sexta-feira, 30 de março de 2012

Chapter Seven


Naquela manhã Selena apareceu para fazer uma visita a Demi, já fazia mais de uma semana desde que se viram e Demi se surpreendeu ao ver como estava com saudades, gostava de conversar com Selena. Na verdade gostaria de poder contar a ela o que estava acontecendo, mas sabia que ela lhe entregaria as suas tias, então ficou calada.
__Minha mãe me contou que você descobriu tudo__ Selena comentou__ como está levando tudo isso?
__Quer saber se não estou enlouquecendo?
__Desculpe, imaginei que devia ser difícil pra você.
__Você sempre soube? O que você era?__ Demi perguntou.
__Sempre, minha mãe disse pra não contar a você, porque sua mãe não queria que você soubesse.
__O seu namorado também sabe?
__Ele é bruxo também__ ela concordou.
Aquilo explicava o jeito que ele estava a olhando em sua festa de aniversário, e o estranho comentário que deixara Demi desconfortável. Demi se sentia um pouco idiota agora, todo mundo sabia o tempo o que ela era, menos ela mesma, era tão patético.
__Queria poder passar mais tempo aqui com você, te ajudar a enfrentar isso tudo, mas ando tão ocupada.
__Não tem problema, eu entendo, e posso lidar com isso sozinha__ não era mentira, ela era mais forte do que havia suposto__ mas eu tenho uma pergunta. Você... Sabe do diário de Joseph Gilbert?
__Elas te contaram a história não é mesmo?__ Selena abriu um largo sorriso__ também fiquei fascinada quando ouvi.
__Você sabe o que aconteceu?
__Que foi roubado? É eu fiquei sabendo, minha mãe me alertou pra que eu tomasse cuidado. Não sou uma Gilbert de sangue puro, mas ainda sou da família, elas me disseram que podia querer me usar pra descobrir alguma coisa, estamos todos de olhos abertos. Esse diário precisa aparecer logo, antes o problema se torne mais grave.
Depois daquelas palavras Demi não conseguiu ouvir mais nada do que Selena falou, ela sorria quando parecia conveniente e concordava, mas não entendia uma palavra do que ela dizia, porque talvez fosse verdade. Ela deveria entregar o diário antes que algo de ruim acontecesse, Nicole poderia voltar para saber alguma coisa, alguém mais poderia vir atrás dela. Mas então porque a ideia de se livrar dele era tão dolorosa? A ideia de nunca mais falar com Joseph. Aquilo estava ficando complicado.
Quando Selena finalmente foi embora, Demi subiu novamente naquela mesma árvore atrás do celeiro e abriu o diário de Joseph sobre o caderno velho, apoiando a tinta entre os joelhos e molhando a caneta nela.
“Tenho uma pergunta pra você”.


A resposta chegou em questão de segundos, será que ele esteve esperando que ela aparecesse?
“Ainda não devolveu o diário? Pensei que tinha entendido que ficar com ele era perigoso”.

Demi bufou e revirou os olhos, essa atitude não ia facilitar em nada. Ela era teimosa e imprudente demais pra fazer o que sabia que era certo, já tinha vivido na linha por muito tempo, sendo sempre a certinha que não cometia erros e nem se arriscava, ela queria mudar isso agora, estava finalmente descobrindo quem era e não ia deixar a oportunidade de viver passar.
“Vai ou não responder minha pergunta? Você prometeu que responderia se eu tivesse dúvidas”.

“O que você quer saber Demetria?”


Ela sorriu quando ele cedeu, talvez ele também não quisesse que ela devolvesse o diário, talvez gostasse de conversar com ela como ela gostava de conversar com ele e só estivesse tentando fazer o que era certo, protegê-la. Demi gostou muito dessa ideia.
“Um bruxo só é treinado pra usar seus poderes quando completa dezoito anos?”

“Não, somos ensinados desde pequenos, mas é apenas aos dezoitos anos que o verdadeiro treinamento começa, pois é quando nossos poderes estão completamente desenvolvidos. Então somos treinados, para fazer feitiços complicados que exigem o uso de toda nossa energia, feitiços perigosos, feitiços mortais. Se tentarmos um feitiço muito grande sem estarmos preparados podemos morrer”.

Demi se lembrou de como se sentiu estranha no dia do seu aniversário de dezoito anos, como se alguma coisa se revirasse dentro dela, o se movesse por debaixo da sua pele, talvez fosse isso, seus poderes que ela não sabia que tinha chegando ao ápice, completamente desenvolvidos. Ela gostaria de ser treinada, mas teria que começar do zero como uma criancinha e suas tias não pareciam estar muito dispostas a lhe ensinar nada, elas estavam com medo. Demi pensou que poderia aprender sozinha, mas depois do que Joseph dissera talvez fosse melhor não arriscar, ela não queria fazer um feitiço forte demais por engano e acabar morrendo.
“Você chegou a completar o seu treinamento?”

“Sim, eu terminei, acabou quando completei vinte e um anos. Meu pai disse que eu já tinha aprendido tudo que ele podia me ensinar, tudo que ele sabia agora eu sabia também, e que dali pra frente teria de aprender o resto sozinho, com a vida. Ele me contou inúmeros segredos, me ensinou coisas que a maioria das pessoas nem sonhava que poderiam existir, até mesmo bruxos”.


Demi imaginou por um momento que segredos seriam esses. Bruxos tinha poderes incríveis, podiam fazer coisas inimagináveis e surpreendentes, o que poderia ser assim tão incrível até mesmo pra um bruxo? Coisas mirabolantes lhe passaram pela cabeça, mas nenhuma ideia que fizesse muito sentido, e algo lhe disse que se ela perguntasse do que ele estava falando Joseph não responderia, afinal segredos eram segredos. Mas talvez estivesse escrito no diário, talvez ela descobrisse depois.

“Tem outra coisa que não entendo. Você e seu irmão são bruxos, e muito poderosos, são da família original.
Então, porque vocês não podem simplesmente usar seus poderes pra sair de dentro do diário?”


Era uma boa pergunta, afinal, se Joseph tivera poder pra prender ele e o irmão ai dentro, porque não teria pra sair? Não fazia sentido, ele deveria poder sair dali quando quisesse, deveria poder ser livre.
“Eu e meu irmão estamos sem poderes enquanto estivermos presos aqui dentro, não podemos praticar bruxaria nesta prisão que eu criei. Faz tudo parte do feitiço que usei pra nos aprisionar aqui dentro, eu tinha que garantir que ele não sairia nunca, que não colocaria a vida de mais ninguém em risco, não podia ter certeza se algum dia ele se arrependeria do que fez, então só alguém ai de fora poderia desfazer o feitiço e nos libertar”.


Era bem inteligente da parte dele, ou bastante estúpido, afinal ele também estava preso. Cada vez que pensava nisso Demi ficava mais inquieta, imaginava várias formas em sua mente de soltá-lo dessa prisão, imaginava-se sendo sua salvadora. Mas então percebia que era só um sonho bobo e ficava novamente irritada, estava destinada a ser uma inútil eternamente.
Espantando os pensamentos melancólicos da cabeça ela resolveu mudar um pouco o assunto da conversa.
“Fale-me sobre Esmeralda”.

Demi não queria ser inconveniente ou algo do tipo tocando naquele assunto, mas estava curiosa sobre aquela garota linda que vira na lembrança de Joseph, queria que ele falasse dela, que lhe contasse o que o fizera se apaixonar por ela, além da beleza o que era bastante óbvio. Imaginava se ela seria muito diferente de Esmeralda. A resposta demorou tanto tempo pra aparecer que Demi teve medo de que ele não falasse mais nada, de que se irritasse e nunca mais lhe respondesse, e quando já estava ficando assustada pela demora à página brilhou e novas palavras apareceram.
“Porque quer saber sobre ela?”

“Não queria ser inconveniente, só fiquei curiosa pra saber mais sobre ela. Afinal pelo que me contaram ela foi um dos motivos pelo qual você e seu irmão se desentenderam. Estava imaginando o que fez com que se apaixonasse por ela. Se importa em me contar?”


Novamente a resposta demorou a parecer, mas dessa vez Demi esperou pacientemente, imaginando que ele estava procurando as palavras certas pra responder, não devia ser fácil falar dela, afinal de contas quando se prendeu naquele diário Joseph a deixou pra trás, abriu mão de seu amor. Não conseguia imaginar como devia ser doloroso.
“Quando a olhei pela primeira vez ela não me pareceu ser real, era bonita demais, perfeita demais, achei que talvez fosse um anjo, fiquei completamente bobo quando a vi, perdi o controle de meus pensamentos e de meus poderes, foi algo que nunca senti antes. Ela tinha aqueles olhos verdes brilhantes como esmeraldas, que foi de onde surgiu seu nome e a voz dela era como música, o som mais agradável que eu já escutei em minha vida. Ela tinha aqueles cabelos escuros e a pele clara e macia, era a mulher mais linda que já vi na vida”.
“Parece realmente encantadora, fale mais”.


Não havia necessidade de dizer a ele que tinha visto suas memórias, talvez ele se zangasse com isso.
“Quando ela sorria parecia que o mundo se iluminava, e eu ficava contando as horas pra falar com ela de novo. Meu coração batia forte e eu mal conseguia respirar de ansiedade, parecia um bobo. Meu pai disse que eram sintomas de alguém apaixonado”.


Será mesmo que era? Demi nunca sentira nenhuma dessas coisas com nenhum dos garotos com quem ficou ou namorou, não havia magia, não havia paixão, era só questão de desejo, necessidade, nada mais. Mas enquanto pensava no que Joseph dissera ela lembrara do que sentiu quando olhou pra ele naquelas memórias, o coração disparado, a incapacidade de tirar os olhos do seu rosto, como ficou perdida ao olhar nos olhos dele e como o mundo desapareceu quando ele sorriu. Seria possível ela estar apaixonada por alguém que nunca realmente conheceu? Alguém que não seria real até que ela pudesse tocar, sentir. Parecia loucura.
“Sente muita falta dela?”

“De todas as coisas que eu abri mão, de todas as coisas que perdi, ela é a que mais me faz falta.
Algumas vezes quando penso nela me arrependo de ter sacrificado tudo, mas então lembro que foi para o bem de todos”.

Perder alguém que se amava era extremamente doloroso, Demi sabia muito bem disso, sentia a perda de sua mãe todos os dias a cada minuto, alguma vezes a dor era tanta que chegava a ser física e parecia que ela sufocaria, também sentia falta do pai que nunca conheceu. Mas ela não teve muita escolha, simplesmente aconteceu, com Joseph foi diferente, ele teve uma escolha e escolheu abrir mão de tudo, devia ser doloroso imaginar que tudo poderia ser diferente.
“Você me faz muitas perguntas Demetria, mas não me fala nada sobre você”.

“Primeiro, me chame de Demi, odeio que me chamem de Demetria.
Segundo, minha vida não é tão interessante quanto a sua, nada de extraordinário pra contar”.

“Eu sei que não parece isso, mas minha vida não é tão interessante assim.
Não há nada de glorioso em se estar preso dentro de um diário mágico, acredite.
Porque não me fala da sua mãe? O que ela acha de você saber toda a verdade?”


Novamente a dor, Demi se encolheu em cima daquela árvore, como se tivesse levado uma facada e seus olhos arderam com a vontade súbita de chorar, ficava mais fácil suportar a dor quando não tocavam no assunto, suas tias eram boas nisso. A parte mais difícil era à noite, quando ela tinha aqueles terríveis pesadelos com a mãe morrendo queimada, de novo e de novo, os gritos eram perturbadores.

“Minha mãe morreu num incêndio em nossa casa, pouco mais de um mês atrás, estou morando com minhas tias agora”.

“Sinto muito, eu não sabia disso”.

“Dizem que foi um acidente, que a casa pegou fogo enquanto ela cozinhava”.

“Mas você não acredita nisso”.


Ela acreditava até alguns dias atrás, embora fosse um pouco ridículo, sua mãe não cozinhava nada àquela hora da noite, mas não havia motivos pra questionar, só que agora as coisas tomavam uma direção diferente. Havia essa coisa toda de bruxos, diários roubados e aquele pesadelo que a atormentava, alguma coisa não se encaixava.
“As coisas estão diferentes agora, eu vejo o mundo de forma diferente.
Sei que não deve significar nada, mas venho tendo um pesadelo desde que ela morreu e isso me perturba”.

“Que tipo de pesadelo?”
“É sobre a noite que ela morreu, eu estou na cozinha da casa, é como se eu fosse ela. A casa começa a pegar fogo de repente, sem uma explicação, e tem sempre alguém do lado de fora observando, mas não consigo ver quem é, a fumaça me confunde. Antes não significava nada, mas agora começo a pensar que pode não ter sido um simples acidente”.

“Quem ia querer fazer uma coisa dessas com a sua mãe e por quê?”

“Eu não sei, e não quero mais falar disso, desculpe”.


As ideias que surgiam em sua mente eram perturbadoras e ela queria espantá-las o máximo que pudesse ou ia enlouquecer. Não queria falar de coisas ruins com eles, apenas coisas boas, afinal era o único momento de paz que ela realmente tinha, quando conversava com ele, descobria novas coisas. Joseph aceitou a mudança de assunto sem problemas, mas não encerrou a conversa, ao contrário, ele he fez mais perguntas, sobre diferentes assuntos e Demi respondeu tudo da melhor maneira possível, sem querer entediá-lo com sua vida chata. Ela contou sobre suas tias, como eram maluquinhas e estranhas e como elas a acolheram, falou de Selena, a única pessoa amiga que ela tinha por ali e que mesmo assim não podia falar sobre tudo como falava com ele.
“Você tem um namorado?”
Aquela pergunta em particular a desconcertou, e deu graças a Deus que ele não pudesse ver seu rosto e o quanto estava vermelha naquele momento. Foi uma pergunta inocente e completamente normal é claro, mas levando em consideração sua nova obsessão por tudo que tinha haver com ele, aquilo era extremamente constrangedor.
“Não, eu não tenho.
Eu tenho que ir agora, minhas tias devem estar loucas atrás de mim, até outra hora”.


Era melhor encerrar logo o assunto. Ela não esperou uma resposta, fechou o diário e guardou-o na bolsa. Antes de descer da árvore ela olhou pro celeiro, por um tempinho ela esquecera a curiosidade em saber o que tinha ali dentro, agora imaginava que tinha alguma coisa haver com bruxaria, já que as tias tinham tanto cuidado em esconder. Será que havia algum monstro preso ali dentro? Ou um cadáver? Ou talvez ela estivesse louca, o que era a resposta mais provável, perguntar as tias não devia adiantar de muita coisa e o medo da descoberta a fez deixar pra lá, era melhor não abusar da sorte por enquanto.
Demi desceu da árvore e voltou pra mansão. De longe ela viu as tias conversando com o tal Walter, aquele velho esquisito e mal encarado, ela até tentou ouvir, mas mantiveram fora da conversa, o que era irritante, mas algo lhe disse que seja o que for que estavam conversando não era bom, estava estampado na face dos três. Demi começava a se sentir mais culpada por mentir pra eles, mas ainda não estava pronta pra devolver o diário... Não ainda.
Fim do Capítulo

No mínimo 1 comentario para o proximo capitulo :)

terça-feira, 27 de março de 2012

Chapter Five e Chapter Six


Demi não teve muito tempo pra perguntar a Joseph o que queria, suas tias apareceram alguns minutos depois, queriam conversar, pra ter certeza de que Demi não estava pirando ou algo do tipo, então a proibiram de trancar a porta do quarto e apareciam a cada cinco minutos pra conferir se ela estava bem, aquilo não ajudava em nada. Então quando um novo dia surgiu ela teve de dar um outro jeito de poder conversar com Joseph sem que suas tias vissem o que ela estava fazendo. Demi pegou uma bolsa, colocou o diário, a caneta e a tinta dentro, junto com um outro caderno velho e desceu as escadas, passando pelas tias que estavam na varanda.
__Hey, aonde você vai?__ Sarah perguntou preocupada.
__Dar uma volta pela fazenda__ ela deu de ombros__ pegar um ar.
__Demi...
__Eu já disse que estou bem__ ela bufou e revirou os olhos__ eu não vou pirar, nem fazer nenhuma besteira ok? Só quero ficar sozinha e pensar na minha vida, será que eu posso?
__Só estamos preocupadas com você, não queremos que fique com raiva, escondemos coisas de você pro seu bem.
__Eu não estou com raiva__ prometeu, e não era mentira__ só não decidi ainda o que penso de toda essa história de bruxos e diários mágicos ok? Preciso pensar, e quando minha cabeça estiver em ordem eu digo a vocês.
Elas concordaram silenciosamente, Demi ficou satisfeita, talvez isso as impedisse de a seguirem pela fazenda e a espionarem como fizeram no dia anterior. Demi se afastou o máximo que pode da casa, pensou em ficar no estábulo junto com os cavalos, mas eles se agitaram quando ela chegou perto, e ela pensou melhor, não era uma boa ideia. Pensou no celeiro, mas ele estava trancado e não era bom dar mais um motivo pra suas tias desconfiarem dela. Então avistou uma árvore alta atrás do celeiro, olhou por um tempo e decidiu que era perfeito.
Segurou a bolsa com força e escalou a árvore, havia anos que ela não fazia aquilo e tinha perdido um pouco a prática, a tentativa lhe rendeu um bom corte na mão, mas no fim das contas ela conseguiu subir e sentar em um dos galhos, escorando as costas no tronco, pareceu seguro e ela podia ver tudo dali de cima.
Demi abriu o caderno velho e depois o diário por cima, assim, sei alguém a visse ali não veria a capa do diário, escorou a tinta entre os joelhos e molhou a pena, sorrindo ansiosa antes mesmo de escrever qualquer coisa.
“Então Joseph, eu tenho uma pergunta pra você. Como é ai dentro do diário?”


Ela não conseguia imaginar como seria ficar preso dentro de um diário, e isso estava corroendo por dentro. O que ele via lá do outro lado? Apenas páginas em branco ou tinha algo a mais? De repente, se ela soubesse um pouco mais, até poderia descobrir um modo de tirá-lo de lá de dentro.

“Bem Demetria, esse diário contém meus segredos, minhas lembranças. E aqui dentro eu revivo cada uma delas, todo o tempo. Elas apenas se repetem enquanto eu assisto”.


Demi considerou isso por um momento, não deveria ser agradável viver apenas de lembranças, mesmo que fossem boas lembranças, revivendo o mesmo momento milhares de vezes sem nunca ter um fim. Deveria ser enlouquecedor, ela começou a sentir pena de Joseph.
“E o seu irmão? Está com você?”

“Eu não o vejo há um bom tempo, estamos sempre em memórias diferentes, é melhor assim.
E, eu não quero ser grosseiro, mas você não deveria estar com esse diário”.


Ela sabia disso, mas não esperava que ele a lembrasse, ela não queria se livrar do diário, não queria se livrar dele, por mais que aquilo fosse o certo a se fazer.
“Eu estou te chateando com minhas perguntas?”
“É claro que não, você é a primeira pessoa com quem eu converso em muitos anos, mais do que posso contar estando preso aqui dentro, mas é perigoso ter esse diário em mãos Demetria, você pode se machucar, há muitas pessoas atrás dele que fariam qualquer coisa pra possuí-lo”.


Ele estava preocupado com ela, ela sorriu para a folha enquanto as palavras desapareciam, sabia que estava parecendo uma maluca afeiçoando a um pedaço de papel, a alguém que ela não podia ver, mas não sabia como evitar aquela sensação boa que lhe tomava quando conversava com ele, mesmo que não tivessem falado muito.
“Eu tomarei cuidado, prometo. É que também não tenho muito com quem conversar, e quando tento sinto que estão mentindo e escondendo coisas de mim. Já você me prometeu respostas”.

“Estou preso aqui há um longo tempo, posso não ter as respostas que procura”.


Era verdade, algumas das coisas que ela queria saber Joseph nunca poderia lhe responder, essas coisas ela daria seu próprio jeito de descobrir, mas outras só ele poderia lhe contar. Ela queria saber sobre a vida dele, mas tinha vergonha de perguntar, gostaria de poder ver as lembranças dele, era engraçado. Ele disse que aquele diário continha seus segredos, mas porque todas as folhas estavam em branco?

“Disse que seu diário contêm seus segredos e lembranças, mas as folhas estão em branco”.

“É um feitiço de proteção, assim ninguém pode ler o que está escrito”.


Então as memórias dele realmente estava ali, mas protegidas. Talvez ela não tivesse que perguntar a ele, se pudesse descobrir uma forma de poder ler o que estava escrito ali. Demi encarou o chão abaixo de si, ela ia precisar da ajuda das tias pra isso, já que não entendia absolutamente nada de bruxaria. Talvez essa fosse à desculpa que estava procurando pra resolver os seus problemas.
Como Demi não respondera nada, novas palavras surgiram no papel.
“Devolva o diário pra que possam guardá-lo em segurança Demetria, suas tias saberão o que fazer. É mais seguro pra você e pra todo mundo”.


Mas ela ignorou as palavras, fechou o diário, guardou tudo de volta dentro da bolsa e desceu da árvores, caminhando rapidamente de volta até a mansão. Suas tias ainda estavam na varanda, conversando sobre coisas banais, elas pareciam mais preocupadas que antes. Demi parou na frente delas e cruzou os braços, a expressão séria e determinada, agora que tivera a ideia, ninguém a faria esquecer.
__Algum problema querida?
__Eu quero aprender magia__ ela disse sem rodeios.
__Como é?__ as duas tias disseram ao mesmo tempo e de olhos arregalados.
__Quero que me ensinem a fazer feitiços e usar meus poderes... Essas coisas__ ela explicou calmamente.
__Não sei se é uma boa ideia Demi__ Olívia disse nervosa.
__Vocês me disseram que estou em perigo, bem... Tem maneira melhor de eu me defender?
__Isso é uma péssima ideia Sarah.
__A culpa é sua, por ser tão descuidada__ tia Sarah rebateu.
__Se não quiserem me ensinar, então me arrumem um livro... Vocês bruxas não tem livros de feitiços, essas coisas?__ ela supôs se sentindo meio idiota.
__Isso não é um filme Demi, é a vida real__ Olívia resmungou__ não temos livros de feitiços.
__Tem os nossos diários__ Sarah comentou.
__É pessoal__ Olívia a advertiu__ você não está pensando em concordar com isso não é? Ela não sabe absolutamente nada sobre bruxaria, isso é perigoso.
__Ela vai saber se ensinarmos, ela precisa saber se defender Olívia.
__Dê-me o diário, eu aprendo sozinha__ Demi sugeriu, só havia uma coisa que ela gostaria de aprender naquele momento, como desbloquear as memórias no diário de Joseph, o resto não importava.
__Eu não concordo com isso, Amélia deve estar se revirando no túmulo__ Olívia suspirou irritada.
__Quer saber, eu acho que você está certa Demi, está na hora de você aprender... Eu posso te emprestar o meu diário pra você ter uma ideia melhor de como as coisas funcionam e posso te ensinar alguns feitiços, só pra que você possa se defender caso precise.
__Obrigada tia Sarah__ Demi sorriu satisfeita quando a tia pegou o diário que estava ao seu lado na cadeira e estendeu pra ela com um sorriso doce no rosto, ela não pensou que fosse ser tão fácil.
__Está na hora de você se conhecer Demi, eu nunca concordei que sua mãe escondesse a verdade de você.
__O que te fez mudar de ideia assim tão rápido?__ Olívia perguntou__ ainda a pouco você não sabia o que fazer.
__Só percebi que era o melhor__ ela deu de ombros e abriu o diário, percebeu que as páginas estavam em branco como as de Joseph__ está tudo em branco tia.
__É um feitiço de proteção, assim quem pegar o diário não pode ler o que você escreveu__ explicou reforçando as palavras de Joseph__ Claro que não funciona muito com bruxos, pois qualquer um saber desfazer isso, mas se um mortal pegar nunca vai saber os segredos que contêm.
__Como eu faço pra ler?__ perguntou ansiosa.
__Revelare__ a tia sussurrou passando a mão pelas páginas.
As palavras começaram a aparecer então, na letra bagunçada de sua tia, mas estava tudo lá.
__Demi, escute uma coisa__ Sarah advertiu__ nunca leia nada do que está escrito nesse diário em voz alta.
__Por quê?
__Pronunciar os feitiços em voz alta é o mesmo que fazê-los querida, e nem todos são seguros, tome cuidado por favor, e eu gostaria que evitasse ler minhas lembranças pessoais, tem certas coisas ai que você não deve ver. Não que seja segredo, é só que é pessoal.
__Não se preocupe tia__ ela sorriu, ela já aprendera o que queria, aquele diário não tinha de muita valia pra ela, o que a interessava era o que estava em sua bolsa agora.
__Ainda acho que isso é um erro__ Olívia resmungou.
__Lembre-se, não leia em voz alta__ repetiu ignorando as reclamações da irmã__ e me procure quando tiver interessada em aprender a prática, não adianta apenas conhecer os feitiços, você tem que aprender a controlar o seu poder, entendeu?
__Tudo bem__ ela concordou e entrou em casa correndo, fazendo o máximo possível pra esconder a empolgação.
Demi trancou a porta do quarto, mesmo sabendo que suas tias apareceriam em breve pra perturbá-la e que brigariam com ela por ter fechado a porta, mas ela precisava de privacidade. Demi colocou com cuidado o diário da tia sobre a escrivaninha e se sentou na cama, abrindo o diário de Joseph a sua frente. Ela respirou fundo.
__Revelare__ ela sussurrou a palavra passando os dedos pela página em branco.
Um pequeno brilho surgiu no papel enquanto as palavras escritas ali surgiam como num passe de mágica, numa letra bonita e bem desenhada, nada de garranchos, diferente da letra dela. Demi sorriu com expectativa e passou as paginas seguintes vendo que agora todas elas estavam preenchidas. As lembranças, a vida de Joseph estava toda ali na sua frente e ela não via a hora de descobrir tudo.
Fim do Capítulo

Demi puxou o diário pra mais perto, sentindo seu coração palpitar, respirou fundo e começou a ler o que Joseph havia escrito na primeira página do diário. Não sabia se era a empolgação do momento, mas acabou esquecendo do conselho das tias e começou a ler em voz alta.
Hoje meu pai me deu este diário de presente pelo meu décimo oitavo aniversário. Ele me disse que deveria cuidar desse diário com a minha vida, que a partir deste dia, ele seria o meu melhor amigo e que deveria levá-lo comigo a todo lugar. E hoje também demos inicio ao meu verdadeiro treinamento como bruxo e prometi a ele que eu seria o melhor, até mesmo melhor que ele. Meu pai também me disse algo que me preocupou sobre Robert. Gostaria de saber o que ele estava me escondendo.


Quando fez uma pausa na leitura algo estranho aconteceu, as páginas do diário começaram a virar como se tivessem sido apanhadas por uma ventania, e quando pararam um brilho estranho surgiu junto com o que parecia ser uma janela, uma abertura. Demi se inclinou pra frente, pra olhar mais de perto e antes que entendesse o que estava acontecendo viu seu corpo mergulhar na abertura da página, sendo sugada pra um outro mundo.

15 de Agosto de 1609
Demi sentiu o pé bater em chão firme e por um momento ficou parada, trêmula. Abriu os olhos devagar e as formas a sua volta foram entrando em foco. Ela estava em uma mansão, mas não era mansão das suas tias, ela não reconhecia aquela casa, era bonita, bem decorada e tinha uma aparência daquelas casas de séculos atrás. Havia algumas pessoas naquela sala, espalhadas conversando e distraídas, e uma delas chamou imediatamente a atenção de Demi... Era Nicole, a mulher que lhe dera o diário, mas ela parecia um pouco diferente. Usava um longo vestido vermelho, daqueles antigos que as mulheres usavam séculos atrás, tinha os cabelos negros presos num coque muito bem feito e tinha muitas jóias, todas pareciam verdadeiras, os olhos castanhos estavam atentos a um enfeite sobre a mesinha no canto da sala, Demi correu até ela.
__Nicole, que bom que está aqui__ ela sorriu aliviada__ eu estava lendo o diário e de repente vim parar aqui, pode me explicar o que está acontecendo? Onde nós estamos?
Mas ela não lhe deu atenção, apenas passou os dedos pelo enfeite da mesa, parecendo distraída, Demi resolveu tentar mais uma vez.
__Nicole, por favor, será que pode me explicar o que está havendo?
Mais uma vez ela não respondeu, com um suspiro, se afastou da mesinha e foi caminhando até uma outra moça que se achava sozinha do outro lado da sala, observando tudo em silencio, com um tímido sorriso no rosto.
Alguém entrou na sala, um homem alto, devia ter cerca de cinquenta anos, tinha algo em mãos e um sorriso orgulhoso no rosto enquanto atravessava a sala em direção ao sofá.
__Onde está o aniversariante?__ ele perguntou e o jovem que se achava sentado no sofá se levantou sorrindo.
__Estou aqui pai.
__Feliz aniversário Joseph__ o homem murmurou e o abraçou apertado.
Demi congelou por um momento enquanto entendia o que estava acontecendo ali. Ela estava em uma das memórias de Joseph, aquela que ele escrevera no diário e que ela acabara de ler, não sabia como mas estava presenciando aquilo, como se estivesse lá. E se era só uma memória ela não podia ser vista ali, era como se fosse invisível, nada de interagir, só assistir.
Logo depois um outro pensamento lhe ocorreu, o jovem ali naquela sala era Joseph, ela o estava vendo, finalmente podia saber como ela era, o que vinha imaginando desde que pegara o diário. Não conseguiu tirar os olhos de seu rosto, da pele morena dele, dos cabelos negros ondulados, ou dos olhos... Lindos olhos castanhos claros com um brilho que ela nunca vira antes na vida, ele era lindo, mais ainda do que ela tinha imaginado. Sorriu, dando um passo adiante involuntariamente, querendo vê-lo mais de perto.
__Hoje é um dia muito importante filho__ o homem falou__ hoje você deixa de ser uma criança, hoje se torna um homem de verdade, hoje seus poderes chegam ao ápice e finalmente será um bruxo completo. Sabe da nossa tradição de família__ ele estendeu o que tinha em mãos para Joseph, e Demi viu o que era... O diário dele, um pouco mais nova e conservado, mas era ele__ cuide desse diário com a sua vida, a partir de hoje ele é seu melhor amigo, a única coisa em que pode realmente confiar, leve-o consigo para todo lugar e não deixe que toquem nele.
__Sim pai, obrigada.
__Meu menininho__ uma outra mulher se aproximou o abraçando, Demi imaginou que seria a mãe dele__ nem acredito que já está crescido, tenho tanto orgulho de você.
__Obrigada mãe, mas não me chame de menininho, é embaraçoso__ ele resmungou arrancando risadas de todos.
__Venha comigo filho, tem uma coisa que preciso lhe falar antes de seu treinamento começar.
Ainda segurando com força o diário Joseph seguiu o pai até o lado de fora da mansão e Demi foi atrás, curiosa pra saber o que falariam e incapaz de tirar os olhos de Joseph. Por um momento quando ele sorriu, ela sentira seu coração disparar e esqueceu de tudo que lhe afligia ultimamente, ele parecia alguma espécie de remédio pras suas dores, pelo menos se sentia bem quando conversava com ele. Os dois pararam do lado de fora perto de uma fonte na entrada da casa, aquele lugar era incrível, a família de Joseph devia ser tremendamente rica.
__Algum problema pai?__ Joseph perguntou preocupado ao ver a mudança na expressão do pai.
__Vamos começar seu real treinamento como bruxo.
__Posso chamar Robert? Como ele já passou por isso prometeu me ajudar.
__Era sobre isso mesmo que queria falar, Robert não deve estar presente durante seu treinamento.
__Porque não?__ seus olhos castanhos encararam o pai com confusão.
__Entenda uma coisa filho, Robert não é como você, ele é imprudente e ganancioso, impaciente e também ambicioso demais, mais do que é saudável. Você vai aprender coisas a partir de hoje, coisas perigosas, e nem todas eu ensinei a Robert, porque não confio nele.
__Sei que Robert é imprudente, mas não confiar nele? Ele nunca faria nada de mau, sabe disso.
__Não, eu não sei, e isso me preocupa, já o peguei fuçando em minhas coisas uma vez, praticando feitiços indevidos, Robert não tem noção de certo e errado por mais que eu tente ensiná-lo, ele só quer de mais poder filho, você sabe que não estou mentindo. Robert é meu filho e eu o amo, e também o conheço melhor que qualquer outro, tenho meus motivos pra lhe dizer o que estou dizendo agora e por isso lhe peço pra que não conte nada disso a ele e que o mantenha longe de nossos treinamentos, o que você aprender comigo filho... Ficará só entre nós, acha que pode fazer isso por mim?
__Claro pai__ Joseph concordou, mas era visível que estava desconfortável com aquela conversa.
__Vou lá dentro buscar algumas coisas e volto num instante pra começarmos o seu treinamento, não demoro.
Joseph ficou observando o pai se afastar e entrar na mansão. Encarou o vazio por um longo tempo com os olhos preocupados antes de abrir o diário que tinha em mãos e passar com calma o dedo pelas páginas, sentindo a textura, os pensamentos distantes. Demi daria qualquer coisa pra saber o que ele estava pensando naquele momento, chegou ainda mais perto, sentiu um impulso de tocá-lo, será que ela poderia senti-lo, mas se conteve e ficou apenas olhando. Estava surpresa com aquela conversa entre Joseph e o pai, não imaginava que ele já desconfiava que o irmão não era confiável, gostaria de saber o que o pai dele estava escondendo, concerteza havia motivos por de trás daquele pedido estranho.
__O que papai lhe disse?
Joseph se sobressaltara ao ouvir aquela voz, distraído demais não percebeu o irmão se aproximando, igualmente Demi. Ela se virou surpresa pra encará-lo... Robert, ele não tinha nada haver com Joseph, nem pareciam irmãos. Ele tinha cabelos loiros na altura dos ombros, a pele clara e olhos azuis, lindos olhos azuis ela devia admitir, poderia olhar pra eles uma eternidade e nunca cansar, mas havia algo naquele rosto que lhe causava arrepios, por de trás do sorriso doce que ele dava, havia algo a mais que ela não sabia explicar.
__Estava tentando me amedrontar falando sobre como o treinamento vai ser difícil__ Joseph mentiu depois de um breve momento de reflexão, seu sorriso agora era claramente forçado e desconfortável, ele não conseguiu disfarçar.
__Não se preocupe irmão, eu vou te ajudar__ Robert pousou a mão em seu ombro tentando confortá-lo, entendendo errado o motivo da expressão perturbada do irmão__ não é tão difícil quanto papai faz parecer, ele só está te testando, vai por mim. Sempre que precisar, conte comigo.
__Obrigada__ ele respondeu baixando novamente os olhos pro diário.

De repente a cena girou, a escuridão foi total e Demi sentiu-se caindo, e com um baque aterrissou de braços e pernas abertas sobre sua cama na fazenda das tias, com o diário de Joseph aberto sobre sua barriga. Antes que pudesse recuperar o fôlego viu a maçaneta da porta girar, e seu coração disparou.
__Demi, por que trancou a porta?__ ouviu tia Sarah perguntar__ abra isso.
__Só um momento tia__ ela levantou as pressas, enfiando o diário dentro da caixa e o jogando de qualquer jeito embaixo da cama, sem tempo pra escondê-lo melhor, o lençol comprido não deixaria que ela visse nada. Então ela correu para abrir a porta.
__Porque trancou a porta?__ Sarah perguntou irritada__ já disse pra não fazer isso.
__Desculpe, eu só queria um pouco de privacidade, não gosto que fiquem entrando aqui a cinco minutos__ falou tudo de uma vez.
__Você parece agitada, qual o problema?
__Eu... Eu...
Demi pensou em mentir, mas é claro que sua tia perceberia, ela nunca fora boa nisso, então pensou que talvez pudesse retorcer um pouco os fatos, assim conseguiria suas explicações e mantinha seu segredo intacto.
__Eu estava lendo uma das suas memórias, sei que me pediu pra não fazer isso, mas não resisti, era uma coisa sobre minha mãe__ ela blefou pra ver se funcionava__ e de repente eu estava lá dentro, eu estava na memória e... Foi muito esquisito.
__Eu disse pra você não ler em voz alta__ ela resmungou__ foi à memória que eu discuti com a sua mãe sobre contar a verdade a você não foi? Aquele dia foi terrível.
__Sim, foi essa mesma__ forçou um sorriso__ como aquilo é possível?
__Escute querida, todo diário vem com uma caneta e uma tinta especiais, ambos encantados__ ela explicou pacientemente__ e quando você escreve no diário a sua memória, é como se salvasse ali a lembrança, como se estivesse guardando um vídeo entende? Assim você pode ver aquilo de novo sempre quiser, só precisa ler em voz alta, por isso disse pra não fazê-lo.
__Eu sinto muito tia, foi sem querer.
Mas por dentro ela estava feliz, então ela podia ver todas as memórias e Joseph como se estivesse lá, ela poderia olhar o rosto dele de novo toda vez que tivesse vontade e poderia entender melhor a vida dele. Mal conseguiu conter a alegria que essa noticia lhe causou, essa coisa de bruxaria ficava cada vez mais interessante, e a cada segundo ela gostava mais e mais da ideia, mas do que deveria.
__Cuidado com isso Demi__ Sarah pediu__ e pare de ler minhas memórias, o combinado foram só o feitiços.
__Claro tia, eu prometo.
__E não fique trancando a porta, prometo que vou bater antes de entrar e vou tentar vir menos te perturbar, mas é que eu e Olívia ficamos preocupadas com você, sabemos que é muita coisa pra se absorver.
__Eu não vou pirar se é esse o seu medo__ Demi disse rindo__ estou bem sério.
__Ok, vou te deixar em paz... E cuidado ta bom?
__Sim senhora.
Assim que Sarah deixou o quarto Demi trancou novamente a porta, preferia levar um sermão por ter desobedecido de novo do que correr o risco de as tias a verem com o diário de Joseph. Agora que ela descobrira que era possível assistir a todas as memórias dele é que não o devolveria tão cedo, sabia que era errado, mas não podia evitar. Ela correu de volta até a cama e pegou novamente o diário, as páginas estavam em branco outra vez e ela sussurrou novamente o feitiço que sua tia a ensinou.
Quando as páginas estavam cheias outras vez ela começou a folhear o diário em busca de alguma outra memória que lhe interessasse.
Encontrou o que queria muitas páginas atrás
.

Hoje eu a conheci. Não era pra eu tê-la visto, não devia estar em casa àquela hora, tinha compromissos em outro lugar, mas por um acaso do destino eu a encontrei, passeando pelo jardim de minha casa com sua família, amigos de meus pais que eu nunca antes ouvira falar.
Esmeralda é o seu nome, perfeito pra ela com aqueles lindos e hipnotizantes olhos verdes, eu poderia tê-los olhado o dia todo e não cansaria. Sua pele clara parecia tão delicada e sua voz é como música, senti meu coração disparar de forma enlouquecedora quando ela sorriu pra mim, não sei bem o que aconteceu... Meu pai acha que estou apaixonado.


Mais uma vez um intenso brilho iluminara as páginas do diário e Demi sentiu-se sendo sugada pra dentro de outra lembrança, mas dessa vez ela estava preparada para o que aconteceu, e sorriu em expectativa do que viria a seguir.

07 de Abril de 1611
Quando sentiu seus pés tocarem o chão Demi abriu os olhos. O cenário era conhecido, o jardim que havia na frente da mansão Gilbert, havia muitas pessoas ali, algumas que ela reconhecia__ como o pai, a mãe e o irmão de Joseph e também Nicole__ e outros que ela não fazia ideia de quem eram, como um casal que devia ter volta de quarenta e poucos anos e uma jovem muito bonita, com um longo vestido azul, os cabelos negros presos numa trança muito bem feita e penetrantes olhos verdes, devia ser a Esmeralda, e ela podia ver porque Joseph se apaixonara pela moça, ela era realmente deslumbrante, no primeiro olhar ela não parecia real, parecia saída de algum filme de tão linda. Demi gostaria de ser assim como ela, sempre fora... Normal demais, nada de extraordinário.
O casal mais velho que conversava com os pais de Joseph deviam ser os pais de Esmeralda, e com um rápido olhar na direção de Robert, deu pra perceber como ele parecia encantado com a beleza de Esmeralda, devia ser naquele dia que os problemas começaram. Quem diria que uma mulher podia causar tamanha confusão. Demi observou quieta que algo acontecesse, então viu Joseph aparecer correndo do nada, passando por todos apressados e chamando o nome do pai, parecia que nem notara a presença dos convidados.
__Pai, você não sabe o que aconteceu... PAI, PAI__ ele chamava ansioso.
Ele estava um pouco mais velho agora, dois anos de diferença apenas, mas parecia mais maduro, os traços de seu rosto pareciam menos infantis e mais másculos e ele estava mais forte também, era visível facilmente. Ele só parou de correr quando esbarrou no pai que o segurou pra que não caísse, e tentou respirar fundo.
__Hey, calma garoto__ ele sorriu sem jeito__ não está vendo que temos visitas?
__Oh, me desculpe__ ele sorriu sem jeito pros pais de Esmeralda enquanto tentava recuperar o fôlego__ olá.
__Olá__ eles sorriram enquanto olhavam pra ele.
__Esses são John e Marisa Monroe, amigos da família__ os apresentou__ esse mau educado é meu filho do meio Joseph, ele nem sempre é assim, perdoem o comportamento infantil.
__Oh sem problemas, é um prazer.
__AH, e aquela é a filha deles, Esmeralda__ apontou pra jovem que se achava parada ao lado da fonte.
Joseph olhou na direção que o pai apontava e no momento em que olhou pra ela pareceu ficar perdido, deu pra ver em seu olhar que de repente tudo tinha sumido, a jovem sorriu pra ele timidamente mas parecia igualmente encantada, respirando fundo e ficando vermelha de vergonha. Todos observaram em silencio enquanto os dois se fitavam e quando os olhos deles se encontraram algo estranho aconteceu, a fonte atrás da jovem explodiu espalhando água pra todos os lados e molhando todos ali presentes, o silencio foi substituído por gritinhos de susto e alguma risadas. Demi também riu, mesmo sem entender o que tinha acontecido, ela viu Joseph morder o lábio como se tivesse acabado de cometer alguma bobagem.
__Oh me perdoem por isso__ o pai de Joseph se desculpou__ você está bem Esmeralda?
__Só um pouco molhada__ ela disse passando a mão pelos cabelos, e sua voz realmente era agradável de ouvir.
__Tudo bem, não foi culpa sua__ a mãe de Esmeralda disse rindo.
__Venham, vamos entrar, eu vou arrumar roupas secas pra vocês.
Todos entraram na mansão juntos, a mãe de Joseph foi com a mãe e o pai de Esmeralda lhe arrumar roupas secas e Esmeralda foi Nicole, Joseph ficou na sala com Robert e o pai. Joseph sacudiu os cabelos espalhando água.
__O que foi isso?__ Robert resmungou__ podia ter machucado alguém.
__Eu não sei o que aconteceu__ Joseph disse sem jeito__ eu não consegui controlar aquilo, senti meu coração disparar e algo estranho no estomago e quando vi a fonte tinha explodido.
Os dois se surpreenderam quando o pai começou a rir, uma gargalhada contagiante.
__Você devia ter visto a sua cara__ ele disse rindo__ não sabe mesmo oque aconteceu?
__Não__ Joseph respondeu inocentemente.
__Isso aconteceu comigo algumas vezes quando eu estava com sua mãe, meus sentimentos ficavam a flor da pele e eu não conseguia controlar, já coloquei fogo em uma floresta assim.
__O que quer dizer com isso?
__Não achou a jovem Esmeralda bonita?
__Sim__ ele confessou envergonhado.
__Eu vi o jeito que olhou pra ela... Sabe o que acho? Que está apaixonado.
__Ele só a viu uma vez__ Robert resmungou mau humorado.
__Nunca ouviu falar em amor à primeira vista?__ deu de ombros__ isso é normal filho, só tente controlar os seus hormônios ou pode mesmo acabar machucando alguém. Ande, vá botar uma roupa seca.
O pai saiu de vista pra trocar de roupa e Robert ficou olhando o irmão de forma irritada.
__Apaixonado?__ ele parecia conter a raiva.
__Eu sei lá, nunca senti isso antes__ Joseph disse sem jeito enquanto tirava a camisa molhada__ foi tão estranho quando olhei pra ela, já se sentiu assim antes Robert?
Mas ele não respondeu, apenas deu as costas ao irmão e saiu da sala. Demi ficou parada ali observando, suspirou sem querer quando olhou pro corpo molhado de Joseph sem camisa, o peitoral definido, perfeitamente musculoso, como uma espécie de Deus grego, ou algo do tipo. Ele era tão lindo.
__Você está bem?__ ele se virou quando ouviu a voz doce de Esmeralda.
__Oh sim__ ele gaguejou mas depois se recompôs__ e você como está?
__Estou bem, na verdade foi bem engraçado__ ela deu uma risadinha e sem querer seus olhos pararam no peito descoberto de Joseph, ela corou e desviou os olhos.
Os pais de Esmeralda apareceram então, a chamando pra ir embora pois tinham outro compromisso.
__Hum, foi uma prazer conhecê-la Esmeralda__ Joseph sorriu pra ela.
__Igualmente. Espero vê-lo outra vez.
E assim ela se afastou, despediu-se de todos e Joseph observou encantado enquanto ela ia embora. Não sabia se era verdade pois nunca sentira tal coisa antes, mas talvez o pai estivesse certo, talvez ele estivesse mesmo apaixonado, amor a primeira a vista ele dissera. De uma forma ou de outra, ele estava obviamente ansioso para vê-la outra vez, e o sentimento era mútuo.


Mais uma vez tudo a sua volta girou e depois ficou escuro, logo em seguida Demi sentiu caindo até que estivesse de volta ao seu quarto, sobre a sua cama macia, o diário jogado sobre ela, mas dessa vez ela não se levantou. Ficou deitada encarando o teto e sorrindo para o nada, sem conseguir tirar aquelas lembranças da cabeça. Joseph era tão lindo, tinha um sorriso tão encantador e uma vida interessante, bem mais do que a dela é claro. Mas do que nunca ela desejou poder vê-lo pessoalmente, conversar com ele cara a cara, poder tocá-lo, pra de alguma forma saber que alguém tão incrível era real.
Mas infelizmente isso não aconteceria, ele estava preso dentro daquele diário e ela não poderia fazer nada pra mudar isso.

Fim do Capítulo

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domingo, 25 de março de 2012

Chapter Three e Chapter Four


Demi estava deitada em sua cama passando as músicas do seu ipod, já havia escutado todas pelo menos duas vezes e agora estava entediada. Sim, fazia uma semana do seu aniversário e ela já fizera de tudo que havia pra se fazer naquela bendita cidade, e agora não sobrara mais nada. Selena estava ocupada com os estudos e o namorado, suas tias lhe davam o máximo de atenção que podiam, mas elas não eram adolescentes e não sabiam se divertir, na verdade a cada dia que Demi passava ali as achava ainda mais estranhas.
Demi desligou o ipod irritada, ia dar mais uma volta por ai pra ver se tinha sorte de achar algo pra fazer, mas quando foi levantar da cama acabou tropeçando e pisando em alguma coisa que estava jogada no chão entre a cama e a mesinha de cabeceira. Olhando com atenção Demi viu que era uma caixa de presente, a caixa que aquela tal de Nicole havia lhe dado. Demi havia largado o presente de qualquer jeito no quarto aquele dia e deve ter ido parar embaixo da cama de modo que ela não pode ver e acabou se esquecendo completamente dele.
Demi pos a caixa sobre a escrivaninha e sentou na cadeira, desfez o laço curiosa pra saber o que tinha lá dentro, de repente seria algo que a ajudasse á passar o tempo, mas não tinha grandes esperanças, e com razão. Quando terminou de abrir a caixa encontrou dentro um livro... Não, não era um livro, ela percebeu, era um diário e nem parecia novo, tinha uma aparência um tanto desgastada e antiga, que tipo de presente era esse?
__Essa obsessão maluca dessas pessoas com diários__ Demi resmungou pegando o diário em suas mãos e o virando com cuidado pra analisá-lo melhor.
A capa parecia ser de couro, tinha alguns detalhes nas pontas que pareciam ser de ouro, mas provavelmente era falso, inclusive as letras no canto superior, deviam ser iniciais de alguém, e concerteza não eram as dela. JG estava escrito.
__Meu nome é com D, que droga de presente__ bufou o largando sobre a mesa.
Demi bateu um pouco o pé no chão, de braços cruzados e emburrada, até seus olhos pousarem novamente na caixa e ver que havia algo mais lá dentro, era uma pena negra. Demi a segurou entre os dedos, na verdade era uma daquelas canetas de pena, também antiga, porém bonita, ela parecia reluzir quando a luz batia nela. Junto também viera a tinta, aquela tal de Nicole era uma pessoa estranha.
Selena dissera que era como ter um amigo pra desabafar, talvez não fosse assim tão ruim, talvez fosse o que ela estava precisando ali, um amigo pra dividir aqueles segredos que ela não teria coragem de contar a ninguém. Demi abriu com cuidado o diário na primeira página, as folhas estavam levemente amareladas, nem pareciam feitas de papel, mas era como se a convidassem a escrever ali tudo que a atormentava. Ela mergulhou a ponta da caneta na tinta e encarou por um instante a folha pensando em como começar.
__Não é difícil, só escreva o que sente, você pode fazer isso__ ela murmurou pra si mesma.
Uma gota de tinta pingou na primeira página do diário, a tinta brilhou intensamente no papel por um segundo e em seguida, como se estivesse sendo chupada pela página, desapareceu. Demi encarou o diário confusa, virou a página algumas vezes tentando entender o que tinha acontecido, mas foi como se a tinta nunca tivesse tocado o papel, aquilo foi estranho. Demi tornou a molhar a pena e encarou novamente o papel... Escrever “Querido diário” parecia algo estúpido demais, então resolveu começar de forma diferente.
“Meu nome é Demetria”


As palavras brilharam momentaneamente na página e também desapareceram sem deixar vestígios, como se tivessem sido sugadas, Demi encarou o papel confusa, largando a pena sobre a mesa e então algo estranho aconteceu. Filtrando-se de volta a página, com a tinta de Demi, surgiram palavras que ela não escreveu.
“Olá Demetria! Meu nome é Joseph Gilbert. Como você encontrou o meu diário?”

Essas palavras também se dissolveram e foi como se nada nunca tivesse sido escrito, Demi se levantou da cadeira assustada, se afastando do diário, que espécie de brincadeira era aquela? Aquilo não era possível. Demi ficou encarando o diário sobre a mesa sem saber o que fazer... Joseph Gilbert, JG, meu diário. Ela se remexeu inquieta dividida entre a curiosidade e o susto que levara, talvez fosse só uma brincadeira, algum truque daquela tal de Nicole, mas ela precisava entrar no jogo pra descobrir. Demi sentou-se novamente na mesa, pegou a pena percebendo que sua mão tremia e escreveu.
“Eu o ganhei de presente. Quem é você?”


Demi esperou ansiosa por uma resposta, não acreditava que estava realmente “conversando” com o diário, não era isso que tinha imaginado quando Selena falou que o diário seria como um amigo. Aquilo era alguma espécie de tecnologia que ela não conhecia? Ou ela estava ficando louca? Já tinha visto coisas esquisitas na vida, mas aquilo era um pouco demais.
“Joseph Gilbert, um dos três filhos da Família Original.”


Família Original? Demi encarou as palavras até que elas desaparecessem novamente, ela devia estar surtando agora, mas ao invés disso tentou se lembrar de onde já tinha ouvido falar daquilo. Esquecendo por um momento que estava batendo um papo com um caderno velho ela voltou a escrever.

“Família Original? O que é isso?”


Demi percebera que até mesmo borrara a página ao escrever de tão nervosa e ansiosa que se encontrava.
“A Família Original, a primeira família de Bruxos do mundo”


Bruxos, ao ler aquilo à pena caíra novamente da sua mão. Demi empurrou o diário pra longe sentindo seu coração palpitar forte dentro do peito. Bruxos não existiam, essas coisas não eram reais e ela estava ficando completamente louca, era a única explicação, talvez fosse à falta de um sono descente nos últimos meses, sim era isso, ela estava vendo coisas por passar muito tempo sem dormir.
Largando o diário e as coisas sobre a mesa Demi correu pra fora do quarto e desceu as escadas apressada a procura das tias, ficar muito tempo sozinha naquela casa não era uma boa ideia. Demi ouviu vozes vindas da sala, ia chamar o nome das tias, mas ouviu uma voz desconhecida e percebeu que elas não estavam sozinhas. Demi se aproximou silenciosamente e se escondeu atrás do batente pra poder ouvir o que conversavam, a terceira pessoa na sala era um homem estranho, careca, devia ter volta de uns sessenta anos, os três pareciam um pouco nervosos, o assunto devia ser sério.
__Estão cometendo um erro ao esconder a verdade da garota__ o homem disse encarando a lareira que estava apagada__ ainda mais agora, em um momento de crise.
__Amélia não queria que ela soubesse, vou respeitar o desejo de minha irmã__ Olívia disse convicta.
__O que quer dizer com momento de crise?__ Sarah perguntou preocupada__ o que esta havendo?
__O diário desapareceu há cerca de uma semana. Foi roubado e não temos nenhuma evidencia de quem foi.
__Como deixaram algo assim acontecer?__ Sarah se alterou__ pensei que houvesse seguranças de olho, achei que estava enfeitiçado e que ninguém podia tocá-lo Walter, pode me explicar como isso é possível?
__Nenhum bruxo podia tocá-lo__ Demi quase pode sentir o coração lhe rasgando a pele quando ouviu ele pronunciar a palavra bruxo, seus olhos se arregalaram__ nenhum bruxo conhecido tinha poder pra desfazer aquelas proteções, era impossível.
__Então como explica isso?
__Uma bruxa desconhecida foi vista passeando pela cidade nos últimos dias, ninguém sabe quem é, ninguém a conhece e nem a viu depois do ocorrido, mas suspeitamos que possa ter sido ela.
__Não importa, mesmo que essa bruxa tenha roubado o diário ela não pode fazer nada, não pode libertá-los.
__Mas eu sei de alguém que poderia fazer__ ele lançou as duas um olhar sugestivo.
__Ela não sabe de nada__ Olívia tratou de deixar bem claro__ ela não poderia fazer nada disso.
__Ela é a ultima Gilbert de sangue puro viva, ela poderia fazer se quisesse.
A ultima Gilbert de sangue puro, ao que dava pra entender estava falando dela. Demi não tinha outros parentes além das tias e ela era a última descendente direta dos Gilbert, suas tias já haviam comentado isso durante a semana numa conversa que surgira durante o almoço sobre a arvore genealógica da família.
Mas aquilo não podia ser sério, devia ser algum tipo de brincadeira de mau gosto, bruxos... Isso não existia.
__O que você quer Walter? O que está insinuando afinal?
__Fiquem de olho na garota__ ele respondeu simplesmente__ enquanto não encontrarmos o diário de Joseph Gilbert sua sobrinha pode estar em perigo e pode ser um risco pra todos nós.
O homem estalou os dedos e a lareira se ascendeu magicamente, Demi tropeçou caindo sentada no chão com o impacto das ultimas palavras e a cena que presenciara. Ela não pode conter o grito e o barulho da queda, chamando a atenção das tias e do visitante.
__Demi, o que aconteceu?__ Olívia estendeu a mão pra ajudá-la a levantar.
__Eu estava passando... E tropecei__ ela gaguejou nervosa__ eu... Eu sinto muito.
__Tudo bem, tome mais cuidado querida, pode se machucar.
Demi encarou o homem a sua frente, que também não tirava os olhos do rosto dela, sua expressão não era nada amigável e encheu o coração dela de pavor, suas tias pareceram notar o momento de tensão.
__Demi, esse é um velho amigo da família__ Sarah apresentou__ Walter Jenkins.
__Oi__ ela sussurrou.
__Oi__ ele forçou um sorriso, não se dando muito trabalho de disfarçar seu desgosto em vê-la.
__Querida, está tudo bem? Você está tremendo__ Olívia perguntou preocupada com a expressão de pavor que Demi não conseguia esconder por mais que tentasse.
__Eu... Não me sinto muito bem, vou pro meu quarto.
Demi não esperou que dissessem nada, voltou correndo pra seu quarto fechando a porta atrás de si e se escorou na porta, deixando que seu corpo escorregasse até o chão. Respirou fundo tentando controlar os batimentos cardíacos e a falta de ar. Demi sempre soube que tinha algo de estranho em sua família, já presenciara cenas estranhas que não conseguia explicar, vira sua mãe e suas tias cheias de segredinhos, sempre sussurrando pelos cantos e tomando cuidado com o que falavam na frente dela, mas nunca pensara que era isso que elas escondiam.
Quando era pequena suas tias lhe contavam histórias sobre bruxos, lhe contavam aventuras incríveis que deixavam Demi fascinada e ela até mesmo comentara mais de uma vez que adoraria ser uma bruxa também, que seria magnífico ter super poderes, mas suas tias pararam com as histórias quando ela começou a crescer e entender melhor a vida, a pedido de sua mãe é claro, ela nunca entendeu o porquê, mas agora fazia sentido.
__Bruxos__ ela murmurou pra si mesma__ não era esse o tipo de emoção que eu procurava.
Mas enquanto pensava, aquilo respondia e explicava todas as coisas estranhas que ela presenciara durante todos esses anos, e o medo inicial foi sumindo e dando lugar a curiosidade. Demi se levantou do chão e se sentou de novo encarando as páginas em branco do diário sobre a escrivaninha. Depois de pensar por um longo tempo ela molhou a ponta da caneta na tinta e escreveu.
“Então, bruxos realmente existem?”


Ela já sabia a resposta era óbvio, mas ainda precisava que alguém lhe confirmasse, precisa ouvir, ou ver com todas as letras pra só então aceitar aquela loucura toda. Ela esperou impaciente por uma resposta, e com a demora começou a se perguntar se de repente não tinha imaginado tudo aquilo. Mas antes que ela tivesse tempo de ficar novamente nervosa, novas palavras surgiram na página.
“Sim, existem. Você não é uma bruxa?”

A pergunta a pegou um pouco de surpresa, o que ela deveria dizer? Ninguém havia lhe dito diretamente que ela era uma bruxa, mas tudo lhe dava a entender que sim. O pensamento era um pouco perturbador.
“Se eu sou, esqueceram de me contar.
O que faz nesse diário?”


Por um momento Demi teve a dúvida se estava conversando com um diário ou se havia uma pessoa realmente ali, ela não entendia de bruxos nem magia, mas estava sinceramente curiosa pra saber de tudo.
“É uma longa história, e não tem um final feliz. Você não vai querer saber.”


Mas ela queria saber, e agora estava disposta a qualquer coisa pra descobrir toda a verdade que suas tias e sua mãe lhe esconderam por tanto tempo. Demi ouviu passos se aproximando pelo corredor, fechou o diário rapidamente, e o jogou de qualquer jeito dentro da caixa junto com a tinta e a pena, e depois a escondeu atrás da escrivaninha. Um minuto depois sua tia Olívia abriu a porta sem bater e Demi forçou seu melhor sorriso, encarando a tia de olhos arregalados.
__Demi, está tudo bem com você?__ ela perguntou preocupada__ você parece assustada.
__Eu estou bem__ respondeu tentando parecer mais natural__ minha bunda ainda doía pelo tombo que levei, eu sou meio desastrada, não se preocupe.
__Tudo bem então__ sua tia parecia tão desconfortável ao sorrir quanto Demi estava, ambas sabiam que algo estava errado, mas nenhuma se atrevia a falar a verdade__ se precisar de alguma coisa é só chamar.
__Claro tia, obrigada.
Quando sua tia saiu do quarto, Demi pegou novamente a caixa e ficou encarando-a por um bom tempo. Não era o presente de dezoito anos que tinha esperado, mas aparentemente ela tinha encontrado algo pra se ocupar. Ela daria um jeito de arrancar a verdade das tias, de uma forma que não houvesse como elas mentirem novamente, ou ela não se chamava Demetria Gilbert.
Fim do Capítulo

Demi acordara decidida aquele dia, na verdade nem dormira muito bem, passara a maior parte da noite pensando com os olhos grudados naquele diário, tentando processar as loucuras que ouvira e vira, mas naquela dia ela tiraria a prova real, ela faria suas tias confessarem tudo. Ela tratou de esconder bem o diário pra que suas tias não vissem, se vestiu, e desceu para o café da manhã, as duas estava na cozinha conversando normalmente e sorriram quando ela apareceu.
__Bom dia tias__ ela se sentou à mesa com seu melhor sorriso.
__Bom dia princesa, dormiu bem?
__Sim__ mentiu tranquilamente enquanto pensava numa forma de desmascarar as tias.
A oportunidade que ela estava esperando veio um pouco mais tarde. Ela e suas tias estavam juntas na sala, Olívia estava em pé e olhava um enfeite de vidro muito bonito, de uma bailarina que ficava em cima da lareira, ela fazia muito isso, parecia adorar aquele enfeite. Demi se aproximou como quem não quer nada.
__É bonito__ elogiou.
__Ganhei do pai de Selena__ ela comentou sorrindo__ no nosso primeiro ano de namoro.
__E porque guardou?__ ela pareceu confusa.
__Me traz muito boas lembranças, apesar de tudo__ deu de ombros__ e é lindo.
Demi pensou por um minuto, mordeu o lábio indecisa então estendeu a mão pra pegar o enfeite.
__Posso ver mais de perto?__ ela perguntou.
__É muito delicado Demi, não acho que...
Tarde demais, antes que Olívia pudesse pará-la Demi esbarrou de propósito na bailarina de vidro e ela escorregou, caindo no chão antes que pudessem pegá-la e se espatifando em mil pedacinhos.
__Oh Deus, desculpe tia, desculpe__ ela pediu, fizera de propósito, mas realmente se sentia mal por aquilo.
__Minha bailarina__ Olívia disse de olhos arregalados.
__Eu sinto muito, foi sem querer, eu sou muito desastrada, desculpe, por favor__ Demi implorou.
__Tudo bem, ta tudo bem Demi__ tentou acalmá-la__ não tem problema, era só um enfeite bobo.
__Me sinto péssima, desculpe mesmo... Quer ajuda pra limpar?
__Não, eu cuido disso, fica tranquila.
__Ok, eu... Eu vou pro meu quarto.
Demi saiu da sala esperando que seu plano tivesse dado certo, ao invés de subir as escadas em direção ao se quarto, ela se escondeu novamente atrás do batente da porta e ficou olhando pra ver o que a tia faria.
__Oh__ ela gemeu inconformada__ eu adoro essa bailarina.
__Foi um acidente__ Sarah disse despreocupada.
__Ok, Demi não precisa ficar sabendo disso.
__Olívia, o que você...
Sarah não terminou sua frase. Olívia fez um gesto com as mãos e num passe de mágica os pedacinhos de vidro no chão começaram a se juntar sozinhos até que a bailarina estivesse novamente inteira, perfeita e sem nenhum arranhão, e de volta em cima da lareira.
__Você é louca__ Sarah resmungou__ se a Demi vir isso...
__EU SABIA__ Demi saiu de trás de porta e entrou na sala.
__Demi querida, agente pode explicar__ Sarah tentou se justificar.
__Vocês são bruxas?__ Demi perguntou sem rodeios chocando as duas mulheres.
__Parece que ela já sabe__ Olívia fez careta, mordendo o lábio com força.
__De onde tirou isso querida?__ Sarah tentou desmentir__ isso que você viu...
__Para de mentir pra mim, eu já sei de tudo... Ouvi a conversa de vocês com aquele velho esquisito, porque esconderam isso de mim? Acharam que não era importante eu saber que minhas tias são bruxas?
__Sua mãe não queria que você soubesse.
__Então é verdade__ ela fechou os olhos com força um momento__ eu sou uma bruxa também?
As duas mulheres se entreolharam sem saber o que dizer, não esperavam que aquilo acontecesse, pelo menos não daquela forma, se um dia Demi tivesse que descobrir seria numa conversa civilizada.
__Demi querida...
__Não mintam pra mim, eu quero saber, eu quero a verdade.
__É uma longa história.
__Eu tenho tempo__ ela cruzou os braços e as encarou deixando claro que não desistiria.
Bem, já que ela tinha mesmo descoberto, talvez fosse melhor desse jeito. Olívia e Sarah se sentaram no sofá e fizeram um gesto pedindo que Demi fizesse o mesmo, dezoito anos de mentiras descobertas assim em um segundo, elas sempre desconfiaram que esse momento chegaria, Demi era esperta demais e nunca concordaram plenamente com a ideia de Amélia lhe esconder a verdade.
__Demi, a nossa família é uma familia especial__ Sarah começou a falar, procurando as palavras certas__ a família Gilbert vem de uma longa e antiga linhagem de bruxos, nossa família é descendente da primeira família de bruxos que existiu no mundo. A família original, como costumamos chamar.
__Minha mãe e meu pai...
__Descendentes diretos da família original, os dois eram bruxos.
__E porque ninguém nunca me contou isso?__ ela questionou irritada.
__Sua mãe não queria que você fizesse parte desse mundo, ela sempre quis ser apenas normal e esperava que você pudesse ser também, ser um bruxo tem seus perigos querida, é muito complicado.
Demi parou pra considerar aquelas palavras um momento, nesse contexto as atitudes estranhas de sua mãe, seu jeito protetor e as todas as coisas inexplicáveis que ela presenciara faziam todo o sentido. Nunca, em um milhão de anos Demi imaginaria que era uma bruxa, até pensar naquela palavra era ridículo. Então seus pensamentos tomaram outra direção, pensou no diário escondido em seu quarto e nas coisas que ouvira Walter dizer ontem.
__Demi...
__Quem é Joseph Gilbert?__ Demi perguntou encarando a tia Sarah, ela parecia mais disposta a falar.
__Onde ouviu esse nome?__ ela ficou tensa por um momento.
__Walter, o homem que conversava com vocês ontem, falou o nome dele e algo sobre um diário__ enquanto ela não entendia o que estava havendo não havia necessidade de contar as tias que ela tinha o diário.
__Demi, é uma história longa e complicada.
__Eu já disse que tenho tempo e acho que sou perfeitamente capaz de entender... Anda, fala.
__Tudo bem__ Sarah concordou__ há uns quatrocentos anos atrás existia a família original, como eu já disse. A família era composta por três irmãos e suas esposas, naquela época só um deles teve filhos, três filhos pra ser mais precisa, Robert, Joseph e Nicole Gilbert. Eles eram muito poderosos e estavam sendo treinados, aprendendo a usar seus poderes pra se tornarem os mais poderosos do mundo.
__Quando tinha vinte anos, Joseph conheceu uma moça chamada Esmeralda__ Olívia continuou__ só que ela não era uma bruxa, era uma mortal, e havia apenas uma regra que devia ser seguida naquela época, era extremamente proibido contar sobre a existência dos bruxos a qualquer mortal, era pra proteção de todos, as pessoas não levavam isso na boa, elas tinham medo. Mas Joseph estava perdidamente apaixonado por Esmeralda e acabou contando seu segredo a ela.
__Ela o entregou?__ Demi supôs fascinada, começando a se envolver na história.
__Não, ela também o amava e o aceitou como era__ Sarah disse__ o problema foi outro. Joseph estava tão cego de amor que não percebeu que seu irmão mais velho Robert também era apaixonado por Esmeralda. Ele guardou isso pra si por um bom tempo, até mesmo acobertou os segredos do irmão, mas Robert era imprudente e ganancioso, ele queria sempre mais.
__Uma noite Robert convidou o irmão Joseph para cavalgar__ Olívia prosseguiu__ foi uma armadilha. Robert estava obcecado e queria tudo que o irmão tinha. Ele ia roubar os poderes de Joseph e depois matá-lo, assim ele poderia ficar Esmeralda, e quando não houvesse ninguém pra o impedir, ele roubaria os poderes de todos os bruxos existentes, assim ele seria o único e mais poderoso.
__E o que aconteceu?__ ela questionou inquieta.
__Joseph era esperto, ele carregava sempre consigo o seu diário, todo bruxo ganha o seu ao completar dezoito anos, é uma tradição, você coloca nele todas as suas memórias, e seus feitiços, é seu melhor amigo. Joseph fez um feitiço aquela noite, aprisionando a si mesmo e o irmão dentro de seu diário pra impedir que Robert completasse seu plano e destruísse o mundo da magia.
__Ele aprisionou a si mesmo no diário?__ ela disse chocada, então realmente havia uma pessoa ali, ela conversava realmente com Joseph Gilbert, não era um truque ou um feitiço idiota.
__Pra proteger a todos os outros, se não fosse por ele não estaríamos aqui hoje Demi__ Sarah explicou__ precisa entender uma coisa, o diário de Joseph Gilbert desapareceu, é isso que Walter veio nos contar ontem. Há quatrocentos anos esse diário é passado de mão em mão e é protegido, pra que não caia em mãos erradas, aquele diário é perigoso, se alguém libertar Robert, estaremos perdidos.
Roubado, então a mulher que lhe dera o diário o havia roubado? Porque ela faria algo assim?
__Não é possível libertar apenas um deles? Libertar apenas Joseph?
__Não, se você libertar Joseph você liberta também Robert e visse versa. Nenhum dos dois pode sair daquele diário, nunca, é estritamente perigoso e proibido. E já que estamos acabando com segredos, você precisa saber do perigo que corre Demi.
__Perigo? Eu?
__Entenda querida, você é a ultima Gilbert de sangue puro viva__ Olívia explicou calmamente__ você é filha de dois Gilberts, não tem sangue mortal, nem de alguma outra família de bruxos, tem sangue puro, como chamamos, e um bruxo de sangue puro, descendente de um Gilbert é muito poderoso, mais que qualquer outro. O diário foi roubado, mas só alguém como você poderia libertá-los.
__Por isso estamos preocupados, se alguém estranho te procurar, se você tiver noticias ou souber qualquer coisa desse diário você precisa nos avisar imediatamente está entendendo?
Demi congelou por um segundo enquanto absorvia tudo aquilo, ao que deu pra entender aquela mulher roubara o diário e lhe dera na esperança de que ela libertasse os dois bruxos presos lá dentro. Talvez aquela mulher voltasse, talvez resolvesse ameaçá-la ou algo assim, Demi sabia que deveria naquele momento contar as tias que estava com o diário, mas não conseguiu. Ela não queria entregar o diário, não queria o devolver, queria pegá-lo e conversar um pouco mais com Joseph, descobrir mais coisas sobre ele, estava dividida entre a preocupação e a curiosidade.
__Você entendeu Demi?__ Sarah insistiu, olhando pra Demi de um jeito estranho.
__Se você souber alguma coisa sobre esse diário__ Olívia disse séria__ você precisa nos contar imediatamente.
__Não sei de nada__ mentiu já se sentindo culpada.
__Demi...
__Eu entendo ta bom?__ ela se levantou irritada__ eu entendi tudo, mas não sei de nada. Eu... Eu preciso ficar sozinha pra entender toda esse loucura está bem? Eu só preciso de um tempo.
Demi saiu correndo dali antes que suas tias tivessem tempo de dizer mais alguma coisa, ou perceber que ela tinha algo a esconder. Correu direto pro seu quarto e trancou a porta, indo se jogar na cama, estava surpresa consigo mesmo ao perceber que não estava com medo de toda aquela loucura de bruxaria, só se encontrava ansiosa e extremamente curiosa pra saber ainda mais. Ela queria saber mais sobre o bruxo preso dentro daquele diário que por obra do destino tinha ido parar em suas mãos.
Demi pegou o diário em seu esconderijo e o abriu sobre a cama, segurando a caneta de pena entre os dedos, demorou um longo minuto até que ela resolvesse escrever. Talvez Joseph respondesse as perguntas que ela tinha e não podia fazer as tias, não custava tentar.
“Minhas tias me contaram sua longa história, é bem impressionante, e ao que parece eu sou uma bruxa”.


Demi esperou impaciente enquanto as palavras que ela escrever desapareciam, sugadas pelo papel e outras apareciam no lugar, mas ela sorriu quando sua resposta chegou, mas empolgada com a situação do que deveria.

“Eu te disse que minha história não tinha um final feliz”.


Ser traído pelo próprio irmão não deveria ser algo fácil de conviver, ainda mais com as consequências dessa traição. Demi se sentia um pouco traída naquele momento, afinal toda sua vida fora uma grande mentira, todos em quem ela confiava lhe enganaram, lhe esconderam sua verdadeira natureza.
“Deve odiar o seu irmão pelo que ele lhe fez, nem imagino como deve ser tamanha traição”.


Demi no fundo esperava que ele dissesse que odiava o irmão e que nunca o perdoaria, estava à procura de um bom motivo pra sentir raiva das mentiras que lhe contaram, mas o engraçado era que quanto mais ela tentava sentir raiva, menos conseguia se importar. Ela acabara de descobrir algo magnífico, algo com o que sonhou tantas vezes quando era menina, descobriu uma nova razão pra seguir em frente, algo em que manter o foco pra não ter que apenas sentar e se lamentar por suas tragédias.
“Não o odeio. É verdade que talvez nunca o perdoe pelo que fez, mas ainda assim é meu irmão. Robert estava perdido, confuso, é fácil deixar que o poder cegue você”.
“Está preso ai dentro há anos por culpa dele. Não tem vontade de sair? De viver?
Ao que pude entender, ele é o único que te impede de ser liberto”.

“Já me conformei com a ideia de que nunca sairei daqui, isso já não me incomoda há um bom tempo”.


Mas incomodava Demi, ela gostaria de poder vê-lo, não conseguia conter a estranha curiosidade sobre aquele bruxo que crescia dentro de si. Não imaginava como seria uma pessoa capaz de sacrificar sua vida e tudo que tinha pra salvar um monte de pessoas que nem ao menos conhecia.
Antes que ela pudesse pensar em algo pra dizer novas palavras surgiram na página em branco.
“Porque nunca lhe contaram que você era uma bruxa?”

“Minha mãe era super protetora, queria que eu estivesse segura e que fosse normal”.
“Você não me parece incomodada nem assustada por saber que é uma bruxa. Já conheci outras pessoas que também não sabiam de sua verdadeira natureza e que quando descobriram quase enlouqueceram. As pessoas têm medo daquilo que não conhecem nem podem explicar”.

“Eu nunca fui uma garota muito normal apesar dos esforços de minha mãe. Eu não estou com medo, apenas curiosa, eu quero saber mais sobre esse mundo, quero saber mais sobre você”.

“Diga o que quer saber, eu responderei se puder”.


Demi sorriu, no fim das contas parecia que ela tinha arrumado um amigo. Ela sabia que suas tias não lhe contariam tudo que ela desejava saber, só o que achavam que era necessário, ela podia ver nos olhos delas. Então ela daria o seu jeito de aprender tudo sozinha, e tomaria cuidado pra que ninguém descobrisse que ela estava com aquele diário. Aquele seria o seu segredo.
Fim do Capítulo 
 
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