Capitulo 31 e Capitulo 32 e Capitulo 33 e Epílogo

Uma Estranha Sensação.

Reino de Severac

Demetria estava em seu quarto, olhando pela janela, quando ouviu uma leve batida na porta.
__Pode entrar__ disse sem se virar para olhar quem era.
Ouviu o barulho da porta se abrindo, e também passos suaves, mas estranhou quando não se anunciaram e então teve de se virar para ver quem era. Havia um homem ali, devia ser um dos soldados do pai, ela não tinha certeza, muitos dos homens que trabalhavam para ele agora ela não conhecia. Aqueles soldados que a viram crescer, que haviam ajudado o pai a cuidar dela, agora estavam na maioria mortos, como Henrie e Charlie.
__Posso ajudá-lo em alguma coisa?__ perguntou.
__A senhorita Paola pediu que eu viesse até aqui chamá-la__ ele disse.

__Porque ela mesma não veio até mim?__ estranhou, Paola não era de fazer cerimônias.
__Eu não sei princesa, ela apenas pediu que eu viesse até aqui buscá-la.
Demetria encarou o homem por um longo minuto sem dizer nada, apenas observando. Tinha alguma coisa errada, podia ser apenas paranóia dela, mas não gostou do jeito dele, o olhar, a postura e aquela história de Paola tê-la mandado chamar. Ele deu um passo à frente, sorrindo gentilmente, o coração de Demetria disparou.
__Porque a senhorita não me acompanha? Eu a levarei até lá.
__Claro__ ela concordou__ dê-me apenas um minuto.
Ela deu as costas a ele calmamente, tentando não parecer alterada, não conseguia se livrar daquela sensação ruim. Abriu a gaveta do móvel no canto perto da janela, tirando uma pequena faca de dentro e o escondendo na manga do vestido.

__Onde Paola está?__ ela perguntou enquanto fechava a gaveta.
__Nos aposentos dela princesa.
__Está na Torre?
__Sim.
__Engraçado__ Demetria comentou__ porque o quarto dele fica bem aqui praticamente ao lado do meu.
Ela se virou rapidamente, puxando a faca da manga, pronta para atacá-lo, mas quando o fez, ele já estava bem ali em cima e segurou sua mão antes que tivesse a chance de acertá-lo. Demetria tentou se soltar, mas ele torceu o seu braço e ela gemeu de dor.
__Você não trabalha para o meu pai não é mesmo?
__Lamento, mas não__ o homem sorriu__ Princesa.

A Primeira Morte

Joseph atravessou o portão de entrada de Severac a toda velocidade, saltou do cavalo antes mesmo que ele parasse e puxou o punhal do cinto, o mantendo seguro na mão. Tudo parecia absolutamente normal, não havia sangue, gritos ou medo, as pessoas seguiam com suas vidas tranquilamente, não dando sinal algum de algo estava errado, exceto que... Não havia nenhum guarda visível em nenhum lugar, o que não era um bom sinal.
Joseph correu pelos corredores do Palácio, incapaz de se controlar, viu pessoas o olhando como se fosse louco, mas não se importou com isso. Correu até o quarto de Demetria e abriu a porta com um empurrão sem pedir licença. Parou no meio do quarto, de olhos arregalados ao ver o corpo inerte no chão, coberto de sangue.
__O que...

__Ele ia me matar__ Joseph ergueu os olhos do corpo e finalmente percebeu Demetria ali em pé, escorada na parede mas distante do quarto. Segurava uma faca com força em uma das mãos e estava toda suja de sangue__ ia me matar.
Joseph correu até ela e tomou o seu rosto entre as mãos.
__Você está bem?__ ele perguntou aflito__ ele te machucou?
__Não__ ela negou com os olhos cheios de lágrimas__ eu o matei... Eu o matei.
Demetria nunca tinha tirado uma vida antes, mal conseguia machucar uma pessoa. Mas agora tinha matado aquele homem, era sua primeira morte e sentia-se terrível estranha. Por mais que ele fosse mal, matar alguém era a coisa mais difícil que já fizera em toda sua vida.
__Eu o matei__ repetiu.
__Está tudo bem Demetria__ Joseph disse__ olhe pra mim.
Ela ergueu os olhos para fitar os dele.
__Ele merecia morrer, você não fez nada errado.
__Eu me sinto...
__Eu sei__ ele acariciou gentilmente o rosto dela__ a primeira vez é sempre difícil.
__Isso passa?__ ela perguntou.

__Você é uma princesa, não uma assassina, mas vai superar.
Para ele fora difícil à primeira vez que tirara uma vida, ainda se lembrava daquele dia, o homem caído no chão nem ao menos podia se defender, mas ele fora obrigado a matá-lo. Fora a coisa mais terrível que já fizera na vida, mas depois foi ficando mais fácil, simples como caminhar, ou falar, era parte dele, era quem ele era.
__Quem era ele?__ Demetria perguntou.
Foi ai que Joseph se lembrou do que o trouxera até ali. Ele a soltou e se afastou um pouco.
__Você vai ficar dentro desse quarto e não vai abrir a porta para ninguém está ouvindo? Não importa quem venha.
__O que está acontecendo Joseph? Porque você voltou? Onde está meu pai?
__Seu pai está bem, eu prometo que explico tudo depois, só confie em... Fique aqui e não saia até que eu volte, tudo bem?
__Tudo bem__ ela concordou.
Joseph lhe roubou um rápido beijo e saiu do quarto, Demetria trancou a porta logo em seguida como ele ordenou e ficou sozinha no quarto, com o corpo do homem que tinha matado.

Hora da Verdade

Ao sair do quarto de Demetria, Joseph foi imediatamente em direção a sala do Trono. Não viu guardas em lugar nenhum no Palácio, e não havia ninguém para abrir a porta para ele quando chegou, teve medo de atravessar a porta mas o fez mesmo assim. Tivera muitas emoções inexplicáveis desde que encontrara Demetria, mas nada do que passou ao lado dela, tanto os momentos bons como os ruins o fizeram sentir-se como naquele momento.
Klaus estava ali, em pé em frente ao Trono, todo brilhante com sua coroa e sua armadura de ouro reluzente e a espada. Tinha um sorriso satisfeito no rosto, estava se sentindo claramente o homem mais esperto do planeta, mas Joseph quase não o percebeu, seu olhar estava fixo um pouco mais abaixo. No chão, havia uma garota, estava meio sentada meio deitada, Klaus a segurava pelos cabelos negros e ela gemia tentando se soltar.

__Macayla?__ Joseph não sabia de onde tinha vindo sua voz, mas conseguiu sussurrar o nome. Ela ergueu os olhos ao som do chamado, seus brilhantes olhos azuis se encontraram com os dele, eram tão parecidos, como se enxergasse sua alma num espelho.
__Joseph__ ela sussurrou de volta, se esticou na direção dele, mas Klaus a segurou, apertando mais os seus cabelos.
__Veja que bonito este reencontro__ ele provocou, mas Joseph não estava ouvindo o que ele dizia, seus olhos estavam fixos no rosto dela. Mesmo naquela situação era a coisa mais bonita que já vira em tanto tempo, ela estava ali, estava viva. Tinha crescido tanto, quando ele a deixaria era só uma garotinha assustada, estava aos prantos e com medo, agora era mulher, uma mulher linda e ainda parecia tanto com ele. Os cabelos negros, os olhos, a pele e... A força.
__Você veio me salvar__ ela murmurou sorrindo, os olhos estavam vermelhos, mas não derramara uma única lágrima.

__Vai acabar logo, eu prometo.
__Chega com isso__ Klaus revirou os olhos__ você a queria, aqui está ela.
__Eu vou matar você, sabe disso não sabe? Vai pagar pelo que fez.
__Não tenho medo de você Joseph, eu criei você, você é o que é hoje graças à mim__ ele disse__ se não fosse por mim você seria apenas um homenzinho covarde que não serve para nada, ou estaria morto em alguma vala por ai, você me deve a sua vida.
__Eu sou o que sou, graças ao meu pai que era um grande homem, ele me ensinou a ser forte, a não desistir__ puxou a espada e a apontou para Klaus__ a você... A você eu só devo uma única coisa... A sua morte, e vou pagar minha divida hoje.
Klaus soltou Macayla, empurrando-a para longe.
__O meu maior erro foi tê-lo deixado viver__ Klaus murmurou puxando sua espada__ vou concertar isso hoje.

Fim do Capítulo

Eu Nunca Duvidei.

Reino de Severac

Caída no chão, Macayla observou com seus brilhantes olhos azuis enquanto Klaus e Joseph se preparavam para lutar. Klaus com sua armadura de ouro reluzente, a espada com o cabo cravejado de jóias e a capa dourada, enquanto Joseph estava todo de preto, a única cor nele era dos olhos azuis... Sombra contra Luz.
Dezoito anos haviam se passado desde que o vira pela última vez, era apenas um garotinho assustado, quase tanto quanto ela, mas agora era diferente, ele estava diferente. Ainda reconhecia seu irmão naquele homem, a incrível beleza, os cabelos negros, a pele morena e os traços fortes do rosto. Mas o garotinho assustado tinha desaparecido, agora era um homem forte e feroz, com sede de vingança refletida nos olhos.

Macayla ouvira histórias sobre o cavaleiro das sombras, não houvera ninguém que lhe dissesse quem ele realmente era, mas de algum jeito sempre soube que era Joseph. Ela podia senti-lo, todos os dias, era parte dela, desde pequenos eram como um só e mesmo com a distancia e o tempo aquilo não mudara. Podia sentir a sede de sangue dele, e também desejava ver Klaus sangrar até a morte por toda dor que causou. Queria vê-lo queimar no inferno.
Klaus tinha sua espada em uma mão e a outra cerrada em punho, era corajoso por se arriscar a lutar com Joseph, cavaleiros muito melhores que ele haviam tentado matá-lo e todos estavam mortos agora. Mas mesmo assim ele investiu contra Joseph com sua espada, um golpe atrás do outro, com toda sua força e velocidade, mas cada golpe era facilmente defendido e logo quem estava atacando era Joseph, nunca estivera tão motivado para uma luta antes como naquele momento, nunca quis tanto o sangue de alguém na vida e nada o impediria de conseguir o que queria.

Abaixada no chão, Macayla tremia a cada som de aço contra aço, mas Joseph estava com a vantagem. Num momento de descuido, acertou uma pancada no rosto dele com o cabo da espada e o Rei despencou no chão levemente atordoado, sua espada escapou e escorregou pelo chão do salão até os pés do Trono, bem perto de onde Macayla estava sentada.
__Nunca devia ter mexido comigo__ Joseph disse enquanto caminhava até Klaus.
Segurou a espada com as duas mãos e estava pronto para dar o golpe final, quando Klaus abriu a mão que estava fechada em punho e jogou algo na direção de Joseph. O pó atingiu-lhe no rosto e adentrou seus olhos, sua visão se embaçou e ele perdeu o equilíbrio e a força do golpe e caiu ajoelhado no chão. Seus olhos arderam, como se estivessem queimando e logo não conseguia enxergar nada, estava sozinho no escuro.
__O que acha disso Joseph?__ Klaus perguntou__ divertido não?
__O que você fez comigo?__ ele perguntou momentaneamente assustado.

__Só uma coisa para equilibrar o jogo__ Klaus riu e pegou a sua espada que tinha caído no chão__ nunca prometi que jogaria limpo. Vamos cavaleiro das sombras, onde está toda sua coragem agora? É só isso que pode fazer? Um pozinho nos olhos e você desiste? Vai passar vergonha na frente da sua irmãzinha__ provocou.
Klaus acertou uma pancada no rosto de Joseph, e afastou-se rapidamente antes que ele pudesse revidar, rindo. Repetiu o ato mais algumas vezes, totalmente divertido ao ver Joseph indefeso no chão.
__Desgraçado__ Joseph tateou as cegas no chão e agarrou novamente a espada, se pondo de pé.
__Eu mesmo arranquei a cabeça da sua mãezinha fora, assim como cortei o dedo da sua irmãzinha e fodi várias vezes sua preciosa princesa e agora... Agora eu vou ser aquele que cortará fora a cabeça do tão temido cavaleiro das sombras, veja que lindo, todos me amarão e me temerão.

Joseph apertou com força o cabo da espada e respirou fundo, sabia que o efeito da cegueira era temporário, conhecia aquele truque, mas duraria o tempo necessário para que Klaus o abatesse se ele se deixasse desesperar. Mas não havia motivo para temer, ele era o cavaleiro das sombras, passara a maior parte de sua vida no escuro e não era a primeira vez que se privava da visão. Fechou os olhos, deixou-se levar um momento para o tempo em que ainda era apenas um garotinho e treinava com seu pai, quando andava por Correntio de olhos vendados, tropeçando nas pessoas e nas coisas.
Fingiu estar confuso, cambaleou até se encostar em uma das enormes pilastras e estendeu a mão para sentir o ferro frio que suspendia a tocha usada para iluminar o recinto. Sorriu.
__Do que está rindo?__ Klaus perguntou se aproximando dele cautelosamente.
Macayla observou em silencio enquanto ele erguia a espada e se preparava para dar o golpe final, quase gritou para Joseph para que ele tomasse cuidado, mas algo no seu sorriso e a expressão serena que mantinha no rosto a fez perceber que ele não precisava de ajuda, ele estava perfeitamente bem.

__Não vai dizer nada Joseph?__ Klaus perguntou.
__Espero que queime no inferno.
E num movimento tão rápido, que Klaus não teve tempo de pensar direito, puxou a tocha acesa do apoio e a acertou em cheio bem no rosto de Klaus. O Rei de Murdor gritou enquanto sentia o lado direito de seu rosto queimar e cambaleou para trás, mas não antes de Joseph acertar a tocha de novo, dessa vez bem em cima do olho, o deixando cego de um lado.
Seguindo o som dos gritos, Joseph caminhou até ele e o agarrou pela frente da capa, o puxando para perto.
__Eu sou o cavaleiro das sombras__ sussurrou em tom sombrio__ não tenho medo do escuro.
Preparou a espada para dar o golpe final, mas mesmo com a dor Klaus se defendeu, acertando um soco no rosto de Joseph e aproveitando o segundo de confusão para se soltar, desprendendo a capa dourada e se afastando. Joseph soltou o manto no chão e abriu os olhos, a visão já começava a voltar, mas tudo estava embaçado, só conseguia ver formas confusas, mas era o bastante para perceber o que Klaus fez.

Correu até Macayla, que estivera acorrentada todo o tempo ao lado do Trono e por isso não podia fugir e a pegou, puxando seu corpo contra o dele e pondo uma faca em seu pescoço. A moça se encolheu, o cheiro de carne queimada era sufocante e ele estava horrível.
__Solte a espada ou eu a mato__ Klaus avisou.
__Não Joseph__ Macayla gritou__ mate-o.
__Cale a boca vadia__ e deu um tapa no rosto dela.
Joseph parou por um momento e ficou imóvel, sua visão embaçada e confusa. Respirou fundo mais uma vez e largou a espada no chão., o som do aço contra o piso fazendo um barulho extramente alto no silencio.
__Dizem que irmãos gêmeos sentem tudo que o outro sente__ Klaus disse sorrindo__ você sentiu quando eu arranquei o dedo dela Joseph? Quando eu cortar a garganta dela, acha que vai sentir enquanto ela se engasga com o próprio sangue?

Distraído com seu discurso e sua dor, Klaus não viu que Joseph ainda tinha no cinto o punhal com cabo de ouro e rubis que tinha roubado de Demetria no que parecia ter sido um século atrás. Apertou-o com força entre os dedos, e imaginou-a sorrindo para si, você pode fazer isso, ela dizia, é o cavaleiro das sombras... Ninguém pode vencer o cavaleiro das sombras.
Não pensou duas vezes, mesmo com a visão embaçada jogou o punhal com toda sua força. Mais uma vez Klaus não conseguiu acompanhar o movimento e não teve tempo de desviar, a lâmina passou direto pela sua armadura e adentrou o ombro bem perto do pescoço, ele cambaleou para trás levemente, mas só caiu quando Macayla lhe deu uma cotovelada no rosto queimado. Ele caiu no chão, gritando de dor, tentou pegar de novo a espada que tinha caído, entrando em desespero. Sorriu quando sentiu o cabo do objeto entre os dedos, levantou, com a visão turva pela dor, e então sentiu algo... Uma dor aguda no estômago.

Sua visão entrou em foco, avistou Joseph a sua frente com a espada na mão. Seguiu a lâmina com os olhos e franziu o cenho ao ver que ela estava manchada de sangue. Demorou um minuto para que percebesse que o sangue era seu. A lâmina de Joseph tinha lhe atravessado à barriga, tentou agarrar a lâmina e puxá-la, tirá-la de si, mas os dedos estavam escorregadios, e quando tentou falar só o que saiu de sua boca foi sangue.
__Como... Como você...
__Eu sou o cavaleiro das sombras__ Joseph sussurrou__ e minha dívida está paga.
Puxou a espada com toda força, sem nenhum cuidado e o corpo de Klaus, o Rei de Murdor, caiu no chão sem vida.
Largou a espada suja de sangue no chão e olhou para o lado, onde Macayla ainda estava presa, observando tudo em silencio. Lembrava-se que ela estava lá quando ele matara a primeira pessoa, ela o olhara tão assustada, como se tivesse medo dele, mas agora não havia medo, ela estava... Aliviada.

Joseph caminhou até ela cambaleando, ajoelhou-se no chão a sua frente e no momento em que olhou para ela sua visão voltou ao normal. Fitou-a deslumbrado, tão linda e cheia de vida e sorriu.
__Você veio me salvar__ ela sussurrou deixando finalmente as lágrimas escaparem.
__Eu prometi que a salvaria__ ele disse__ você lembra?
__Eu nunca duvidei__ ela garantiu.
Ele finalmente a abraçou, se desfazendo em lágrimas de alegria e alivio ao tê-la nos braços.
__Eu sinto muito, sinto muito ter demorado tanto, a mamãe...
__Shh__ ela pediu__ está tudo bem... Está tudo bem.
__Eu te amo, desculpe por tudo, eu sinto muito.
__Eu também te amo__ ela acariciou os cabelos dele__ estamos bem agora, acabou... Acabou.
A porta do salão se abriu, soldados entraram correndo prontos para lutar, mas não havia mas nada a fazer, o Rei de murdor estava morto. Robert passou pelo meio da multidão de homens, sujo, machucado e cansado, mas sorriu ao ver que tinha acabado.

Enfim Paz.

Reino de Severac

Paola, Vitória e Peter haviam sido trancados em uma das celas de Severac pelos soldados de Murdor. Não sabiam quanto tempo tinham ficado lá, não tinham noção do tempo, nem do que estava acontecendo lá fora. Já estavam perdendo as esperanças quando ouviram um barulho na escada que levava até as celas. Se prepararam para o pior, mas quem apareceu foi Harry, agitado, coberto de sangue, mas com um enorme sorriso no rosto, mesmo naquele estado era a coisa mais bonita que Vitória já vira.
__Harry, o que aconteceu?__ Paola perguntou.
Ele destrancou a cela antes de responder.
__Acabou, a guerra acabou, nós vencemos... Klaus está morto.
__O que?
Não deu tempo para perguntas, agarrou Vitória e a beijou-a longamente, depois a girando no ar e fazendo todos rirem de alegria.

Demetria ainda estava trancada no quarto com o corpo do soldado que matara quando arrombaram a porta, tomou um grande susto e puxou a faca pronta para atacar quem quer que fosse, mas suspirou de alivio ao ver que era apenas o pai e seus homens, correu para ele e se jogou em seus braços, aliviada por ele estar bem.
__O que aconteceu? A guerra...
__Acabou__ Robert disse sorrindo__ a guerra acabou querida.
__Nós vencemos?
__Klaus está morto__ ele garantiu.
__E Joseph?__ questionou preocupada.
__Está bem, ele e a irmã estão bem.
__Graças a Deus__ suspirou de alívio.
Quase não pode acreditar que tinha mesmo acabado, que Klaus estava mesmo morto... Parecia um sonho.
__Enfim temos paz.

Fim do Capítulo

Eu Aceito.

Reino de Severac

Demetria olhava distraidamente pela janela, olhando para a cidade lá fora. Desde que a guerra acabara tudo estava calmo, os moradores voltavam lentamente as suas rotinas, algumas pessoas de outras cidades vieram para se instalar em Severac e ajudar na reconstrução da cidade, inclusive cidadãos de Murdor, que nunca gostaram nem concordaram com as atitudes de Klaus. Algumas outras que haviam fugido no dia na invasão também retornaram. Aos poucos as coisas iam voltando ao normal.
Por um momento Demetria custou a acreditar que tudo tinha realmente acabado, seu coração só se aquietou quando viu o corpo de Klaus sendo levado da sala do Trono. Depois desse dia as coisas ficaram agitadas, todos estavam ocupados se recuperando da guerra, reconstruindo a cidade, descansando e cuidando de ferimentos. A cidade estava um caos, mas era uma coisa boa, a confusão, a alegria, as ruas cheias de vida novamente, até houvera uma festa para toda cidade comemorar a vitória.

Paola, Vitória, Harry e o pequeno Peter estavam lá, todos felizes e bem, mas não vira Joseph e a irmã em lugar nenhum. Sabia que eles tinham muito que conversar e que queriam apenas a companhia um do outro naquele momento, para compartilhar a alegria da vitória e também a perda da mãe, mas estava sentindo falta de Joseph, queria que ele estivesse do seu lado.
Foi só depois de uma longa e interminável semana que ele veio bater em sua porta.
__Oi__ ele disse sorrindo, e tinha algo diferente naquele sorriso... Ele estava diferente. Parecia mais tranquilo, mais leve, a pele ainda tinha alguns cortes, mas estavam sumindo, o cabelo estava maior e os olhos tinham um brilho especial, pareciam mais azuis do que nunca. Estava vestido todo de preto e ela ficou feliz em ver que isso não mudara... Nunca o vira mais lindo.
__Oi__ respondeu também sorrindo__ como você está?
__Acho que nunca estive melhor__ ele disse__ desculpe não ter aparecido antes, eu...
__Tudo bem, eu entendo__ Demetria garantiu__ o importante é que tudo está bem agora.

__Bem, tem uma pessoa que eu quero que você conheça.
Joseph foi até a porta e Demetria o ouviu chamar alguém, fitou-o curiosa até que voltou de mãos dadas com uma linda jovem. Não foi preciso que ele dissesse nada para que Demetria soubesse quem ela era, a semelhança era inegável.
__Macayla, essa é a princesa Demetria__ ele disse__ Demetria, essa é minha irmã gêmea, Macayla.
__É um prazer conhecê-la__ Macayla disse__ meu irmão me falou muito de você essa semana.
__Ele também me falou muito de você, fico feliz que esteja bem e salva.
__É, graças ao Joseph.
Macayla era linda, longos cabelos negros e lisos, pele morena e olhos brilhantes e bem azuis. E um lindo sorriso.
__Uau, vocês dois são realmente parecidos__ ela disse impressionada.
__Sempre fomos assim, quando éramos pequenos nossos pais não conseguiam nos distinguir, uma vez passamos um dia inteiro com as roupas um do outro e eles não notaram a diferença.
__Deve ter sido engraçado.

Joseph sorriu enquanto ouvia as duas conversarem, parecia uma espécie de sonho, ainda tinha medo de acordar.
__E você é ainda mais bonita do que ele disse__ Macayla elogiou.
__É gentileza sua.
__Eu queria agradecê-la__ Macayla segurou a mãos de Demetria__ por ajudar meu irmão, e apoiá-lo. Ele me contou o que lhe fizeram e mesmo assim não desistiu dele, obrigado.
__Não precisa me agradecer.
__Sim, eu preciso__ e a abraçou.
Demetria retribuiu o abraço de bom grado, comovida com o momento. Depois de um momento Macayla de afastou.
__Bem, vou deixar vocês a sós, vou descansar um pouco.
__Ok, foi um prazer conhecê-la.
Então Macayla se retirou, uma princesa em seu belo vestido azul, combinando com os olhos.

__Ela é adorável__ Demetria disse assim que ela se retirou.
__Não mais que você.
Demetria sorriu quando seus olhos se encontraram, seu coração disparou enquanto ele a fitava e só ai percebeu quanto falta à presença dele havia lhe feito àquela semana. Ele a segurou pela cintura e puxou-a gentilmente para si, a abraçando por um momento antes de beijá-la. Quando seus lábios se encontraram foi como sempre, o resto do mundo desapareceu e só havia os dois ali, o calor um do outro, as línguas brincando uma com a outra, tudo pareceu tão melhor sem medo.
__Senti sua falta__ ele sussurrou__ desculpe não ter aparecido antes, precisava de um tempo.
__Eu sei__ ela garantiu acariciando o rosto dele__ como foi que tudo isso aconteceu?

Joseph contou tudo a ela, desde a guerra, quando encontrou Hugo e descobriu que Klaus não estava lá, como correu até Severac com medo de que lhe tivessem feito algum mal, como foi à luta com o Rei de Murdor, até o ultimo segundo, quando o matou e depois como foi bom, quando abraçou a irmã pela primeira vez depois de dezoito anos. Demetria ouviu tudo em silencio e gostou principalmente da parte em que ele machucara Klaus, a morte não era o suficiente para ele, mas estava feliz porque não iria mais incomodá-los, ele agora teria o que merecia no inferno.
__E agora?__ Demetria perguntou__ Vai finalmente voltar a Correntio?
__Sim__ ele concordou__ há muita coisa a fazer, a cidade está sem um governante desde que meu pai morreu, tudo por lá está confuso e vai demorar para pôr tudo no lugar, mas estou confiante, não vejo a hora de voltar para casa, minha verdadeira casa.
__Você será um ótimo Rei.
__Eu? Um Rei?__ ele fez careta__ não estou acostumado com isso, sempre segui ordens, vai ser estranho.
__Você vai se sair muito bem, tenho certeza__ Demetria sorriu__ quando vai... Quando vai partir?

__Vamos ficar mais alguns dias, tenho coisas a resolver ainda. Macayla ainda não está 100% para uma viagem assim, e eu também preciso de um descanso, afinal quando chegar lá não terei muito tempo, vou precisar tratar da reconstrução da cidade, da minha coroação, que seu pai se ofereceu para ajudar.
__Vai dar tudo certo Joseph.
__Bem, tem mais uma coisa que preciso fazer antes de partir.
__É? O que?
__Bem... Todo Rei precisa de uma rainha__ ele disse__ eu já falei com o seu pai e ele concordou, mas é você que importa.
__O que está querendo dizer?
__Estou tentando perguntar se quer casar comigo e ser minha Rainha__ Joseph sorriu de lado__ todo Rei precisa de uma Rainha, e eu só preciso de você.
Demetria o olhou completamente surpresa.
__Eu sei que não sou nenhum príncipe, como Alex era__ ele começou a dizer, ficando nervoso__ e que você não quer abandonar seu pai, mas Correntio não é tão longe de Severac e acho que seriamos muito felizes juntos, você me faz muito feliz Demetria, eu quero começar uma nova vida, mas não quero fazer isso sem você... Eu preciso de você...

__Eu aceito__ ela o interrompeu.
__O que disse?
__Eu aceito ser sua rainha__ ela repetiu sorridente__ não me importa que não seja um príncipe, gosto de você do jeito que é, e não me importo de deixar Severac, ia acontecer um dia, vou sentir saudade, mas vou superar e eu quero te ajudar a recomeçar, quero estar junto com você, eu... Eu te amo e também preciso de você.
Joseph abriu um enorme sorriso enquanto fitava o rosto da mulher mais bonita que já vira na vida.
__Eu também te amo, e prometo que a farei a mulher mais feliz do mundo. Vamos esquecer juntos o passado.
__Sim, meu cavaleiro.
__Minha princesa.
Então se beijaram novamente e ficaram assim pelo resto do dia, aproveitando a paz e a companhia um do outro, tendo a certeza de que o que os aguardava no futuro era só felicidade. As dores ficariam para trás, e eles teriam finalmente o seu final feliz.

Fim do Capítulo

Rei e Rainha.

Reino de Correntio

De cima do altar Demetria podia ver tudo com clareza. A decoração do salão, os convidados conversando animadamente, crianças brincando e rindo, e o sorriso das pessoas que amava. Seu pai, Paola, o pequeno Peter, Harry e Vitória, e agora o pequeno bebê que havia nascido, a pequena Marisa, em homenagem a mãe de Joseph que se fora, e também Macayla. Tudo estava tão lindo e perfeito, especialmente Joseph, nunca vira nada tão lindo em toda sua vida, nada se comprava a visão de Joseph vestido como um Rei.
A coroação de Joseph como Rei acontecera um mês atrás, ele tivera medo que não desse certo, que as pessoas não o aceitassem, mas estava errado, o povo ficou feliz com a volta dele para casa e com as mudanças que ele fizera, estava se saindo um ótimo Rei, e aquele dia estava especialmente deslumbrante.

Sua roupa era toda branca, um contraste interessante com o usual preto que ele costumava sempre usar, mas ele ficava ainda mais lindo assim. A capa que caia por suas costas era de veludo vermelho e tinha uma linda coroa de ouro, cravejada com rubis e esmeraldas sob os cabelos negros.
Ele estava combinando com ela, o vestido de Demetria era de veludo vermelho, tomara que caia, por cima se sobrepunha um outro, branco de renda, bem delicado, com mangas compridas e fitas que a atavam bem na frente. Tinha mandado fazer especialmente para aquele dia, para o seu casamento. Agora, mesmo estando ali em pé ao lado dele, não parecia real, ainda achava que estava sonhando e acordaria a qualquer momento.
Mas ele segurou suas mãos, olhou em seus olhos e disse às palavras que consagravam aquele momento e ela fizera o mesmo. Agora, estavam na sala do Trono de Correntio, lado a lado, olhando para todo o povo que viera os prestigiar. Ouviu a voz forte de seu pai ressoar por todo salão, fazendo com que todos se calassem.

__Eu vos apresento, Joseph Adam Jonas, filho de Paul Jonas II, herdeiro das terras do sul, Cavaleiro das sombras e Rei de Correntio__ sua voz ecoou por todo salão__ e sua Rainha, Demetria Devonne lovato, Filha de Robert Lovato, herdeira das terras do norte, Princesa de Severac... Rainha de Correntio.
Houve uma explosão de comemorações e aplausos, Demetria tinha o coração disparado no peito, então sentiu um leve aperto em sua mão. Olhou para o lado e viu Joseph a observando, sorriram um para o outro com cumplicidade, então ele a puxou para um beijo enquanto todos comemoravam, e ela soube que era realmente real.
__Eu amo você minha Rainha__ ele sussurrou sorrindo.
__E eu amo você__ ela deu um sorriso sapeca__ meu cavaleiro.
Rei ou não, ele seria sempre seu cavaleiro, seu príncipe encantado, seu amor... O Eterno Cavaleiro das Sombras.

                 Fim

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