha conversado com ele dessa forma, mas ela precisava perguntar assim mesmo, a história de Nicole estava lhe dando nos nervos, não conseguia entender porque ela lhe daria aquele diário de presente, simplesmente não fazia sentido.
“Não sei. Mas suponho que estejam todos mortos”.

Demi não sabia dizer o que, mas alguma coisa naquela resposta a incomodou, talvez a frieza como ele pareceu responder, Joseph tinha um jeito mais doce e educado de falar das coisas, pelo menos de coisas importantes pra ele. Mas devia ser impressão dela.
“Outra coisa. O seu irmão está preso ai dentro, igual a você.
Eu poderia conversar com ele, assim como faço com você?”.


Não que ela quisesse isso, muito pelo contrário, mas havia ficado preocupada depois que deu de cara com ele em uma lembrança, seu coração palpitava forte no peito só de lembrar. Ela procurava se acalmar lembrando do que Joseph dissera, dentro daquele diário eles não podia praticar bruxaria, não tinham poderes, então ele não podia lhe fazer mal, ela estava segura.
Ela achou estranho quando a resposta demorou a aparecer, começou a ficar inquieta.
“Eu sou o único que pode conversar com você”.


Era só isso que ele ia dizer? Tinha alguma coisa errada com Joseph, talvez ele não estivesse a fim de conversar com ela, talvez tivesse se cansado de suas perguntas e decidira que não ia lhe dar atenção pra que ela devolvesse o diário, ele já tinha deixado claro que queria que ela o devolvesse. Demi suspirou cansada, talvez fosse o melhor.
“Como você é?”

Demi encarou as palavras na página confusa, até que elas desaparecessem.

“Como assim?”

“Qual a sua aparência? Estou tentando imaginar como é seu rosto, mas não consigo”.


Ele estava curioso pra saber como ela era? Demi sorriu, embora soubesse que não havia nada de especial em si mesma, não era nada comparada com a incrível beleza de Esmeralda, com seus cabelo negros lisos e lindos olhos verdes. Demi se achava extremamente normal, não feia, mas também nada que chamasse muita atenção por ai. Era só uma beleza simples e discreta.
“Bem, eu sou bem normal. Pele clara, cabelos castanhos ondulados quase na cintura, olhos castanhos claros.
Magra, embora já tenha tido minha faze gordinha quando era pequena... Nada de extraordinário”.

“Parece uma mulher linda. Gostaria de poder conhecê-la pessoalmente”.


Oh ela também gostaria, mas que qualquer coisa ultimamente. Sorriu e sentiu-se como uma adolescente apaixonada quando leu aquelas palavras, que ela parecia linda, mesmo que ele estivesse apenas especulando, e era bom saber que ele também gostaria de conhecê-la, que ela não era a única a nutrir aquele estranho desejo toda vez que conversavam, talvez ela não estivesse completamente louca, talvez não fosse tão idiota quanto realmente parecia.
“Eu também gostaria que isso acontecesse, é uma pena que tenhamos nos conhecido dessa forma”.


Se ela tivesse nascido alguns séculos atrás, ou ele alguns séculos depois as coisas poderiam ser diferentes, mas infelizmente não eram.
“Talvez...”
Demi esperou que ele terminasse a frase, mas não o fez, aquela palavra ficou pairando no ar um momento... Talvez. Talvez o que?
“Talvez o que?”

“Nada importante, esqueça”.


Mas ela ficaria com aquele talvez na cabeça, talvez o que? Existia algum talvez naquela situação? Porque ela não conseguia enxergar onde. Como estava sem sono e provavelmente teria pesadelos ao fechar os olhos Demi não voltou a dormir, passou o resto da noite conversando com Joseph e ouvindo os passos de suas tias atrás da porta, provavelmente querendo conferir o que ela estava fazendo, mas elas nunca tentavam entrar no quarto, e nem conseguiriam de qualquer forma.
Nas duas semanas seguintes Demi esqueceu completamente de todas as suas preocupações. Ela conversava com Joseph todos os dias, durante várias horas e suspirava com as coisas bonitas que ele lhe dizia, tão educado e fofo, lhe fazendo muitas perguntas e respondendo outras mais que ela lhe fazia. Algumas vezes Demi sentia que havia algo de estranho nele, na forma como respondia certas coisas, mas estava cega, encantada por ele, por alguém que não conhecia realmente.
Mesmo com medo de ver Robert de novo ela continuava a explorar as memórias dele, descobrindo mais sobre sua vida e depois lhe fazendo perguntas sem que ele percebesse que na verdade ela já havia visto tudo aquilo. E foi numa tarde de sábado, sentada sobre a mesma árvore de todos os dias que ela leu palavras naquele diário que não esperava.
“E se eu te dissesse que há uma forma de me tirar daqui de dentro sem libertar meu irmão?”


O coração de Demi parou de bater um por um momento e quando as palavras sumiram, ela teve medo de ter lido aquilo errado.
“Você disse que não tem como libertar só um de vocês”.

“Eu menti”.

Se aquilo fosse uma espécie de brincadeira, Demi podia dizer concerteza que não tinha a menor graça. O que ela mais queria era que houvesse um jeito de tirá-lo de lá sem por ninguém me perigo, mas todos, inclusive o próprio Joseph já lhe garantiram antes que isso não era possível, então porque ele diria isso agora? Porque teria mentido antes? Se todo esse tempo havia uma força de ele sair, porque não o tinha feito antes? Não fazia sentido.
“Eu não entendo, se existe uma forma de você sair daí de dentro sem libertar seu irmão, porque nunca falou nada? Porque passou todo esse tempo trancado ai dentro? Não faz sentido”.

“Eu tenho meus motivos.
Você quer me ajudar Demi? Quer me salvar?”.


E ela sabia que não conseguiria resposta melhor do que aquela no momento, e também não estava assim tão interessada. O que importava naquele momento é que havia uma esperança, ela podia ajudá-lo, podia tirá-lo de dentro daquele diário... Ela seria sua salvadora, o pensamento a agradou. Ela poderia conhecê-lo pessoalmente,
“O que eu preciso fazer?”.


Naquele momento ela faria qualquer coisa para ajudá-lo a se libertar.
Fim do Capítulo 

Até sabado ou segunda fofis



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