domingo, 25 de março de 2012

Chapter Three e Chapter Four


Demi estava deitada em sua cama passando as músicas do seu ipod, já havia escutado todas pelo menos duas vezes e agora estava entediada. Sim, fazia uma semana do seu aniversário e ela já fizera de tudo que havia pra se fazer naquela bendita cidade, e agora não sobrara mais nada. Selena estava ocupada com os estudos e o namorado, suas tias lhe davam o máximo de atenção que podiam, mas elas não eram adolescentes e não sabiam se divertir, na verdade a cada dia que Demi passava ali as achava ainda mais estranhas.
Demi desligou o ipod irritada, ia dar mais uma volta por ai pra ver se tinha sorte de achar algo pra fazer, mas quando foi levantar da cama acabou tropeçando e pisando em alguma coisa que estava jogada no chão entre a cama e a mesinha de cabeceira. Olhando com atenção Demi viu que era uma caixa de presente, a caixa que aquela tal de Nicole havia lhe dado. Demi havia largado o presente de qualquer jeito no quarto aquele dia e deve ter ido parar embaixo da cama de modo que ela não pode ver e acabou se esquecendo completamente dele.
Demi pos a caixa sobre a escrivaninha e sentou na cadeira, desfez o laço curiosa pra saber o que tinha lá dentro, de repente seria algo que a ajudasse á passar o tempo, mas não tinha grandes esperanças, e com razão. Quando terminou de abrir a caixa encontrou dentro um livro... Não, não era um livro, ela percebeu, era um diário e nem parecia novo, tinha uma aparência um tanto desgastada e antiga, que tipo de presente era esse?
__Essa obsessão maluca dessas pessoas com diários__ Demi resmungou pegando o diário em suas mãos e o virando com cuidado pra analisá-lo melhor.
A capa parecia ser de couro, tinha alguns detalhes nas pontas que pareciam ser de ouro, mas provavelmente era falso, inclusive as letras no canto superior, deviam ser iniciais de alguém, e concerteza não eram as dela. JG estava escrito.
__Meu nome é com D, que droga de presente__ bufou o largando sobre a mesa.
Demi bateu um pouco o pé no chão, de braços cruzados e emburrada, até seus olhos pousarem novamente na caixa e ver que havia algo mais lá dentro, era uma pena negra. Demi a segurou entre os dedos, na verdade era uma daquelas canetas de pena, também antiga, porém bonita, ela parecia reluzir quando a luz batia nela. Junto também viera a tinta, aquela tal de Nicole era uma pessoa estranha.
Selena dissera que era como ter um amigo pra desabafar, talvez não fosse assim tão ruim, talvez fosse o que ela estava precisando ali, um amigo pra dividir aqueles segredos que ela não teria coragem de contar a ninguém. Demi abriu com cuidado o diário na primeira página, as folhas estavam levemente amareladas, nem pareciam feitas de papel, mas era como se a convidassem a escrever ali tudo que a atormentava. Ela mergulhou a ponta da caneta na tinta e encarou por um instante a folha pensando em como começar.
__Não é difícil, só escreva o que sente, você pode fazer isso__ ela murmurou pra si mesma.
Uma gota de tinta pingou na primeira página do diário, a tinta brilhou intensamente no papel por um segundo e em seguida, como se estivesse sendo chupada pela página, desapareceu. Demi encarou o diário confusa, virou a página algumas vezes tentando entender o que tinha acontecido, mas foi como se a tinta nunca tivesse tocado o papel, aquilo foi estranho. Demi tornou a molhar a pena e encarou novamente o papel... Escrever “Querido diário” parecia algo estúpido demais, então resolveu começar de forma diferente.
“Meu nome é Demetria”


As palavras brilharam momentaneamente na página e também desapareceram sem deixar vestígios, como se tivessem sido sugadas, Demi encarou o papel confusa, largando a pena sobre a mesa e então algo estranho aconteceu. Filtrando-se de volta a página, com a tinta de Demi, surgiram palavras que ela não escreveu.
“Olá Demetria! Meu nome é Joseph Gilbert. Como você encontrou o meu diário?”

Essas palavras também se dissolveram e foi como se nada nunca tivesse sido escrito, Demi se levantou da cadeira assustada, se afastando do diário, que espécie de brincadeira era aquela? Aquilo não era possível. Demi ficou encarando o diário sobre a mesa sem saber o que fazer... Joseph Gilbert, JG, meu diário. Ela se remexeu inquieta dividida entre a curiosidade e o susto que levara, talvez fosse só uma brincadeira, algum truque daquela tal de Nicole, mas ela precisava entrar no jogo pra descobrir. Demi sentou-se novamente na mesa, pegou a pena percebendo que sua mão tremia e escreveu.
“Eu o ganhei de presente. Quem é você?”


Demi esperou ansiosa por uma resposta, não acreditava que estava realmente “conversando” com o diário, não era isso que tinha imaginado quando Selena falou que o diário seria como um amigo. Aquilo era alguma espécie de tecnologia que ela não conhecia? Ou ela estava ficando louca? Já tinha visto coisas esquisitas na vida, mas aquilo era um pouco demais.
“Joseph Gilbert, um dos três filhos da Família Original.”


Família Original? Demi encarou as palavras até que elas desaparecessem novamente, ela devia estar surtando agora, mas ao invés disso tentou se lembrar de onde já tinha ouvido falar daquilo. Esquecendo por um momento que estava batendo um papo com um caderno velho ela voltou a escrever.

“Família Original? O que é isso?”


Demi percebera que até mesmo borrara a página ao escrever de tão nervosa e ansiosa que se encontrava.
“A Família Original, a primeira família de Bruxos do mundo”


Bruxos, ao ler aquilo à pena caíra novamente da sua mão. Demi empurrou o diário pra longe sentindo seu coração palpitar forte dentro do peito. Bruxos não existiam, essas coisas não eram reais e ela estava ficando completamente louca, era a única explicação, talvez fosse à falta de um sono descente nos últimos meses, sim era isso, ela estava vendo coisas por passar muito tempo sem dormir.
Largando o diário e as coisas sobre a mesa Demi correu pra fora do quarto e desceu as escadas apressada a procura das tias, ficar muito tempo sozinha naquela casa não era uma boa ideia. Demi ouviu vozes vindas da sala, ia chamar o nome das tias, mas ouviu uma voz desconhecida e percebeu que elas não estavam sozinhas. Demi se aproximou silenciosamente e se escondeu atrás do batente pra poder ouvir o que conversavam, a terceira pessoa na sala era um homem estranho, careca, devia ter volta de uns sessenta anos, os três pareciam um pouco nervosos, o assunto devia ser sério.
__Estão cometendo um erro ao esconder a verdade da garota__ o homem disse encarando a lareira que estava apagada__ ainda mais agora, em um momento de crise.
__Amélia não queria que ela soubesse, vou respeitar o desejo de minha irmã__ Olívia disse convicta.
__O que quer dizer com momento de crise?__ Sarah perguntou preocupada__ o que esta havendo?
__O diário desapareceu há cerca de uma semana. Foi roubado e não temos nenhuma evidencia de quem foi.
__Como deixaram algo assim acontecer?__ Sarah se alterou__ pensei que houvesse seguranças de olho, achei que estava enfeitiçado e que ninguém podia tocá-lo Walter, pode me explicar como isso é possível?
__Nenhum bruxo podia tocá-lo__ Demi quase pode sentir o coração lhe rasgando a pele quando ouviu ele pronunciar a palavra bruxo, seus olhos se arregalaram__ nenhum bruxo conhecido tinha poder pra desfazer aquelas proteções, era impossível.
__Então como explica isso?
__Uma bruxa desconhecida foi vista passeando pela cidade nos últimos dias, ninguém sabe quem é, ninguém a conhece e nem a viu depois do ocorrido, mas suspeitamos que possa ter sido ela.
__Não importa, mesmo que essa bruxa tenha roubado o diário ela não pode fazer nada, não pode libertá-los.
__Mas eu sei de alguém que poderia fazer__ ele lançou as duas um olhar sugestivo.
__Ela não sabe de nada__ Olívia tratou de deixar bem claro__ ela não poderia fazer nada disso.
__Ela é a ultima Gilbert de sangue puro viva, ela poderia fazer se quisesse.
A ultima Gilbert de sangue puro, ao que dava pra entender estava falando dela. Demi não tinha outros parentes além das tias e ela era a última descendente direta dos Gilbert, suas tias já haviam comentado isso durante a semana numa conversa que surgira durante o almoço sobre a arvore genealógica da família.
Mas aquilo não podia ser sério, devia ser algum tipo de brincadeira de mau gosto, bruxos... Isso não existia.
__O que você quer Walter? O que está insinuando afinal?
__Fiquem de olho na garota__ ele respondeu simplesmente__ enquanto não encontrarmos o diário de Joseph Gilbert sua sobrinha pode estar em perigo e pode ser um risco pra todos nós.
O homem estalou os dedos e a lareira se ascendeu magicamente, Demi tropeçou caindo sentada no chão com o impacto das ultimas palavras e a cena que presenciara. Ela não pode conter o grito e o barulho da queda, chamando a atenção das tias e do visitante.
__Demi, o que aconteceu?__ Olívia estendeu a mão pra ajudá-la a levantar.
__Eu estava passando... E tropecei__ ela gaguejou nervosa__ eu... Eu sinto muito.
__Tudo bem, tome mais cuidado querida, pode se machucar.
Demi encarou o homem a sua frente, que também não tirava os olhos do rosto dela, sua expressão não era nada amigável e encheu o coração dela de pavor, suas tias pareceram notar o momento de tensão.
__Demi, esse é um velho amigo da família__ Sarah apresentou__ Walter Jenkins.
__Oi__ ela sussurrou.
__Oi__ ele forçou um sorriso, não se dando muito trabalho de disfarçar seu desgosto em vê-la.
__Querida, está tudo bem? Você está tremendo__ Olívia perguntou preocupada com a expressão de pavor que Demi não conseguia esconder por mais que tentasse.
__Eu... Não me sinto muito bem, vou pro meu quarto.
Demi não esperou que dissessem nada, voltou correndo pra seu quarto fechando a porta atrás de si e se escorou na porta, deixando que seu corpo escorregasse até o chão. Respirou fundo tentando controlar os batimentos cardíacos e a falta de ar. Demi sempre soube que tinha algo de estranho em sua família, já presenciara cenas estranhas que não conseguia explicar, vira sua mãe e suas tias cheias de segredinhos, sempre sussurrando pelos cantos e tomando cuidado com o que falavam na frente dela, mas nunca pensara que era isso que elas escondiam.
Quando era pequena suas tias lhe contavam histórias sobre bruxos, lhe contavam aventuras incríveis que deixavam Demi fascinada e ela até mesmo comentara mais de uma vez que adoraria ser uma bruxa também, que seria magnífico ter super poderes, mas suas tias pararam com as histórias quando ela começou a crescer e entender melhor a vida, a pedido de sua mãe é claro, ela nunca entendeu o porquê, mas agora fazia sentido.
__Bruxos__ ela murmurou pra si mesma__ não era esse o tipo de emoção que eu procurava.
Mas enquanto pensava, aquilo respondia e explicava todas as coisas estranhas que ela presenciara durante todos esses anos, e o medo inicial foi sumindo e dando lugar a curiosidade. Demi se levantou do chão e se sentou de novo encarando as páginas em branco do diário sobre a escrivaninha. Depois de pensar por um longo tempo ela molhou a ponta da caneta na tinta e escreveu.
“Então, bruxos realmente existem?”


Ela já sabia a resposta era óbvio, mas ainda precisava que alguém lhe confirmasse, precisa ouvir, ou ver com todas as letras pra só então aceitar aquela loucura toda. Ela esperou impaciente por uma resposta, e com a demora começou a se perguntar se de repente não tinha imaginado tudo aquilo. Mas antes que ela tivesse tempo de ficar novamente nervosa, novas palavras surgiram na página.
“Sim, existem. Você não é uma bruxa?”

A pergunta a pegou um pouco de surpresa, o que ela deveria dizer? Ninguém havia lhe dito diretamente que ela era uma bruxa, mas tudo lhe dava a entender que sim. O pensamento era um pouco perturbador.
“Se eu sou, esqueceram de me contar.
O que faz nesse diário?”


Por um momento Demi teve a dúvida se estava conversando com um diário ou se havia uma pessoa realmente ali, ela não entendia de bruxos nem magia, mas estava sinceramente curiosa pra saber de tudo.
“É uma longa história, e não tem um final feliz. Você não vai querer saber.”


Mas ela queria saber, e agora estava disposta a qualquer coisa pra descobrir toda a verdade que suas tias e sua mãe lhe esconderam por tanto tempo. Demi ouviu passos se aproximando pelo corredor, fechou o diário rapidamente, e o jogou de qualquer jeito dentro da caixa junto com a tinta e a pena, e depois a escondeu atrás da escrivaninha. Um minuto depois sua tia Olívia abriu a porta sem bater e Demi forçou seu melhor sorriso, encarando a tia de olhos arregalados.
__Demi, está tudo bem com você?__ ela perguntou preocupada__ você parece assustada.
__Eu estou bem__ respondeu tentando parecer mais natural__ minha bunda ainda doía pelo tombo que levei, eu sou meio desastrada, não se preocupe.
__Tudo bem então__ sua tia parecia tão desconfortável ao sorrir quanto Demi estava, ambas sabiam que algo estava errado, mas nenhuma se atrevia a falar a verdade__ se precisar de alguma coisa é só chamar.
__Claro tia, obrigada.
Quando sua tia saiu do quarto, Demi pegou novamente a caixa e ficou encarando-a por um bom tempo. Não era o presente de dezoito anos que tinha esperado, mas aparentemente ela tinha encontrado algo pra se ocupar. Ela daria um jeito de arrancar a verdade das tias, de uma forma que não houvesse como elas mentirem novamente, ou ela não se chamava Demetria Gilbert.
Fim do Capítulo

Demi acordara decidida aquele dia, na verdade nem dormira muito bem, passara a maior parte da noite pensando com os olhos grudados naquele diário, tentando processar as loucuras que ouvira e vira, mas naquela dia ela tiraria a prova real, ela faria suas tias confessarem tudo. Ela tratou de esconder bem o diário pra que suas tias não vissem, se vestiu, e desceu para o café da manhã, as duas estava na cozinha conversando normalmente e sorriram quando ela apareceu.
__Bom dia tias__ ela se sentou à mesa com seu melhor sorriso.
__Bom dia princesa, dormiu bem?
__Sim__ mentiu tranquilamente enquanto pensava numa forma de desmascarar as tias.
A oportunidade que ela estava esperando veio um pouco mais tarde. Ela e suas tias estavam juntas na sala, Olívia estava em pé e olhava um enfeite de vidro muito bonito, de uma bailarina que ficava em cima da lareira, ela fazia muito isso, parecia adorar aquele enfeite. Demi se aproximou como quem não quer nada.
__É bonito__ elogiou.
__Ganhei do pai de Selena__ ela comentou sorrindo__ no nosso primeiro ano de namoro.
__E porque guardou?__ ela pareceu confusa.
__Me traz muito boas lembranças, apesar de tudo__ deu de ombros__ e é lindo.
Demi pensou por um minuto, mordeu o lábio indecisa então estendeu a mão pra pegar o enfeite.
__Posso ver mais de perto?__ ela perguntou.
__É muito delicado Demi, não acho que...
Tarde demais, antes que Olívia pudesse pará-la Demi esbarrou de propósito na bailarina de vidro e ela escorregou, caindo no chão antes que pudessem pegá-la e se espatifando em mil pedacinhos.
__Oh Deus, desculpe tia, desculpe__ ela pediu, fizera de propósito, mas realmente se sentia mal por aquilo.
__Minha bailarina__ Olívia disse de olhos arregalados.
__Eu sinto muito, foi sem querer, eu sou muito desastrada, desculpe, por favor__ Demi implorou.
__Tudo bem, ta tudo bem Demi__ tentou acalmá-la__ não tem problema, era só um enfeite bobo.
__Me sinto péssima, desculpe mesmo... Quer ajuda pra limpar?
__Não, eu cuido disso, fica tranquila.
__Ok, eu... Eu vou pro meu quarto.
Demi saiu da sala esperando que seu plano tivesse dado certo, ao invés de subir as escadas em direção ao se quarto, ela se escondeu novamente atrás do batente da porta e ficou olhando pra ver o que a tia faria.
__Oh__ ela gemeu inconformada__ eu adoro essa bailarina.
__Foi um acidente__ Sarah disse despreocupada.
__Ok, Demi não precisa ficar sabendo disso.
__Olívia, o que você...
Sarah não terminou sua frase. Olívia fez um gesto com as mãos e num passe de mágica os pedacinhos de vidro no chão começaram a se juntar sozinhos até que a bailarina estivesse novamente inteira, perfeita e sem nenhum arranhão, e de volta em cima da lareira.
__Você é louca__ Sarah resmungou__ se a Demi vir isso...
__EU SABIA__ Demi saiu de trás de porta e entrou na sala.
__Demi querida, agente pode explicar__ Sarah tentou se justificar.
__Vocês são bruxas?__ Demi perguntou sem rodeios chocando as duas mulheres.
__Parece que ela já sabe__ Olívia fez careta, mordendo o lábio com força.
__De onde tirou isso querida?__ Sarah tentou desmentir__ isso que você viu...
__Para de mentir pra mim, eu já sei de tudo... Ouvi a conversa de vocês com aquele velho esquisito, porque esconderam isso de mim? Acharam que não era importante eu saber que minhas tias são bruxas?
__Sua mãe não queria que você soubesse.
__Então é verdade__ ela fechou os olhos com força um momento__ eu sou uma bruxa também?
As duas mulheres se entreolharam sem saber o que dizer, não esperavam que aquilo acontecesse, pelo menos não daquela forma, se um dia Demi tivesse que descobrir seria numa conversa civilizada.
__Demi querida...
__Não mintam pra mim, eu quero saber, eu quero a verdade.
__É uma longa história.
__Eu tenho tempo__ ela cruzou os braços e as encarou deixando claro que não desistiria.
Bem, já que ela tinha mesmo descoberto, talvez fosse melhor desse jeito. Olívia e Sarah se sentaram no sofá e fizeram um gesto pedindo que Demi fizesse o mesmo, dezoito anos de mentiras descobertas assim em um segundo, elas sempre desconfiaram que esse momento chegaria, Demi era esperta demais e nunca concordaram plenamente com a ideia de Amélia lhe esconder a verdade.
__Demi, a nossa família é uma familia especial__ Sarah começou a falar, procurando as palavras certas__ a família Gilbert vem de uma longa e antiga linhagem de bruxos, nossa família é descendente da primeira família de bruxos que existiu no mundo. A família original, como costumamos chamar.
__Minha mãe e meu pai...
__Descendentes diretos da família original, os dois eram bruxos.
__E porque ninguém nunca me contou isso?__ ela questionou irritada.
__Sua mãe não queria que você fizesse parte desse mundo, ela sempre quis ser apenas normal e esperava que você pudesse ser também, ser um bruxo tem seus perigos querida, é muito complicado.
Demi parou pra considerar aquelas palavras um momento, nesse contexto as atitudes estranhas de sua mãe, seu jeito protetor e as todas as coisas inexplicáveis que ela presenciara faziam todo o sentido. Nunca, em um milhão de anos Demi imaginaria que era uma bruxa, até pensar naquela palavra era ridículo. Então seus pensamentos tomaram outra direção, pensou no diário escondido em seu quarto e nas coisas que ouvira Walter dizer ontem.
__Demi...
__Quem é Joseph Gilbert?__ Demi perguntou encarando a tia Sarah, ela parecia mais disposta a falar.
__Onde ouviu esse nome?__ ela ficou tensa por um momento.
__Walter, o homem que conversava com vocês ontem, falou o nome dele e algo sobre um diário__ enquanto ela não entendia o que estava havendo não havia necessidade de contar as tias que ela tinha o diário.
__Demi, é uma história longa e complicada.
__Eu já disse que tenho tempo e acho que sou perfeitamente capaz de entender... Anda, fala.
__Tudo bem__ Sarah concordou__ há uns quatrocentos anos atrás existia a família original, como eu já disse. A família era composta por três irmãos e suas esposas, naquela época só um deles teve filhos, três filhos pra ser mais precisa, Robert, Joseph e Nicole Gilbert. Eles eram muito poderosos e estavam sendo treinados, aprendendo a usar seus poderes pra se tornarem os mais poderosos do mundo.
__Quando tinha vinte anos, Joseph conheceu uma moça chamada Esmeralda__ Olívia continuou__ só que ela não era uma bruxa, era uma mortal, e havia apenas uma regra que devia ser seguida naquela época, era extremamente proibido contar sobre a existência dos bruxos a qualquer mortal, era pra proteção de todos, as pessoas não levavam isso na boa, elas tinham medo. Mas Joseph estava perdidamente apaixonado por Esmeralda e acabou contando seu segredo a ela.
__Ela o entregou?__ Demi supôs fascinada, começando a se envolver na história.
__Não, ela também o amava e o aceitou como era__ Sarah disse__ o problema foi outro. Joseph estava tão cego de amor que não percebeu que seu irmão mais velho Robert também era apaixonado por Esmeralda. Ele guardou isso pra si por um bom tempo, até mesmo acobertou os segredos do irmão, mas Robert era imprudente e ganancioso, ele queria sempre mais.
__Uma noite Robert convidou o irmão Joseph para cavalgar__ Olívia prosseguiu__ foi uma armadilha. Robert estava obcecado e queria tudo que o irmão tinha. Ele ia roubar os poderes de Joseph e depois matá-lo, assim ele poderia ficar Esmeralda, e quando não houvesse ninguém pra o impedir, ele roubaria os poderes de todos os bruxos existentes, assim ele seria o único e mais poderoso.
__E o que aconteceu?__ ela questionou inquieta.
__Joseph era esperto, ele carregava sempre consigo o seu diário, todo bruxo ganha o seu ao completar dezoito anos, é uma tradição, você coloca nele todas as suas memórias, e seus feitiços, é seu melhor amigo. Joseph fez um feitiço aquela noite, aprisionando a si mesmo e o irmão dentro de seu diário pra impedir que Robert completasse seu plano e destruísse o mundo da magia.
__Ele aprisionou a si mesmo no diário?__ ela disse chocada, então realmente havia uma pessoa ali, ela conversava realmente com Joseph Gilbert, não era um truque ou um feitiço idiota.
__Pra proteger a todos os outros, se não fosse por ele não estaríamos aqui hoje Demi__ Sarah explicou__ precisa entender uma coisa, o diário de Joseph Gilbert desapareceu, é isso que Walter veio nos contar ontem. Há quatrocentos anos esse diário é passado de mão em mão e é protegido, pra que não caia em mãos erradas, aquele diário é perigoso, se alguém libertar Robert, estaremos perdidos.
Roubado, então a mulher que lhe dera o diário o havia roubado? Porque ela faria algo assim?
__Não é possível libertar apenas um deles? Libertar apenas Joseph?
__Não, se você libertar Joseph você liberta também Robert e visse versa. Nenhum dos dois pode sair daquele diário, nunca, é estritamente perigoso e proibido. E já que estamos acabando com segredos, você precisa saber do perigo que corre Demi.
__Perigo? Eu?
__Entenda querida, você é a ultima Gilbert de sangue puro viva__ Olívia explicou calmamente__ você é filha de dois Gilberts, não tem sangue mortal, nem de alguma outra família de bruxos, tem sangue puro, como chamamos, e um bruxo de sangue puro, descendente de um Gilbert é muito poderoso, mais que qualquer outro. O diário foi roubado, mas só alguém como você poderia libertá-los.
__Por isso estamos preocupados, se alguém estranho te procurar, se você tiver noticias ou souber qualquer coisa desse diário você precisa nos avisar imediatamente está entendendo?
Demi congelou por um segundo enquanto absorvia tudo aquilo, ao que deu pra entender aquela mulher roubara o diário e lhe dera na esperança de que ela libertasse os dois bruxos presos lá dentro. Talvez aquela mulher voltasse, talvez resolvesse ameaçá-la ou algo assim, Demi sabia que deveria naquele momento contar as tias que estava com o diário, mas não conseguiu. Ela não queria entregar o diário, não queria o devolver, queria pegá-lo e conversar um pouco mais com Joseph, descobrir mais coisas sobre ele, estava dividida entre a preocupação e a curiosidade.
__Você entendeu Demi?__ Sarah insistiu, olhando pra Demi de um jeito estranho.
__Se você souber alguma coisa sobre esse diário__ Olívia disse séria__ você precisa nos contar imediatamente.
__Não sei de nada__ mentiu já se sentindo culpada.
__Demi...
__Eu entendo ta bom?__ ela se levantou irritada__ eu entendi tudo, mas não sei de nada. Eu... Eu preciso ficar sozinha pra entender toda esse loucura está bem? Eu só preciso de um tempo.
Demi saiu correndo dali antes que suas tias tivessem tempo de dizer mais alguma coisa, ou perceber que ela tinha algo a esconder. Correu direto pro seu quarto e trancou a porta, indo se jogar na cama, estava surpresa consigo mesmo ao perceber que não estava com medo de toda aquela loucura de bruxaria, só se encontrava ansiosa e extremamente curiosa pra saber ainda mais. Ela queria saber mais sobre o bruxo preso dentro daquele diário que por obra do destino tinha ido parar em suas mãos.
Demi pegou o diário em seu esconderijo e o abriu sobre a cama, segurando a caneta de pena entre os dedos, demorou um longo minuto até que ela resolvesse escrever. Talvez Joseph respondesse as perguntas que ela tinha e não podia fazer as tias, não custava tentar.
“Minhas tias me contaram sua longa história, é bem impressionante, e ao que parece eu sou uma bruxa”.


Demi esperou impaciente enquanto as palavras que ela escrever desapareciam, sugadas pelo papel e outras apareciam no lugar, mas ela sorriu quando sua resposta chegou, mas empolgada com a situação do que deveria.

“Eu te disse que minha história não tinha um final feliz”.


Ser traído pelo próprio irmão não deveria ser algo fácil de conviver, ainda mais com as consequências dessa traição. Demi se sentia um pouco traída naquele momento, afinal toda sua vida fora uma grande mentira, todos em quem ela confiava lhe enganaram, lhe esconderam sua verdadeira natureza.
“Deve odiar o seu irmão pelo que ele lhe fez, nem imagino como deve ser tamanha traição”.


Demi no fundo esperava que ele dissesse que odiava o irmão e que nunca o perdoaria, estava à procura de um bom motivo pra sentir raiva das mentiras que lhe contaram, mas o engraçado era que quanto mais ela tentava sentir raiva, menos conseguia se importar. Ela acabara de descobrir algo magnífico, algo com o que sonhou tantas vezes quando era menina, descobriu uma nova razão pra seguir em frente, algo em que manter o foco pra não ter que apenas sentar e se lamentar por suas tragédias.
“Não o odeio. É verdade que talvez nunca o perdoe pelo que fez, mas ainda assim é meu irmão. Robert estava perdido, confuso, é fácil deixar que o poder cegue você”.
“Está preso ai dentro há anos por culpa dele. Não tem vontade de sair? De viver?
Ao que pude entender, ele é o único que te impede de ser liberto”.

“Já me conformei com a ideia de que nunca sairei daqui, isso já não me incomoda há um bom tempo”.


Mas incomodava Demi, ela gostaria de poder vê-lo, não conseguia conter a estranha curiosidade sobre aquele bruxo que crescia dentro de si. Não imaginava como seria uma pessoa capaz de sacrificar sua vida e tudo que tinha pra salvar um monte de pessoas que nem ao menos conhecia.
Antes que ela pudesse pensar em algo pra dizer novas palavras surgiram na página em branco.
“Porque nunca lhe contaram que você era uma bruxa?”

“Minha mãe era super protetora, queria que eu estivesse segura e que fosse normal”.
“Você não me parece incomodada nem assustada por saber que é uma bruxa. Já conheci outras pessoas que também não sabiam de sua verdadeira natureza e que quando descobriram quase enlouqueceram. As pessoas têm medo daquilo que não conhecem nem podem explicar”.

“Eu nunca fui uma garota muito normal apesar dos esforços de minha mãe. Eu não estou com medo, apenas curiosa, eu quero saber mais sobre esse mundo, quero saber mais sobre você”.

“Diga o que quer saber, eu responderei se puder”.


Demi sorriu, no fim das contas parecia que ela tinha arrumado um amigo. Ela sabia que suas tias não lhe contariam tudo que ela desejava saber, só o que achavam que era necessário, ela podia ver nos olhos delas. Então ela daria o seu jeito de aprender tudo sozinha, e tomaria cuidado pra que ninguém descobrisse que ela estava com aquele diário. Aquele seria o seu segredo.
Fim do Capítulo 
 
No mínimo 2 comentarios para o proximo capitulo  J

6 comentários:

  1. Nossa que história perfeita, vei
    Afs,
    Eu quero o dom de quem escreveu isso pra mim ... !
    Posta o próximo, por favooor !!
    :)

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  2. POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA.

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