quarta-feira, 21 de março de 2012

Chapter One

Inglaterra – 14 de Agosto de 2012
A Jovem estava parada perto da porta do carro olhando pra seu mais novo lar, uma pequena fazenda localizada em uma pequena cidade no meio do nada. Teve vontade de voltar correndo pro carro e ir pra casa, mas então se lembrou de que não tinha mais uma, ela havia queimado completamente junto com sua mãe e o resto da sua vida e agora só o que ela tinha era as duas tias que a ofereceram um abrigo. Demi adorava as tias, eram pessoas amorosas e divertidas embora um pouco esquisitas às vezes, mas nunca se imaginara morando com elas, nunca pensara que perderia sua mãe tão cedo e que sua vida deixaria de fazer sentido de uma hora pra outra.
__Demi querida, que bom que chegou__ suas duas tias sorriram enquanto caminhavam até ela de braços abertos.
__Oi tia Sarah, oi tia Olívia__ Demi sorriu e deu um abraço nas duas, fazia tempo que não se viam, anos e mesmo assim elas pareciam exatamente iguais, como se não envelhecem nem um dia__ obrigada por me receberem.
__Não há o que agradecer querida, você é da família e é sempre bem vinda__ Olívia disse e segurou a mão dela, lhe puxando em direção a casa.
__Espere tia, as malas__ Demi tentou se soltar pra ajudar a carregá-las, mas sua tia não deixou.
__Sarah se encarrega disso, não se preocupe... Venha comigo, vou te mostrar o seu novo quarto.
Demi se deixou ser levada enquanto ouvia a tia falar sobre o quanto estava feliz pela presença dela ali, e quando entraram na casa Demi percebeu que nada havia mudado, suas tias ainda tinham um gosto excêntrico e decoravam a casa com objetos estranhos que ela nunca vira na vida, quando era pequena Demi tinha medo de ficar naquela casa sozinha, e podia jurar ouvir coisas a noite e ver coisas que não sabia explicar, suas tias sempre disseram que era coisa da sua cabeça, mas a sensação estranha que ela sentia ali nunca passara.
__Esse lugar continua igual__ comentou tentando não parecer decepcionada.
Demi se virou na intenção de ajudar sua tia Sarah com as três malas que ela trouxera de casa, todas coisas novas que ela tivera de comprar devido ao incêndio na sua casa, mas quando olhou pra porta sua tia já estava ali com as três malas aos seus pés, como se não tivesse feito nenhum esforço pra carregá-las.
__A senhora é rápida__ comentou.
__Pois é, vamos ver seu quarto__ ela forçou um sorriso e começou a caminhar em direção ao corredor.
Aquela casa era enorme e continha muitos quartos de hospedes, mas Demi tinha um quarto especial quando vinha dormir ali, era o antigo quarto de sua mãe, quando ela era pequena, nunca mudaram nada nele, não tiraram nenhum objeto, tudo ficava como ela deixou. Quando sua tia Sarah abriu a porta teve medo de entrar, pois tudo ali a lembraria, mas pensou que também seria bom, de certa forma sua mãe estaria ali perto lhe protegendo.
__Está do jeito que sua mãe deixou__ Sarah informou__ não mudamos nada.
__Obrigada__ Demi agradeceu de novo__ eu estaria perdida sem vocês.
__Você é como uma filha pra nós Demi__ Olívia disse__ pode contar com agente sempre que precisar.
__Você quer ajuda pra se instalar ou prefere ficar sozinha?__ Sarah perguntou.
__Eu posso me virar sozinha, mas obrigada__ ela sorriu agradecida.
Suas tias saíram de perto pra lhe dar espaço, era uma coisa que Demi sempre gostara nelas, as duas não ficavam em cima o tempo todo te sufocando como sua mãe costumava fazer, às vezes era irritante. Demi nunca entendera a super proteção da mãe, mas não a culpava por nada disso, na verdade, agora daria qualquer coisa pra que ela estivesse pegando no seu pé e lhe enchendo de perguntas, sempre querendo conversar.
Sem muita pressa Demi começou a esvaziar suas malas, arrumando as roupas no closet. Nada daquilo nas malas era realmente dela, nada que a trouxesse lembranças ou conforto, eram apenas coisas que ela ganhara depois do incidente e coisas que ela precisava possuir, que teve de comprar.
A única lembrança que sobrara, que realmente importava era uma foto sua com a mãe, que ela levava consigo no seu carro e por isso não sofrera danos, o resto todo virou cinzas. Fotos de família, objetos pessoais, documentos, a sua vida toda pegou fogo numa noite e se acabou em instantes, e se ela não estivesse na casa da amiga àquela noite teria morrido também, às vezes ela desejava que tivesse acontecido. Um mês era muito pouco tempo pra se acostumar com a tragédia, ainda doía como levar uma facada no peito a todo segundo, mas ela tentava parecer forte e não desabar toda vez que alguém lhe perguntava se ela estava bem. Era uma pergunta idiota, era óbvio que ela não estava bem.
Quando terminou de arrumar suas roupas Demi pôs suas jóias a caixinha de jóias que a mãe mantinha naquele e tanto adorava. Na verdade era só um cordão e um anel, mas eram importantes, o anel fora presente de sua mãe no seu aniversário de dezessete anos, e o cordão era uma lembrança do seu pai, o pai que ela nunca conheceu e do qual sua mãe nunca, absolutamente nunca falava. Não importava o quanto Demi questionasse, sua mãe só lhe dissera que ele morrera quando ela era pequena, mas nada de detalhes, nada em que ela pudesse se agarrar e depois de um tempo ela desistiu de perguntar, toda vez que sentia falta de ter um pai ela segurava o cordão com força e imaginava que ele estava ali, e tudo parecia bem. Demi também encontrou uma foto de sua mãe quando era pequena em um porta retrato sob a mesa de cabeceira, se sentou na cama e ficou olhando a foto por horas, sem perceber que o tempo passava.
__Demi__ ela ouviu uma leve batida na porta__ está tudo bem querida?
__Tudo sim tia__ ela soltou a porta retrato e limpou uma lágrima que escapara__ pode entrar.
Sua tia Olívia abriu a porta e sorriu pra ela__ o almoço já está quase pronto querida.
__Tudo bem, eu vou tomar um banho e já desço.
__Leve o tempo que quiser.
Demi tomou um rápido banho, deixando que a água quente levasse embora o cansaço e as sensações ruins, ela começaria uma nova vida ali naquela cidade, precisava deixar as tristezas pra trás e tentar seguir em frente. Quando terminou vestiu uma roupa confortável e desceu até a cozinha, a mesa do almoço já estava posta e a comida tinha uma ótima aparência.
__Fiz seu prato preferido__ Sarah informou.
__Bife com batata frita?__ ela brincou se sentando a mesa.
__Não mocinha, macarronada e peixe ensopado.
__Esse é o seu prato preferido tia, não o meu__ Demi disse rindo e se virou pra outra tia__ é seguro comermos isso aqui?
Demi se lembrava da comida Sarah, ela nunca foi uma boa cozinheira, sua mãe vivia discutindo com ela por conta disso, as duas brigavam pra ver quem tomaria conta cozinha, mas de alguma forma tia Sarah sempre ganhava e eles tinham que fingir gostar da gororoba que ela fazia.
__Ela melhorou bastante__ Olívia garantiu com um sorriso__ pode comer tranquila, não da pra morrer.
__Bom saber.
As três conversaram enquanto comiam__ e a comida realmente estava boa__ Demi adorava ouvir as loucas histórias que suas tias contavam sobre sua juventude. As amigas que tinham, os romances e as confusões em que se metiam, elas pareciam jovens demais pra ter tanta história pra contar, pareciam já ter vivido tanta coisa e Demi ficava fascinada, esperando um dia viver aventuras como aquelas, ser normal e tranquila era entediante. Demi sempre fora certinha demais, talvez pela super proteção de sua mãe que não gostava de deixá-la sair sozinha, parecia que tinha medo que alguém tentasse sequestrá-la ou algo assim, como se alguém se interessasse por uma garota patética como ela. Até os namoros tinham que ser às escondidas, Amélia Gilbert não confiava em ninguém, nem na própria sombra e fizera de Demi uma garota desconfiada, sempre atenta a qualquer coisa for do normal. Talvez fosse por isso que Demi se sentia estranha naquela fazenda, suas tias eram tudo menos normais.
__Precisam de ajuda com a louça?__ Demi se ofereceu.
__Não tudo bem, nós cuidamos disso__ Olívia garantiu__ porque não vai descansar um pouco, foi uma viagem longa até aqui, deve estar exausta.
__Nem tanto__ deu de ombros__ na verdade eu estava pensando em dar uma volta por ai pra conhecer a fazenda, faz muito tempo que não venho aqui, nem me lembro direito.
__Hum... __ Sarah pareceu ponderar a ideia__ acho que não tem nenhum problema, só... Não saia sozinha da fazenda, a cidade é pequena, mas ainda assim é possível se perder por ai.
Sarah e Olívia se entreolharam de forma um tanto estranha, mas Demi ignorou esse fato.
__Tudo bem então__ ela concordou__ eu não vou sair, e não demoro.
__Vai tranquila querida.
Demi voltou um instante ao seu quarto e trocou o chinelo por um tênis, parecia mais apropriado para andar por aquela enorme fazenda. Pôs o celular no bolso de trás do short e antes de ir resolveu oferecer ajuda com a louça mais uma vez, não queria deixar todo o trabalho com as tias, mas quando chegou à cozinha tudo já estava arrumado. Não havia mais nada na mesa, os pratos já estavam todos lavados e secos, tudo na mais perfeita ordem, Demi olhou pras tias confusa.
__Mas como...
__Demi__ Olívia arregalou os olhos__ você ainda não foi.
__Como arrumaram tudo tão rápido?__ ela pergunta espantada__ estava tudo bagunçado dois minutos atrás.
__Hum... É que em conjunto fica mais fácil__ Sarah gaguejou__ fazemos isso todo dia, é só... Prática.
__Isso é impossível__ ela resmungou ainda impressionada.
__Você não ia fazer um passeio?__ Olívia lembrou a empurrando gentilmente pra fora da cozinha.
__Mas...
__Divirta-se__ ela disse dando um beijo em sua bochecha e voltando correndo pra cozinha.
Era impossível arrumar toda aquela bagunça em dois minutos, Demi pensou, nem o The flash conseguiria. Mas ela ignorou isso, talvez as tias fossem mesmo rápidas. Ela saiu da mansão e foi dar uma volta pela fazenda. O ar fresco e sol eram revigorantes e ela sorria enquanto caminhava, lembrando-se de quando era pequena e corria por aqueles campos descalça com sua atrás gritando seu nome e pedindo que ela entrasse em casa pra almoçar, Demi costumava ser uma criança rebelde, e algumas vezes tentava se aventurar, mas não era esse tipo e no fim sempre se arrependia de tudo.
Demi passou pelo estábulo onde havia dois cavalos, ela achava aqueles animais fascinantes e sempre teve vontade de cavalgar, mas aparentemente os cavalos não gostavam dela, nem os gatos ou cachorros, ou qualquer tipo de animal, eles sempre ficavam agitados em sua presença, o que algumas vezes era perturbador.
Um pouco mais a frente Demi avistou o enorme celeiro da fazenda, ele sempre esteve trancado e ela nunca viu o que tinha lá dentro, oque era bem curioso, ela lembrava de suas tias a proibirem de chegar perto dali quando era pequena, mas nunca soube por quê. A curiosidade falou alto naquele momento, ela se aproximou e dando uma rápida olhada em volta pra ter certeza se estava só, tentou abrir a porta do celeiro, como sempre ela não teve sucesso, estava bem trancada. Ela deu uma volta no lugar, pra ter certeza se não havia um outro jeito de entrar ou ao menos espiar o que tinha lá dentro, mas quando pensou ter visto alguma coisa sentiu uma mão em seu ombro e gritou com o susto.
__Hey calma__ ela suspirou aliviada constatando que era só sua tia Olívia__ o que faz aqui?
__Eu estava só... Olhando por ai__ ela deu de ombros respirando fundo pra se recuperar do susto__ escuta tia, o que tem dentro desse celeiro?
__Nada, ele está vazio__ ela respondeu sem exitar.
__E porque está trancado?__ insistiu não convencida__ desde que eu era pequena se bem me lembro.
__Não tem motivos pra ficar aberto__ ela deu de ombros__ não usamos.
__Não tem nenhum cadáver ai né?__ brincou, mas estava realmente se mordendo de curiosidade.
__Você nunca saberá__ a tia manteve o bom humor e apontou em direção a casa__ que tal voltarmos pra casa?
__Ok__ Demi concordou ainda desconfiada.
As duas voltaram juntas pra mansão, mas Demi já sabia que tentaria ver o que tem naquele celeiro novamente, a curiosidade não ia deixá-la em paz enquanto ela não descobrisse. Talvez quando as tias não estivessem em casa, se houvesse algum segredo lá dentro, cedo ou tarde ela acabaria descobrindo.
Fim do Capítulo
  
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